Nos últimos meses tenho referido imensas vezes o risco que iríamos correr com diversas atitudes que fomos tomando, tanto por parte das entidades sanitárias, como  por parte da população. O sucesso só se consegue com o cumprimento de regras, que devem ser divulgadas com coragem, convicção e certezas. Caso contrário, só se criará instabilidade emocional nas pessoas.

Não temos dúvidas que quem governa o país e decide do nosso destino, bem ou mal, são os nossos políticos. O próprio senhor Presidente de República, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, fez questão de nos lembrar disso mesmo. Os técnicos de saúde podem opinar, mas a palavra final será sempre de quem manda. Por este motivo, é importante que os políticos decidam baseados em factos científicos óbvios. Daí, a importância dos técnicos que habitualmente fazem parte do núcleo duro apresentarem propostas concretas aos elementos do Governo, passarem as mensagens de forma simples e não dúbia aos políticos que tomam as decisões. Os políticos não são técnicos de saúde. Os técnicos não são políticos. Os técnicos são profissionais qualificados com provas dadas. Têm a obrigação moral de entregar aos políticos, de mão beijada, as melhores soluções para a saúde pública em tempo de pandemia. Os políticos não estudaram Medicina, Saúde Pública, Virologia ou Epidemiologia.

Estudaram política!

Infelizmente, a sensação que tenho depois de tantos avisos dados nos últimos meses sobre a Covid-19, é que os tais políticos que têm a palavra final estão a tomar decisões precipitadas, erradas e, mais uma vez, correndo atrás do prejuízo. A vacina não é, por si só, suficiente para controlar a pandemia. E Portugal não tem a cobertura vacinal desejada para a população. Como tal, o risco mantém-se e é elevado.

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Falei da variante indiana e da forma de a controlar e evitar a sua entrada no país. Valeu de alguma coisa? Neste momento ela é predominante em mais de 60% dos novos casos e em breve será a variante predominante em Portugal de Norte a Sul do país.

Referi a importância de colocar os cidadãos britânicos e indianos em quarentena obrigatória à chegada a Portugal. O que vimos? Uma invasão de Britânicos sem terem necessidade de cumprir quarentena. Até fomos promotores da final da Liga dos Campeões entre precisamente duas equipas inglesas, recebendo milhares adeptos de ambos os clubes. E ao Algarve e à região de Lisboa e Vale do Tejo continuavam a chegar diariamente milhares de britânicos.

Quando Merkel criticou Portugal por ter deixado entrar cidadãos britânicos, teve a razão do seu lado – contra factos não há argumentos.

Portugal apenas colocou pessoas vindas do Nepal em quarentena, quando, o que deveria ter feito era colocar os Britânicos em quarentena. Porque a variante indiana é predominante no Reino Unido e o teste negativo realizado até 72 horas antes do embarque, não é suficiente para provar que a pessoa não está infetada.

Portugal é responsável pela entrada maciça desta variante. Mais uma vez, a decisão dos políticos foi péssima! Não sei qual foi a orientação dos técnicos quanto a este tema, mas como disse no início deste artigo, os técnicos devem insistir para que os políticos cumpram as suas orientações. Os técnicos não podem deixar que os políticos cometam e repitam asneiras atrás de asneiras. Estes, infelizmente, voltaram a decidir de forma precipitada, não colocando os Britânicos em quarentena obrigatória.

Merkel afirmou que Portugal é responsável por este aumento da variante indiana. Mas esqueceu-se de referir que a Alemanha faz parte da União Europeia e, neste capítulo, todos os outros Estados-membros tiveram um comportamento péssimo no que se refere ao exemplo de união entre países que ocupam o mesmo espaço geográfico. Cada país tem um plano de ação diferente, escolha de vacinas e orientações quanto a prioridades e faixas etárias distintas. Referi aqui, em artigo anterior, que era importante que a União Europeia mostrasse finalmente o verdadeiro espírito de união e que os Estados-membros trabalhassem em conjunto na prevenção, estratégia e soluções de combate à pandemia.

Portugal, nomeadamente os tais políticos que tomam as decisões, é responsável pelo aumento e propagação da variante indiana, mas a União Europeia não está isenta de responsabilidades, porque continua a não decidir a uma só voz, o que seria, sem dúvida, a melhor forma de combater a pandemia. Ninguém pode sacudir a água do capote! São todos culpados.