Nos primeiros dias de quarentena depois de levar os meus filhos a casa após o jantar habitual dei por mim a refletir o quanto era triste a rua sem pessoas. Faz-nos falta o habitual reboliço e agitação de pessoas quer seja à noite quer seja de dia.

O que se diz da democracia digo do nosso modo de viver: pode não ser perfeito mas para mim é o melhor.

Vivemos numa sociedade capitalista ou liberal ou consumista, o que quer que lhe queiram chamar, quando esse modo de vida nos falta constatamos o quão importante é e como o subvalorizamos habitualmente.

Agora até se diz que este vírus não é democrata porque há segmentos da população que sofrem mais do que outros como se as crises passadas também não tivessem criado desigualdades começando pela nossa  última crise de assistência financeira em que houve claramente desigualdade entre os funcionários públicos que não perderam emprego e os funcionários das organizações privadas que encheram as estatísticas do desemprego.

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Com este estado de emergência e consequente confinamento caseiro, segui uma dica de fazer umas viagens virtuais por alguns museus importantes ou mais conhecidos do mundo (os museus são todos importantes).

Dei por mim a contemplar O GRITO que é uma série de 4 pinturas de Edvard Munch, um pintor norueguês que nos deixou uma das obras mais importantes do movimento expressionista e que retrata uma figura andrógina num momento de angústia e desespero existencial (sic de Wikipedia).

Quando contemplava o quadro veio-me à cabeça a frase viral sobre a pandemia: “Vai ficar tudo bem”. Vai ficar tudo bem? Não só não vai ficar tudo bem como não está tudo bem pois o que assistimos todos os dias nos media contraria a ideia do “vai ficar tudo bem”.

Milhares de mortos e as suas famílias sem poderem despedir-se dos seus entes queridos condignamente, milhares de desempregados, milhares de empresas falidas, milhares de pessoas idosas sem poderem abraçar ou beijar os filhos ou netos, quem sabe alguns não vão ter mais oportunidades para isso.

Não vai ficar tudo bem nem vai ficar tudo na mesma porque “a vida é uma sequência de encontros com o inédito” como disse Espinoza.

Sempre houve roturas nas civilizações que as fizeram adaptar-se, inovar e criar novos procedimentos como forma de avançar e de se prepararem para novas roturas que inevitavelmente aparecerão.

Por falar em roturas é no mínimo estranho ver um Papa, que tem feito roturas na igreja católica, sozinho na praça S. Pedro como que esperando pelo Messias que irá trazer a cura para esta pandemia.

Nesta época religiosa em que os crentes deveriam estar mais perto dos anjos estamos todos mais perto de Munch, ou seja, mais angustiados e à espera de um novo normal.