Knack foi um dos malogrados jogos de lançamento da PS4, criado pelo veterano Mark Cerny (um dos arquitetos da consola) com o objetivo de mostrar a abrangência familiar da plataforma. A pressa em desenvolvê-lo para ser lançado “com” a PlayStation 4 acabou por sentir-se, e Knack acabou por ser um falhanço crítico, mas que ainda assim mostrava algumas das potencialidades técnicas da então nova consola da Sony.

A sequela deste jogo apanhou de surpresa grande parte do mercado, que a apelidou de imediato como a continuação de algo que ninguém quer ver continuado. Contudo, a escolha de Cerny (e da Sony) em fazer esta sequela é compreensível como uma tentativa de cumprir o potencial da franquia e da visão que o célebre game designer tinha para o personagem e para o jogo. Mas depois de o jogar de uma ponta a outra, é fácil ver a diferença de qualidade entre Knack 2 o primeiro jogo.

Knack é uma pequena criatura que tem a capacidade de aumentar de tamanho ao adicionar ao seu corpo uma série de pequenos artefactos. Se na linearidade do primeiro jogo esta habilidade do personagem era apenas uma desculpa para torná-lo mais forte a cumprir a única coisa que tínhamos para fazer — lutar repetidamente contra inimigos — o modo como Knack 2 introduz formas inteligentes de utilizar o conceito do personagem torna-o, logo à partida, um jogo muito mais interessante.

Ainda recheado de combate, mas simplificado, de forma a poder ser jogado por crianças mais pequenas (de lembrar que este jogo tem PEGI 7), o foco do jogo acaba por ser dividido por muitos momentos de puzzle e plataformas em que temos de utilizar as novas habilidades de Knack, em especial essa capacidade de alterar o seu tamanho, permitindo-nos utilizar a sua versão original de baixa estatura despojada de quaisquer sólidos geométricos. Desta forma, conseguimos esgueirar-nos por pequenas entradas e por sítios que não conseguiríamos alcançar de outra forma.

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A noção de escala é outro dos pontos fortes de Knack 2. Visto que o crescimento do personagem é progressivo ao longo dos níveis, e quantos mais sólidos apanhamos maior o personagem fica, há momentos em que o tamanho ultrapassa o dos edifícios dos níveis. Esta progressão de escala entre os momentos em que temos obrigatoriamente de utilizar o personagem com a estatura de um gato ou aquele em que estamos tão colossais que os inimigos parecem moscas a incomodar-nos é um dos exemplos da excelente utilização do conceito do personagem.

O outro ponto positivo deste jogo é o facto de apesar de ser (aparentemente) um jogo para um só jogador, se um segundo se juntar Knack divide-se numa cópia idêntica mas de cor diferente, e ambos os jogadores podem cooperar para ultrapassar os seus níveis. Esta foi, aliás, a forma como passámos o jogo – no meu caso sentado lado-a-lado no sofá com o meu filho – o que aumentou em muito a diversão com Knack 2 e disfarçou um pouco a monotonia recorrente de todo o jogo.

Ainda que Knack 2 seja interessante e esteja a milhas da qualidade do seu antecessor, é também bastante repetitivo e monótono, e nem o enredo ou o elenco conseguem contribuir para alterar esse facto. A história tenta parecer mais complexa do que realmente é, e o desinteresse total que nos cria deixa-nos exasperados por ultrapassar as sequências de vídeo e partir diretamente para o jogo.

Os momentos de saltos, puzzles e plataformas são interessantes, mas acabam por tornar-se aborrecidos muito por culpa dos excessivos 15 capítulos pelos quais Knack 2 se estende, matando algumas das boas ideias por sobre exposição, facto que se nota ainda mais no combate, que nem os novos poderes e movimentos que vão sendo desbloqueados conseguem suavizar a monotonia.

É possível que grande parte da diversão de Knack 2 resida no modo cooperativo, e talvez apenas dessa forma o recomendemos. Repleto de boas ideias e de ainda melhores intenções, esta sequela consegue melhorar a franquia, o que por si só não é um grande feito dada a qualidade do original. Mas com melhores action-platformers no mercado, este exclusivo da PS4 lançado hoje a 39,99€ acaba por perder por comparação. Knack 2 redime o conceito que Mark Cerny tinha para a série, e acaba por até surpreender pela positiva dadas as baixas expectativas que todos tínhamos, mas não o suficiente para o destacar com tantos outros títulos exímios que nos têm brindado neste ano.

Ricardo Correia, Rubber Chicken