O projeto artístico Raum, que reúne várias residências artísticas, vai ser lançado esta quarta-feira no museu Berardo, em Lisboa. A plataforma, exclusivamente digital, procura incentivar a criação de diferentes projetos artísticos, promovendo uma nova abordagem e uma nova receção da arte.

O projeto, desenvolvido pela Terceiro Direito, uma associação cultural sem fins lucrativos, surgiu do desejo de diversificar os meios e os suportes de receção de projetos artísticos. Pretende, acima de tudo, promover a criação de novos projetos, assentes na cooperação entre as mais variadas entidades.

Durante seis meses, a plataforma vai receber treze residências artísticas, relacionadas com áreas como a educação ou a investigação científica. As entidades parceiras (universidades, museus ou entidades independentes) são representadas por um criador ou coletivo por elas convidadas, que deve criar um projeto pensado para o meio digital. Os contributos podem ser os mais variados, desde artigos científicos a projetos gráficos e musicais. A materialização e colocação online é feita em colaboração com a equipa de designers da associação, os V-A Studio. Cada criação fica acessível através da plataforma durante quinze dias após a sua publicação.

De acordo com Sandra Vieira Jürgens, diretora artística e fundadora da Terceiro Direito, a plataforma funciona deste modo como “uma rede de programação e mediação com o ciclo de residências virtuais”, que promove “a relação entre artistas, disciplinas e estruturas selecionadas a nível nacional por relevância e qualidade”.

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A plataforma, inovadora pelo seu caráter digital, procura transformar “o entendimento original de espaço de residência, fixo e efémero, expandindo-o ao universo online“. Para além disso, a publicação na internet dos projetos, permite ainda experimentar novas formas de intervenção e reflexão artística. Por outro lado, o meio digital “facilita muito a aproximação e a comunicação com diferentes públicos”, porque a plataforma é “de acesso global, permanente e livre”, com uma versão também em inglês, explicou Sandra Jürgens ao Observador.

Mais do que transformar projetos físicos em digitais, o projeto Raum quer incentivar a criação pensada especificamente para o digital. “O nosso desafio é promover a exploração de novos formatos de intervenção especificamente produzidos para este meio”, salientou Sandra Jürgens. “O projeto é muito interessante sobretudo porque estamos a funcionar e a divulgar processos e resultados de trabalhos verdadeiramente criativos e experimentais. Para muitos criadores, fundamentalmente a trabalhar com materiais e espaços físicos, este é ainda um suporte com muitas possibilidades de pesquisa e intervenção”, acrescentou.

A primeira residência foi publicada a 1 de outubro em parceria com o Centro de Estudos Multidisciplinares Ernesto de Sousa (CEMES), mas o lançamento oficial acontecerá apenas esta quarta-feira às 18h no museu Berardo, em Lisboa (um dos parceiros do Raum, juntamente com o Museu do Chiado), com a apresentação de um trabalho da autoria de Pedro Neves Marques intitulado “Os Jurupixuna”.

Apesar de inicialmente ter havido alguma resistência ao projeto, o Raum ganho cada vez mais adesão. “Inicialmente as pessoas não entendiam muito bem o funcionamento e a lógica do projeto, porque estavam habituadas a uma oferta cultural convencional de trabalhos num espaço físico”, referiu Sandra Jürgens. “Passada a primeira fase de estranheza, a adesão tem sido crescente”.