Agora eu já sei – Da onda que se ergueu no mar – E das estrelas que esquecemos de contar – O amor se deixa surpreender – Enquanto a noite vem nos envolver (Wave, João Gilberto)

Estamos os três, tu, a tua mãe e eu, dentro de um carro a caminho de uma colina, debaixo de uma noite escura sem luar. Enquanto conduzo, tu falas, perguntas, e eu e ela olhamos de vez em quando um para o outro, há perguntas que não têm resposta, não sabes isso mas um dia sabê-lo-ás; confesso, de qualquer maneira, que estou mais atento à estrada, havia uma saída algures por aqui, aqui está: uma estrada de terra, um carreiro que sobe e para onde viro e por onde vamos para começarmos aos saltos. Tu ris-te, que eu só quero é não rebentar um pneu, um pneu rebentado numa noite de Verão no Barlavento Algarvio é que não, por favor. Abro a janela e uma brisa fresca sopra de norte, entra dentro do automóvel e relaxa-nos. Ouvimos-te respirar fundo.

Subimos. Também abres a janela e pões a cabeça de fora. Devido à nortada cheira a campo, à erva seca do campo, ao mesmo tempo que o carro abana, parece um barco no mar só que em terra. Continuamos devagar, ligeiramente inclinados para cima,
ligeiramente inclinados ora para um lado ora para o outro, até que lá perguntas pela enésima vez se já chegámos. Apetece-me responder-te que sim, parar ali e sairmos e vermos o que te queremos mostrar, mas se é para fazer que se faça até ao fim, que quem vai tão longe não desiste tão perto. Subimos.

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