Quando visita uma farmácia, provavelmente, a primeira coisa em que pensa é que aquele profissional sorridente e de bata branca é um farmacêutico. Afinal, faz sentido pensar assim: se quando marca uma consulta médica é atendido por um médico, quando vai a uma farmácia é suposto ser atendido por um farmacêutico.

Mas a verdade, é que numa farmácia existem muito mais do que farmacêuticos a dispensar medicamentos e nem sempre é fácil para o utente distinguir os diferentes profissionais. A melhor forma de ter a certeza que é atendido por um farmacêutico é pedir, inequivocamente, a presença de um.

Além dos farmacêuticos existem técnicos de farmácia, que o podem ser por registo de prática, ou através de licenciatura, e técnicos auxiliares de farmácia (TAF), trabalhando, muitas vezes, lado a lado e executando as mesmas funções, o que nos leva a pensar que todos detêm as mesmas competências.

Se olharmos para a farmácia não como um espaço de saúde, mas como um supermercado onde se vendem medicamentos e em que o mais importante é picar caixinhas a um ritmo alucinante para despachar clientes e ter mais dinheiro em caixa, então sim, qualquer um que trabalhe na farmácia é farinha do mesmo saco. Na realidade, para fazer este tipo de trabalho não é preciso nem farmacêuticos, nem técnicos de farmácia, nem TAF – virtualmente, qualquer pessoa consegue aprender o abecedário e até isso já nem é preciso, tendo em conta a existência de robots em algumas farmácias que enviam as caixas, quase directamente, para o bolso do utente.

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Agora, se quisermos colocar a farmácia no centro do Sistema de Saúde – e não como um satélite, daqueles perdidos entre um mar de meteoritos – e usar a sua ampla distribuição geográfica em prol da Saúde Pública, então a diferenciação com base na categoria profissional já faz toda a diferença.

A formação base e a obrigatoriedade de formação contínua, o espírito crítico e a capacidade de analisar e interpretar dados, entre outras competências, colocam, inequivocamente, o farmacêutico como Especialista do Medicamento e da Terapêutica Farmacológica e seria de esperar que toda e qualquer prescrição médica fosse validada por um farmacêutico, como acontece em países como a Irlanda, a Inglaterra ou a Noruega.

Dispensar medicamentos, por mais que se tente banalizar esta prática, é um acto de alto risco, porque uma dosagem errada, uma incompatibilidade entre dois medicamentos, ou mesmo uma incompreensão por parte do utente em como usar certo fármaco, podem gerar consequências graves a nível da saúde, além do inerente impacto económico.

A validação farmacêutica permite identificar interacções medicamentosas, algumas potencialmente graves, detectar erros de prescrição (apesar dos profissionais de saúde serem verdadeiros super-heróis também são humanos e os erros acontecem, sendo fundamental criar um sistema de verificação que coloque a saúde e o bem-estar do utente em primeiro lugar, em vez de egos que acreditam ser infalíveis), diminuir duplicações de fármacos muitas vezes causadas pela iliteracia para a saúde do utente e aumentar a adesão à terapêutica através da minimização de possíveis efeitos secundários e da educação para a importância da sua toma. Tudo isto se traduz em ganhos para a saúde pública e numa poupança extraordinária para o Estado nos gastos em saúde.

Não se compreende como é que algo, que é tanto um dever como um direito dos farmacêuticos, continue a ser-lhes negado. Como é que temos um profissional de saúde extremamente qualificado, mas completamente esquecido e desaproveitado pelo Estado. Como é que existem pessoas todos os dias a entrar nas farmácias, que dependendo do profissional que lhes calha em sorte, ou compram “caixinhas” com medicamentos, ou trocam receitas por um serviço de excelência.

A validação farmacêutica não é um capricho dos farmacêuticos.  É uma questão de saúde pública e é pela Saúde Pública que os farmacêuticos continuarão a trabalhar e a lutar na linha da frente, todos os dias.