A Via CTT é um belíssimo exemplo, por todas as más razões, do ataque constante que os cidadãos e as empresas sofrem por parte de um Estado central e centralista, vigilante e paternalista, politicamente correcto mas desrespeitador.

Não contente com os custos de contexto já lendários do nosso país, a que aqui já me referi muitas vezes, aquele Estado grande e poderoso veio acentuar há alguns anos o nosso complex endémico com uma criação original que cria obrigações de registo para trabalhadores e empresas (naturalmente), que decide por nós como “queremos” ser contactados pelo mesmo Estado (como se esperava) e que aplica coimas a quem discordar (ça va de soi) – a Via CTT.

Parece que os serviços “privados” e “normais” de email não são de confiança e portanto o nosso taxman entendeu por bem nacionalizar a nossa caixa de correio para o efeito de garantir com a maior segurança que todas as boas notícias que tenha para nos transmitir chegam ao destino em perfeitas condições. Quem discordar disso pode pagar a coima tranquilamente e sujeitar-se às consequências adicionais que lhe cairão em cima.

Quem não se inscreveu (curioso vocábulo, que sugere que está em causa uma acção voluntária) paga uma coima e quem não comunicou que se inscreveu paga outra coima e agora há que apanhar as dezenas de milhar de relapsos que por aí andam e cobrar-lhes umas centenas de euros a cada um, que dão sempre jeito – através da Via CTT, claro.

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O PS rejubila – aposto! – com esta perspectiva de multar quem não aceitou (ou não sabia da coisa, o que pouco importa para o caso) a morada obrigatória que o Governo lhe atribuiu: os rebeldes que não quiseram ser despejados no gueto electrónico onde todos somos obrigados a viver.

Isto vai tão ao encontro da sua matriz centralista, que é ainda mais perfeita, bem vistas as coisas, quando é desencadeada, numa Britzkrieg fiscal (mais uma), com o respaldo de partidos totalitários.

Tudo congruente, aliás, com a velha ambição de nos pôr a todos a ir buscar as nossas contas a Lisboa, em fila indiana, entre as 11:30 e as 13:00, com pausa de 45 minutos ao meio-dia. Com a velha ambição (mas nem por isso desactualizada), no fundo, de nos obrigar a fazer o que não queremos – e quanto mais vias obrigatórias, melhor.

Esta vertigem centralizadora e autoritária, que engendrou a Via CTT – não por acaso, uma invenção da dupla Lino & Campos que em tempos mandava no país –, desconfia, como habitualmente, dos privados, dos cidadãos, dos contribuintes e, por isso, toca a nacionalizar, devagarinho e sem alarido, a comandar e a conduzir as vidinhas da populaça ignorante e ingrata.

Mas não fiquemos por aqui! Camaradas Costa, Jerónimo e Catarina: deixo-vos algumas ideias de borla.

  • Cortar o cabelo – só na barbearia central do Rossio.
  • Falar ao telefone – só através do SIRESP.
  • Automóveis – só os produzidos na Autoeuropa depois de nacionalizada ou nas fábricas de material militar (50 por mês, no máximo).
  • Programas televisivos – ARTV durante os discursos do querido líder António Costa ou dos seus camaradas de geringonça.
  • Porto-Lisboa – a dias certos, para levantar multas e outros mimos que o Estado tenha para nos entregar (sempre na ponte aérea mensal da TAP).

Mas bem, excedi-me e fui injusto. Afinal era tudo faz-de-conta — perante o escândalo, a indignação e a verificação da estupidez, volta tudo atrás e afinal já não há multas.

Vou agora aguardar que me investiguem e fiscalizem e multem por… alguma coisa. Através da Via CTT.