Estamos a viver uma pandemia. Uma pandemia que mata, que diminui a esperança de vida, que sobrecarrega os sistemas de saúde em todo o mundo, que deixa sequelas e rouba qualidade de vida. Não é a Covid-19. Mas está associada a graves complicações em caso de infeção pelo novo coronavírus.

Falo da obesidade que afeta, segundo números da Organização Mundial de Saúde, 650 milhões de adultos em todo o mundo e 1,5 milhões em Portugal (Inquérito Nacional de Saúde 2019). Uma pandemia, sem dúvida.

Hoje assinala-se o Dia Mundial da Obesidade que este ano, com o mote Every body needs everybody, nos vem alertar que todos somos necessários na luta contra esta doença. Esta não é uma responsabilidade exclusiva de quem vive com obesidade nem dos serviços de saúde. Tal como a luta contra a Covid-19 exige o compromisso e colaboração de todos, com responsabilidades partilhadas, também a luta contra a obesidade é uma missão coletiva.

Portugal está hoje convocado a olhar para a obesidade como a causa de cerca de 200 doenças – como a diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares – e de mais de uma dezena de cancros – como o cancro da mama, cancro digestivo e colorretal. Não podemos continuar a olhar apenas para cada uma destas (terríveis e complexas) doenças sem que nos lembremos que muitas delas se previnem nos cuidados primários, nas consultas do centro de saúde onde, com o olhar certo pelo especialista certo, se pode descobrir que ainda há tempo de as prevenir.

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A obesidade é, efetivamente, uma doença crónica, complexa e perder peso não depende apenas de melhores hábitos alimentares e de mais exercício. A genética, o ambiente, o trabalho, o nível de escolaridade, os cuidados de saúde a que temos acesso, entre outros, são determinantes nesta patologia.

A pandemia de Covid-19 tornou ainda mais evidentes os perigos que a obesidade esconde. De acordo com um estudo da Public Health England, na primeira vaga de infeções no Reino Unido, 70% dos doentes internados em unidades de cuidados intensivos viviam com obesidade ou tinham excesso de peso. Precisamos de perceber que o peso da obesidade se adensa cada vez mais e é necessário repensar e ajustar estratégias. A Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e a Adexo,  Associação dos Obesos e Ex-Obesos, lançaram neste Dia Mundial da Obesidade um call to action para a sociedade portuguesa – “Recalibrar a Balança – por uma resposta holística e equitativa contra a obesidade”,  apontando cinco prioridades para a acção: promover uma abordagem holística e digna do tratamento da obesidade; apostar na formação especializada de profissionais de saúde; criar um programa de consultas de obesidade nos cuidados de saúde primários; facilitar o acesso aos tratamentos e, por fim, criar mecanismos de combate ao estigma e descriminação associados a esta doença.

Também a Assembleia da República se tem vindo a associar ao combate à obesidade, tendo discutido diversos projetos de resolução, de diferentes grupos parlamentares, no passado dia 18 de fevereiro. É, sem dúvida, um exemplo a seguir, uma vez que para implementar esta estratégia precisamos de todos: da mobilização dos decisores políticos, da resposta multidisciplinar dos serviços de saúde, da inovação da indústria farmacêutica, do compromisso da indústria alimentar, do envolvimento crucial das escolas, da sensibilização das famílias, da sociedade em geral.

O peso da obesidade só irá diminuir se o dividirmos por uma responsabilidade partilhada que garanta que ninguém trava esta batalha sozinho.