Este é o meu mote actual para controlar esta pandemia: nunca desperdiçar uma oportunidade para vacinar; nunca desperdiçar uma oportunidade para testar; nunca estragar uma dose de vacina.
Como seria de esperar, a partir do momento em que os Estados Unidos da América (EUA) mudaram de administração, as coisas começaram a entrar aos poucos dentro da normalidade. A normalidade assume que um país com os recursos económicos e científicos que os EUA têm a seu dispor imponha um controlo da pandemia mais assertivo – assente em questões técnicas e científicas e não em meros devaneios políticos apoiados em estrambólicas teorias da conspiração. No momento em que escrevo, 54% do total da população adulta dos EUA tem, pelo menos, uma dose de vacina (contra a doença Covid-19) tomada. Os EUA estão a vacinar cerca de 3 milhões de pessoas por dia – o que significa 1% do total da população por dia. Mantendo este ritmo diário de vacinação, em meados de Julho, 90% da população dos EUA estará vacinada. O desafio será manter este ritmo constante, até se chegar ao número necessário para se obter a imunidade de grupo.
Infelizmente, na Europa e em Portugal o ritmo de vacinação tem sido até ao momento lento, o que preocupa em termos de perspectivas de controlo da pandemia e, muito provavelmente, vai levar a uma maior fadiga da população em continuar a aderir às necessárias medidas de mitigação para conter as infecções.
A juntar a tudo isto, têm existido situações dignas de uma novela das 9 à volta das diferentes vacinas disponíveis e aprovadas em Portugal. Resultado: existe hesitação em estar disponível para a vacinação. Neste ponto, tem existido uma comunicação muito deficiente por parte de todos os responsáveis. Todos, incluindo Direcção Geral de Saúde, Infarmed, Governo, União Europeia e até mesmo a Agência Europeia do Medicamento (EMA). As vacinas são seguras – todas, incluindo as vacinas da AstraZeneca/Oxford e da Johnson & Johnson’s /Janssen. Estas vacinas, todas, foram rigorosamente testadas e mais de 350 milhões de vacinas foram já dadas a pessoas na Europa e EUA. Os casos graves que existiram são eventos muito raros mesmo, mas convém deixar bem claro que um só caso documentado de morte associada com a vacinação é justificação para se fazer uma pausa técnica, dando tempo para se estudar toda a informação disponível. Estas pausas técnicas são a prova de que o sistema funciona e que a segurança das vacinas está a ser rigorosamente analisada e verificada de forma quase diária. Contudo, convém dosear bem a explicação, o tempo da pausa e continuando a passar uma mensagem forte e positiva de confiança no sistema e na opinião técnica e científica que está disponível no regulador do medicamento.
Outro dos problemas é o facto de ser mais rápida a notícia que causa o medo e a desconfiança do que os inúmeros dados positivos que já existem em redor do poder real destas vacinas para nos tirar desta situação de pandemia Covid-19. Isto tem um custo e, neste caso, o custo envolve hospitalizações e, infelizmente, até mortes. Nesse sentido, deixo aqui o meu contributo para injectar confiança e esperança sobre as vacinas:
- As vacinas aprovadas são extremamente eficazes contra todas as variantes do vírus conhecidas até ao momento;
- Os únicos resultados conhecidos até ao momento de ensaios clínicos com a vacinação em crianças (dos 12-16 anos de idade) são extremamente positivos, aliás, melhores ainda do que os resultados obtidos com os adultos para a mesma vacina. Não deve tardar muito e vão existir vacinas aprovadas para as crianças;
- Israel conseguiu controlar o vírus a valores residuais, de uma forma incrível, com “apenas” 57% da população vacinada (primeira dose);
- Ao contrário das visões mais conservadoras e negativas, tudo leva a crer que, muito provavelmente, a imunidade conferida pelas vacinas aprovadas deve ser superior a 8/9 anos.
Termino como comecei: nunca desperdiçar uma oportunidade para vacinar; nunca desperdiçar uma oportunidade para testar; nunca estragar uma dose de vacina.