Talvez lhe apeteça, de vez em quando, juntar-se a uma conversa algures na internet. Afinal, a net é a grande ferramenta democrática, que nos permite a todos dizermos as nossas verdades. O problema é que é bem capaz de se sentir intimidado, porque as caixas de comentários estão a rebentar de pessoas cheias de ódio. Não se deixe intimidar. São apenas trolls.

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A trollologia é um dos meus hobbies. É como coleccionar selos ou borboletas.

Não é um hobby muito cansativo, já que a única coisa que preciso de fazer é sentar-me em frente do computador e esperar. Cada vez que passo pela net, lá estão eles. Tenho sempre comigo uma rede de apanhar borboletas, e cada vez que encontro uma nova espécie de troll, apanho-o e prego-o na minha caixa de trolls, como se faz às borboletas.

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No início, quando a net ainda era um lugar escuro e reservado para “cromos”, sem imagens ou outras cores que não preto, branco, verde e laranja, com pixéis enormes — nesses tempos primitivos, um troll era apenas uma espécie de espírito travesso. Aparecia no meio de uma conversa para descarrilar essa conversa, só para se divertir. Ao princípio, concordava com um dos lados do debate, como se quisesse participar a sério na discussão. Passado algum tempo, começava o seu jogo. Com subtis mudanças de argumento, ou uma inesperada e horrenda opinião, ou um insulto gigantesco, conseguia rapidamente fazer a conversa descer até ao caos, dividindo amigos e magoando sensibilidades. Depois de causados os danos, o troll voltava à segurança da escuridão, por baixo da sua ponte, ou seja, ao seu quarto, a rir-se como um demónio. Era só um jogo e o troll tinha jeito para esse jogo.

Tal como a internet, o termo “troll” tem evoluído. Agora que até as avós têm facebook e a maior parte dos sites dispõe de uma caixa de comentários, há cada vez mais reacções e comentários na net — e algumas dessas reacções e comentários são produzidos pelos trolls modernos. O novo troll não é uma pessoa que apenas discorda de outras pessoas. Afinal, uma discussão é, ou devia ser, uma das boas razões para a existência da net. Não: o troll moderno é um troll zangado e circunstancial, uma criatura que quer calar os que discordam dele, usando para isso insultos, expressões de ódio e, por vezes, ameaças. Muitas vezes, recorre a disparates sem fundamento e a mentiras. Esta nova definição de troll irrita solenemente os trolls puros “old school”, mas paciência: as palavras evoluem.

O troll zangado aparece em muitas formas. Pode ser homem ou mulher, uma pessoa com muitos gatos e que nunca sai de casa, ou alguém que sorri todo o dia enquanto trabalha ao seu lado no escritório. Provêm de todas as áreas, mas partilham um traço: a convicção de que, sem qualquer dúvida, têm razão, toda a razão (um troll “old school” não tinha crenças nenhumas, limitava-se a dizer o que sabia ir provocar más reacções).

O novo troll pode ser xenófobo ou anti-racista, sexista ou ultra-feminista, da direita ou da esquerda, ecologista fanático ou céptico das mudanças climáticas, carnívoro ou vegan, ateu ou religioso, um cavalheiro Jedi ou um iconoclasta, mas é em geral desprovido de sentido de humor e ressentido com tudo e com todos. Alguns deles apercebem-se de que são trolls, mas a trolleria é um vírus cheio de mutações e muitos trolls modernos não sabem que são portadores da doença.

O troll pensa que está cá para brincar e para ser esperto, fazendo descarrilar a comunicação na net com a sua raiva. Não compreende que é totalmente transparente, e que se está a zangar pelas razões mais fúteis. Gritar numa almofada seria mais útil para a sociedade. Para o trollologista, é muito divertido ver o troll em acção. Podemos imaginar o pequeno troll sentado em frente do seu computador, a bater nas teclas, com o rosto todo vermelho e as veias a rebentar, muito convencido de que vai capturar todas as atenções, fazer as pessoas reagir com raiva igual à dele ou com lágrimas e, espera ele, obrigá-las a calar-se.  Às vezes, claro, provoca a reacção esperada, mas raramente tem calado pessoas durante mais de uns dias.

Quando as ameaças de violência chegam à caixa de correio, a trollologia deixa de ser tão divertida, mas se nos lembrarmos que vêm de trollzinhos com rostos vermelhos e que não têm coragem para mostrar a cara e pôr o nome, nem capacidade para avançar um argumento verdadeiro, podemos deixar as ameaças ir logo para o caixote de lixo.

Muitas pessoas queixam-se do troll moderno. Acreditam que seria preferível que as caixas de comentários fossem desligadas, ou moderadas com muita severidade. Parece-me que não têm razão, e que é melhor deixar os trolls à vontade. Desde que nós, os trolls de outra espécie, saibamos o que estamos a fazer, deixemos os trolls modernos esgotarem-se por si. Precisamos só de os privar das reacções que eles tanto desejam, e continuar com o nosso próprio jogo.

O mostruário dos trolls que já apanhei ao longo dos anos está, como seria de esperar, online.

(traduzido do original inglês pela autora)

 

A History of Trolls

Do you ever feel like joining in a discussion on the internet? It’s the great democratic tool, after all, there for all of us to speak our own truths. The problem is that you may well feel intimidated from contributing to many conversations because of hate filled people in the comment box. Don’t let them intimidate you. They are merely trolls.

My hobby is “trollology”. It’s a bit like collecting stamps or butterflies.

It’s not a very tiring hobby, since all I have to do is sit in front of my computer screen and wait. Wherever I go on the internet, they are there. I have my butterfly net at the ready and each time I find a new species, I bag it, and pin it to my troll board.

In the beginning, when the internet was still a dark, nerdy place, that had no pictures or colours other than black, white, green and orange, painted in enormous pixels, a troll was a creature whose goal was pure mischief. It would pop up in the middle of a conversation to derail that conversation, just for fun. It would join in, seeming at first to be agreeing with one side or another and then it would begin its game. This might be by subtly changing its argument and confusing everyone, or it might be by throwing a huge conversational spanner into the works, a massive insult or horrific opinion. It wouldn’t take long for the discussion to descend into pure havoc, hurt feelings and friend pitted against friend. The troll, having done its damage, could then retreat back under its dark little bridge, otherwise known as his bedroom, and giggle helplessly and demonically. It was just a game and the troll was rather good at it.

Along with the internet, though, the term “troll” has evolved. Now that everyone’s granny has a facebook account and most websites have a comment box, there’s a whole lot more “reacting to the internet” going on and some of that reacting is done vociferously by the modern troll. Now, a troll is not someone who just disagrees with other people. After all, a healthy argument is what the internet is, or should be, all about. No, the modern troll is an incidental angry troll, and it is a creature that wants to shut up the people with whom it disagrees, using insults, hate and sometimes threat. Quite often it also resorts to utterly baseless gibberish and lies. This new definition of troll drives old-school troll purists crazy, but hey, that’s etymology for you.

The angry incidental troll comes in many forms. It might be a man or a woman, a quiet person with cats who never leaves the house, or someone who smiles sweetly all day at their desk. They come from all walks of life, but all of them share one trait: an unquestioning, angry belief that they are right (a purist old-school troll has no beliefs of its own, will write whatever it takes to get a bad reaction).

The incidental troll may be a racist, a sexist, an ultra-feminist, a xenophobe, a right-winger, a left-winger, a climate change denier, a green fanatic, a carnivore, a vegan, an anti-religionist, a pro-religionist, a Jedi knight or an anti-everything, humourless and resentful of everyone and everything in the world. Some of them know they are trolls, but the disease of trollery has mutated and many modern trolls are unaware that they are carriers.

The troll thinks it is out to play and to be clever, trying to derail others with its rage, but is unaware of its utter transparency, and that it is being angry in probably the most futile way imaginable. Screaming into a pillow would probably be more useful to society. For the trollologist, it can be very entertaining to watch, knowing that the little troll is sitting at its computer, bashing at keys, with its little red face all full of bursting blood vessels, thinking it’s going to grab people’s attention, make them react with equal rage or tears and, it hopes, to stop them talking.  Sometimes, of course, it does stir up a reaction but the angry troll has very, very rarely shut anyone up for more than a couple of days.

When the threats of violence arrive, that’s not so much fun, but considering they come from teensy little red faced troll people who don’t have the balls to come out be rude with a real name or a real argument, then they can generally be tossed in the trash without opening.

Many people rail against the modern, incidental, angry troll. They think it would be better if comment boxes were turned off, or heavily moderated. I think no, the best thing to do is let them carry on. As long as we, the trolls of a different kind, know what they’re about, let’s allow them to them fizzle themselves out. We just need to starve them of the angry reaction they desire and carry on blithely with our own fun.

My troll cabinet (http://trollologist.com) is, naturally, online.