Começou a mudança para o novo campus de Carcavelos. Quarenta anos depois de ter sido fundada por Alfredo de Sousa, a Nova SBE – School of Business and Economics, inaugura um edifício de sonho, virado para o mar, onde apetece estudar e trabalhar. O momento é histórico, mas não apenas para os que estão dentro da escola ou gravitam à volta dela. Este novo campus também é um marco no país. Portugal e a marca portuguesa são mais ricos porque esta e outras boas universidades existem, mas a construção do novo campus é, em si mesma, uma aula cheia de lições.

A primeira e, porventura, mais iluminante é a resiliência. Tudo começou no auge da crise, quando parecia impossível investir num projecto arrojado de uma universidade inovadora. As portas não se abriam e as poucas que se abriram, fecharam-se imediatamente a seguir. Ter endurance para aceitar uma sucessão torrencial de nãos, permanecendo firme na lógica do sim, acreditando que esta escola viria a ser uma realidade é um ensinamento que deve ser passado aos alunos e deveria, inclusivamente, converter-se em matéria de aula. As novas gerações precisam de treinar a paciência e têm forçosamente que aprender a lidar com a frustração. Numa era de grande incerteza, em que tudo é efémero e nada é permanente, excepto a mudança, as escolas e universidades precisam de dar aos estudantes ferramentas poderosas. A resiliência é uma delas. Saber ler os sinais dos tempos e ter capacidade de resistir à adversidade, fortalecendo-se nas dificuldades, é a maior aprendizagem que se pode fazer em qualquer área de especialidade.

Nas melhores universidades do país e do mundo ouve-se muitas vezes dizer aos alunos que eles são os maiores e os melhores. Acredito que sim, que até podem ser, mas não por andarem nesta ou naquela universidade! São e serão os maiores e os melhores se trabalharem para isso, se forem capazes de pôr os meios para atingir os fins a que se propõem, se souberem fazer sacrifícios, se trabalharem muito e se, ao mesmo tempo, forem rigorosos, éticos, dinâmicos, criativos, com iniciativa e sempre capazes de manter a autenticidade e a humildade. Parece muito exigente e é, de facto, mas sem este ‘set’ de competências, sem a motivação certa e sem a atitude recta não vão longe. Por razões competitivas, mas também porque basta ler os jornais e ver as notícias nacionais e internacionais para perceber onde acabam aqueles que se metem por atalhos, é imperativo criar escolas e métodos de trabalho que imprimam no ADN dos jovens novos códigos de acção e de compreensão da realidade.

Outra lição a tirar da construção do novo campus, que começou a ser pensado em 2010, em plena crise, quando o país estava deprimido e parecia impossível acreditar ou fazer acreditar em projectos de ambição global, é a superação. Nos primeiros dois anos, quando José Ferreira Machado ainda era o Director da Nova, Pedro Santa-Clara, Professor de Finanças e Presidente da Fundação Alfredo de Sousa, a instituição responsável pelo projecto do novo campus, fez várias tentativas para juntar as faculdades de Economia e Gestão da Universidade Nova e da Universidade Católica, mas não foi possível. Houve expectativas e frustrações, mas também houve uma enorme necessidade e vontade de superação.

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No auge da depressão, Pedro Santa-Clara e Daniel Traça, Professor de Economia e actual Director da Escola (desde 2015), começaram a procurar terrenos e formas de angariar fundos para iniciar a obra. Era difícil aceitar que depois de tempos difíceis não viessem outros ainda mais difíceis, mas a ideia de construir de raíz uma escola nacional com projecção internacional acabou por conseguir finalmente contagiar um primeiro círculo de pessoas e empresas. Paradoxalmente, a crise acabou por se revelar uma vantagem. “As pessoas ansiavam por um projecto ambicioso e optimista, que olhasse para o futuro e tivesse ambição internacional. Reviram-se nesta nossa história de jogar na Champions League europeia, para atrair o melhor talento para estudar aqui, na expectativa de que isso viesse a ter impacto na sociedade”. As palavras e a convicção são de Pedro Santa-Clara, numa entrevista recente à Visão.

Resiliência e superação, aliadas à visão e à paixão, já são quatro lições a tirar, mas há mais. Criar comunidade, ir ao encontro dos outros e assumir o risco de poder ser mal interpretado ou incompreendido também são atitudes vencedoras. Os grandes líderes sabem que ninguém consegue nada sozinho. No leader is an island. O mundo é um imenso sistema de colaboração e entrega e, nesta lógica, é vital criar laços, saber comunicar e contagiar. Os outros são fundamentais no processo, em qualquer processo. Gerar uma comunidade de pessoas e organizações dispostas a contribuir e a colaborar é obra. Ou melhor, já é parte da obra de construção de um edifício. Acontece que, neste caso, não estava em causa construir apenas uma casa sofisticada ou um prédio contemporâneo. Era muito mais que isso. Tratava-se de edificar uma escola, de cimentar e reforçar uma marca educativa que já tem muito peso, mas quer ter ainda mais.

Daniel Traça e Pedro Santa-Clara, os visionários desta escola, não inventaram a roda, mas porque deram aulas em algumas das melhores business schools do mundo, importaram esse conhecimento e essa experiência para o processo. E foram alargando os círculos virtuosos de mecenas, benfeitores e patrocinadores. Para construir o novo campus da Nova SBE eram precisos 50 milhões de euros e, neste momento, já só faltam 9.5€. Impressionante. Sobretudo se pensarmos que é uma universidade pública e que nem um único cêntimo veio de dinheiros públicos. O Estado não contribuiu com nada e isso dá certamente uma enorme liberdade, mas também uma grande responsabilidade para com todos e cada um dos que a pagaram. E isto leva a mais uma lição que todos podemos aprender. A da humildade para pedir.

Estender a mão, literalmente falando, para pedir dinheiro para construir uma grande escola, parece mais fácil agora, que a obra está quase concluída, do que à partida, quando nem sequer havia chão. A Câmara de Cascais ofereceu o terreno e essa foi a primeira grande conquista. Não ofereceu um lote qualquer, note-se, mas um bom campo com vista para o mar. Não estive nem estou dentro dos detalhes do processo, mas acredito que o dia em que o terreno foi doado foi o primeiro dia do resto das nossas vidas. Falo por mim, que sou professora na Nova SBE há 10 semestres, mas também pela comunidade académica, pelos pais e famílias dos alunos presentes e futuros e, insisto, por um país que passa a ter mais uma marca com impacto global.

A Nova SBE tem escalado nos rankings internacionais, mas a ambição é alcançar o Top Ten das melhores business schools do mundo. E nesta ambição estão contidas mais lições: formar equipas fortes, saber motivar e liderar. Nesta matéria é importante não esquecer que há e haverá sempre ventos contrários dentro das próprias equipas que se criam, mas é essencial ter presente que da diversidade nasce muita força, e é na divergência que se se afinam estratégias e se corrigem rumos. Não seria legítimo esperar que se construísse tudo o que já se construiu sem vozes contrárias e ventos desfavoráveis. Faz parte do processo e há muita luz nestes braços de ferro, nos erros e até nos passos mal dados. Também isso é uma aprendizagem determinante para o futuro.

O Colégio de Campolide, a velha e querida casa onde tantos aprendemos e ensinamos durante décadas (sinceramente, nunca saberei quem ensina e quem aprende mais, se nós ou os alunos!), foi também a escola onde os próprios líderes da construção do novo campus estudaram. Na Nova SBE tornaram-se quem são, pessoal e profissionalmente. É bom saber que a dupla Daniel Traça e Pedro Santa-Clara são ex-alunos da Nova. Formaram-se nesta escola e aprenderam ali as lições que possivelmente não lhes passará pela cabeça converter em conteúdos pedagógicos. É pena. Percebo que quem está demasiado dentro do processo ainda não tem distância crítica para se conseguir ver de fora, mas penso que em breve perceberão que não há melhor ‘case study’ para estudar nesta escola de Gestão e Economia do que a construção do próprio campus.

Last but not the least, umas notas finais para três outras lições que me parecem relevantes nesta história: a gratidão, a capacidade de empreender e a aposta nos alumni. Gratidão a todos, absolutamente todos os que deram o seu sim e converteram a sua adesão em dinheiro para comprar ferro, vidros, tijolos e cimento para erguer uma Academia que se vai converter num multiplicador de talentos e competências com impacto no mundo. A capacidade de empreender, por tudo o que já está à vista e mais adiante se poderá ver. A aposta nos alunos, porque muitas das equipas que trabalharam para o novo campus são constituídas por ex-alunos. Por tudo isto e porque realmente Portugal merece ter mais uma escola de fasquia elevada, vai ser muito entusiasmante continuar a contribuir, trabalhar e viver diariamente no campus.