O escultor João Cutileiro vai receber na quarta-feira a medalha de mérito cultural, no dia em que será assinado o protocolo que formaliza a doação do espólio e casa-atelier, revelou esta segunda-feira a ministra da Cultura.

A homenagem ao escultor, de 81 anos, acontecerá na quarta-feira à tarde no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, onde será assinado o protocolo que envolverá o Ministério da Cultura, o município e a Universidade de Évora.

“Foi desbloqueado. Finalmente conseguimos chegar aos termos de entendimento. Vai ser aceite a doação, vamos ficar com a casa-atelier e vai ser atribuída a medalha de mérito ao João Cutileiro”, disse a ministra da Cultura, Graça Fonseca, à agência Lusa.

Em causa está um processo que remonta a 2014, ano em que João Cutileiro manifestou interesse em doar a casa-atelier e parte do espólio. “Isto tem estado para ser concretizado. Era um dos dossiers que tínhamos cá e ao qual demos prioridade por várias razões”, referiu a ministra da Cultura. Sem adiantar ainda os termos concretos da doação, Graça Fonseca referiu que a tutela ficará com a responsabilidade de fazer “a dinamização e programação da casa-atelier” do escultor.

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Em 2016, João Soares, então ministro da Cultura, anunciou publicamente a doação do espólio de Cutileiro à Direção Regional de Cultura do Alentejo, à Universidade de Évora e à Câmara Municipal. “Parece-me um gesto extremamente importante, antes de mais porque vai contra aquilo que tem sido dominante na Europa e na nossa terra, infelizmente, nos últimos anos, que é o egoísmo e o ‘salve-se quem puder'”, disse na altura o ministro aos jornalistas, de visita ao Alentejo.

Na altura, João Cutileiro admitiu aos jornalistas que decidiu doar ao Estado o seu património e espólio, incluindo parte da sua casa, para “poupar” os filhos de “ficarem com isto”. “Fui amigo do José Almada Negreiros, filho de Almada Negreiros, desde os 13 anos e até ele morrer e o desgraçado nunca se ‘levantou’ da morte do pai”, porque “recebeu o espólio” do artista, argumentou.

Quanto aos seus próprios filhos, João Cutileiro afiançou: “Não quero que eles recebam o espólio porque, senão, nunca mais fazem nada na vida por eles”. O artista pretende que a casa-atelier seja utilizada “para fins culturais/académicos relacionados com a sua produção artística, nomeadamente para o estudo e formação na área da escultura em pedra, onde se incluem atividades relacionadas com a realização de exposições, residências artísticas, visita e fruição pública”.

O processo de doação arrasta-se desde então porque aguardava despacho do secretário de Estado do Tesouro e Finanças, como referiu recentemente à Lusa a diretora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira. A Direção Regional de Cultura do Alentejo tem estado já “a trabalhar no inventário e a organizar o arquivo” do escultor.