Há uns anos estive na ilha do Pico e deparei-me com um local lindíssimo, fantástico, mas pobre. Nas Lajes do Pico, onde fiquei a maior parte do tempo, uma localidade virada para o sul, de costas para o arquipélago e à qual se chega após uma viagem de avião, travessia do canal por barco e um percurso de meia-hora de automóvel, vi uma população que, tirando o parco turismo, trabalhava para o município. A câmara municipal e demais organismos públicos eram os maiores empregadores da zona. A taxa de suicídio era elevada e o tráfico de droga proliferava.

Por ser a cidade da família da minha mulher conheço Évora relativamente bem. Quem tenha a oportunidade de atravessar a cidade que fica entre as muralhas e faça por observar o que vê, facilmente se apercebe dos inúmeros edifícios ocupados por entidades públicas. Tirando algum comércio que se aguenta, a cidade dentro das muralhas encontra-se ocupada por organismos estatais. Porque o município de Évora é dos mais endividados do país, a taxa de IMI é também das mais elevadas. Não obstante, em 2019, a Câmara Municipal decidiu subir o orçamento pela primeira vez em sete anos porque a expectativa para 2020 era elevada. Com tanto investimento e endividamento público, a vitalidade económica é escassa e, de acordo com os dados preliminares do Censos 2021, a cidade de Évora terá perdido cerca de 5% da sua população nos últimos dez anos.

Esses mesmos dados revelados pelo INE dizem-nos que Portugal perdeu mais de 200 mil habitantes. É um fenómeno que sucede pela primeira vez desde os anos 60 quando muitos jovens fugiam da pobreza e da guerra no Ultramar. Aliás, os números da emigração actual são equivalentes aos dessa época. Após o desastre que foram os governos de José Sócrates, e que obrigaram às medidas de contenção da troika, Portugal continua a não ter uma política orçamental rigorosa que incentive o investimento e que conduza a um crescimento económico verdadeiramente sustentável.

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