Arrábida

Foi Jaime Gama quem começou por apresentar a “serra-mãe”, essa pequena joia a apenas meia hora de Lisboa e, mesmo assim, muito mal conhecida. Conduziu-nos primeiro pelos seus próprios caminhos, que se estendem do promontório do Cabo Espichel e vai até Setúbal, e depois deu-nos alguns companheiros de viagem e descoberta: Orlando Ribeiro, Frei Agostinho da Cruz, Sebastião da Gama, João Bénard da Costa. Lembrou-nos como, para além da sua paisagem humana – Sesimbra, Azeitão, Palmela – as suas características naturais tornaram-na em local de estudo quase obrigatório dos estudantes da Universidade de Lisboa.

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Sintra

Da Arrábida saltámos para Sintra, desta vez pela minha própria mão. E se a Arrábida é toda ela um pedaço de Mediterrâneo esquecido para cá do Estreito de Gibraltar, Sintra já tem, sobretudo na sua vertente norte, todas as características do mundo Atlântico, proporcionando o tipo de contrastes e de combinações que Orlando Ribeiro tão bem descreveu. Andámos pelos seus caminhos românticos, feitos de palácios e jardins hoje exemplarmente tratados, mas também pelos caminhos agreste da costa que culmina no Cabo da Roca.

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Porto

Com Jaime Nogueira Pinto saltámos para o Porto, a cidade da sua infância, uma cidade plena de contrastes, uma cidade burguesa e liberal, mas também uma cidade de velhas ruas e esconsos becos. Lembrámos escritores que tão bem a descreveram, de Júlio Dinis a Camilo, sem esquecer, claro, Agustina Bessa Luís.

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Vale do Douro

Agustina, que na companhia de Manoel de Oliveira, nos transmitiram toda a magia de Vale Abraão, foi de resto o pretexto para Jaime Gama começar a subir o Douro, esse vale maravilhoso que se pode descobrir de barco, mas que não pode deixar de ser apreciado dos miradouros que olham para ele de cima e permitem apreciar toda a sua imensa escala, o que obriga o viajante a longos trajetos para, no fim, ter ainda maiores recompensas. Como companheiros de viagem recomendou Manuel Mendes e Sant’anna Dionísio, mas sobretudo António Barreto.

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Gerês

Subindo um pouco mais para Norte, coube-me a mim servir de guia no Gerês, um Gerês tomado em toda a sua dimensão, que se estende dos altos de Castro Laboreiro, no Alto Minho, aos planaltos do Barroso e às isoladas aldeias de Pitões das Júnias ou Tourém. No coração do que foi o nosso primeiro parque natural, há que descobrir os vales do Cávado e do Homem e subir das Caldas até à fronteira através da frondosa e preciosa Mata de Albergaria. Aqui nada como ter como companheiros livros sobre as árvores de Portugal, e depois repousar recordando como era a aldeia submersa de Vilarinho das Furnas no tempo em que Jorge Dias descreveu a sua vida comunitária.

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Coimbra

Se Jaime Nogueira Pinto cresceu no Porto, foi para Coimbra que se escapou quando chegou o tempo de estudar e ganhar autonomia. A Coimbra de então, cidade de estudantes como já não é, era um caldeirão político com centro nos edifícios da Universidade – os velhos, como o da Faculdade de Direito, onde estudou – aos novos, que tomaram conta da “alta” da cidade. Por isso não é possível sentir Coimbra passando apenas pelas suas velhas igrejas ou visitando a sua belíssima biblioteca joanina – é necessário vivê-la também com os estudantes, mesmo quando estes já se diluem mais numa cidade que não parou de crescer.

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Óbidos

Viajante que nunca conduziu, e por isso nunca teve a liberdade de sair dos caminhos mais percorridos e mais urbanos, Jaime Nogueira Pinto seguiu depois para a zona onde foi criando raízes, a de Óbidos e das Caldas, a da Foz do Arelho com os seus nevoeiros, e também a de A-dos-Negros, onde hoje repousa a sua Zezinha. Mas foi de Óbidos que mais nos falou, porque não há outro ligar como a vila muralhada que conservou, no interior, a mesma grelha urbana e o mesmo equilíbrio dos edifícios que vinham dos tempos medievos.

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Guadiana

Eu, pelo contrário, gosto de conduzir e de alguma aventura, pelo que conheci o Guadiana que desapareceu com a barragem de Alqueva, de jipe e também de canoa, e não pude deixar de manifestar a minha nostalgia por esse rio agreste que corria no fundo de um vale agreste, mesmo percebendo o novo encanto da barragem que hoje se estende aos pés da bela Monsaraz. Para o conhecer há que começar por Jerumenha, ir a Mourão, descer ao Pulo do Lobo e apaixonar-se por Mértola. E quando já pensarmos que vimos tudo, não podemos deixar de dar um salto às antigas Minas de São Domingos, lugar onde a paisagem assombrada das escavações abandonadas convive com a delicadeza do que em tempos foram as habitações dos mineiros.

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Açores

Só havia uma forma de fechar com chave de ouro, e essa era deixar-nos ir pela mão de Jaime Gama numa rápida introdução aos Açores. Que ele recomendou que se visitasse em quatro viagens distintas, para melhor apreciar o que cada uma das nove ilhas, todas muito diferentes umas das outras, nos podem proporcionar. Connosco terá sempre de seguir Raul Brandão e as “Ilhas Encantadas”, mas também Nemésio com o “Corsário das Ilhas” e os poemas de Pedro da Silveira. E ali, como talvez em nenhum outro lugar, compreendamos que viajar é ser capaz, como disse Lawrence Durrel, “de estar sentado, observar a paisagem, e lentamente deixar-se absorver pelo espírito do local”.

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(O programa pode ser visto na íntegra aqui)