Já não é possível disfarçar: a imigração tornou-se a principal questão política na Europa ocidental e também nos Estados Unidos. Pode decidir o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, a escolha de Donald Trump como candidato republicano, ou a eleição de Marine Le Pen no ano que vem. Para já, na Alemanha, levou ao pódio o partido Alternativa para a Alemanha. A história é significativa. O Alternativa tinha sido fundado por alguns economistas revoltados com o Euro. Não foi longe. Entretanto, a liderança passou para uma jovem, Frauke Petry, que trocou o Euro pela imigração, e avançou com esta proposta: pôr a polícia na fronteira a disparar contra os migrantes. Resultado: o partido já está representado em três parlamentos regionais.

Em público, Angela Merkel não se arrepende do apelo com que no Verão passado incitou milhares de pessoas a entrar ilegalmente na Europa. Mas desde então, que ela e os seus comparsas europeus inventam “soluções”. Ao princípio, vieram com a ideia de que a massa humana, repartida por todos os países, não faria diferença a ninguém. Mas a repartição foi logo recusada por alguns Estados, e sobretudo pelos próprios migrantes, que obviamente não pagaram aos traficantes e arriscaram a vida no Egeu para virem para Portugal. Entretanto, todos os Estados foram fechando as fronteiras, de modo a fazer dos migrantes um problema dos vizinhos. A Grécia, que é a principal entrada, encheu-se. Nos últimos dias, o engenho europeu congeminou mais uma “solução”: as fronteiras europeias seriam abertas, honrando Schengen, mas a Turquia fecharia as dela, de modo a diminuir o número de pessoas disponíveis para testar o famoso humanitarismo europeu.

Nos EUA e na Europa, as oligarquias políticas explicam que a imigração é, no fundo, um problema das plebes: é o povinho que não gosta de estrangeiros e vota em Petry ou em Trump. Sim, há xenofobia e populismo. Mas há também muita hipocrisia oligárquica — a suficiente para demasiados eleitores se sentirem enganados. Anunciam-lhes refugiados, e recebem migrantes económicos (que, naturalmente, preferem a Alemanha à Turquia). Mostram-lhes mulheres e crianças na televisão, mas nas ruas das cidades cruzam-se sobretudo com magotes de homens. Prometem-lhes que os migrantes vão ser “integrados”, e depois há os guetos e o islamismo. O efeito desta dissonância é que cada abuso numa rua de Colónia ou cada terrorista originário de Molenbeek vale milhares de votos a Petry ou a Le Pen.

A confusão não está apenas em baixo, mas em cima. Os líderes europeus proclamam que vão receber os “refugiados”, e deportar os “migrantes económicos”. Quando o que a Europa precisa é de acolher legalmente quem vem para trabalhar e pode encontrar emprego, e de proporcionar aos refugiados a segurança e o conforto necessários para que permaneçam nos seus países ou em países próximos. A UE não pode existir como um oásis de paz e de prosperidade num mundo abandonado à guerra e à pobreza. A segurança da Europa começa na Síria, e a sua prosperidade na Líbia. Por isso, a UE deve ajudar e intervir. Mas os governantes europeus, depois dos sarilhos de Bush, convenceram-se de que compromissos externos só servem para perder eleições. Fabricaram até a tese de que a força aérea não tem impacto militar — apenas para verem Putin provar o contrário num par de meses.

Há dias, Obama lamentava, a propósito da Líbia, ter confiado demasiado nos líderes europeus. Durante anos, apresentaram-nos a UE como um factor de estabilidade. A mistura de inacção cínica e de demagogia humanitarista neste caso dos “refugiados” está a fazer da UE um factor de instabilidade.

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