A assim chamada ‘oposição’ de direita ao atual executivo liderado por Fernando Medina estava mortinha por arranjar um motivo que a devolvesse à vida. E estava literalmente mortinha. Morta, fará em 2017 dez anos, desde a primeira eleição de António Costa para Presidente da Câmara de Lisboa.

Quem se tenha ocupado a observar a vida política da cidade nos últimos anos terá notado que não é por acaso que nem o PSD nem o CDS consigam arranjar um candidato natural à Câmara se, do corpo de vereadores eleitos, nenhum se destacou de modo a aparecer como alternativa credível e válida. As Assembleias Municipais, essas, são assustadoras, se no final de uma sessão comum ainda existirem deputados de direita sentados.

Ansiosos, nervosos, gesticulares, aparecem agora os velhos corvos da desgraça a anunciar o terramoto e o fim do mundo por causa da justa paragem das obras na 2ª circular. Os esclarecimentos estão dados e bem dados. Insistir no eleitoralismo da paragem das obras como se insistiu no eleitoralismo da obra é autodenúncia de demagogia e falta de escrúpulos. Em Lisboa, a desgraça e o fim do mundo aparecem sempre que se levanta o pavimento para o reparar. Para a direita lisboeta as obras só são boas se facilitarem o uso do carro próprio malgrado o benefício do peão, diria o líder da assim chamada ‘oposição’ da direita, Carlos Barbosa, presidente do ACP. Lisboa também é famosa pela ação nefasta dos seus Padres Malagridas, já para não esquecer a figura bem mais arcaica mas patriarcal dos conservadores, o Velho do Restelo.

E os lisboetas que viviam sempre cansados, fustigados, deprimidos e confusos com as obras de António Costa e que depois lhe deram a última maioria absoluta? Os elementos de catástrofe são, de facto, uma constante no debate em torno da cidade, mas fazem lembrar as notícias a propósito da morte de Mark Twain, que foram desmentidas pelo próprio por serem ‘manifestamente exageradas’. E mentir mil vezes não muda a realidade: em Lisboa vive-se melhor hoje do que há três, cinco, sete ou dez anos atrás.

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A este propósito, Maria João Marques, escreveu um texto de ‘autoajuda’ no Observador de dia 7. É mesmo de autoajuda, só que é apenas de autoajuda, já que é tão faccioso que não pode valer a mais ninguém. Tirando, talvez, ao Partido Nacional Renovador, cujo presidente, José Pinto Coelho, elogiou já rasgadamente a autora, por considerar que “há gente esclarecida que diz com igual coragem o que diz o PNR”. Não sei se coragem é a palavra certa, mas sei de uma coisa: enquanto o PSD e o CDS esgravatam nomes à procura de um candidato que os tire do marasmo politico em que estes partidos vivem em Lisboa, Maria João que avance para Lisboa, já tem um partido de direita que a apoia e, como se sabe, candeia que vai à frente alumia sempre duas vezes.

Quanto ao mais, parafrasear Alexandre O’Neill a partir do seu poema Daqui desta Lisboa: “Daqui, só paciência, amigos meus! / Tomem lá este texto e vão com Deus!”.

José Borges é presidente da JS/Lisboa