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O conflito israelo-palestiniano ano a ano
Guerras, intifadas e (poucos) acordos

O conflito entre árabes e judeus no Médio Oriente tem origens antigas. É uma história de confrontos militares, avanços e recuos diplomáticos — e uma solução nunca alcançada. Como chegámos até aqui?

1516
Império Otomano até à Primeira Guerra Mundial
Até à Primeira Guerra Mundial, além da Palestina, também a Síria e o Egipto estavam sob o domínio do Império Otomano, que era muçulmano.
Séc VII
Árabes ocupam Palestina
Depois do Reino de Jerusalém, instalado pelos Cruzados cristãos, o crescimento do Islão resulta na ocupação da Palestina pelo povo árabe.
1897
Começa, oficialmente, o sionismo
Foi fundada a Organização Mundial Sionista. Este movimento defendia o direito à autodeterminação do povo judeu na Palestina.
1947
A Organização das Nações Unidas (ONU) vota e divide a Palestina.
Região sob o domínio britânico fica partida em dois Estados, um árabe e um judaico.LER MAIS

Logo depois da Segunda Guerra Mundial, dez votos contra, 33 a favor e 13 abstenções transformaram Jerusalém numa cidade com estatuto de administração internacional e a Palestina, ainda sob o domínio britânico, fica assim partida em dois -- um Estado árabe e um Estado judaico. Esta divisão chamava-se o Plano de Partilha da Palestina. Foi aprovada através da Resolução 181 e dava já a Faixa de Gaza aos árabes. Tanto o Egipto, como a Síria, o Líbano, a Jordânia e o Iraque rejeitaram a proposta, não reconhecendo o Estado de Israel.

1948
Criação do Estado de Israel
Com o fim do mandato britânico, é oficialmente criado o Estado de Israel e começa a guerra árabe-israelita.LER MAIS

O mandato britânico terminou a 14 de maio de 1948 e, neste mesmo dia, é criado oficialmente o Estado de Israel. O Conselho do Povo Judeu reuniu-se em Tel Aviv para reconhecer a independência de Israel, decisão reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e só três dias depois pela então União Soviética. Os Estados árabes continuaram sem reconhecer a legitimidade do Estado de Israel e teve início a guerra árabe-israelita.

1949
Armistício com países da fronteira
Assinados acordos com países árabes e criação das Green Lines.LER MAIS

Foram estabelecidas aquelas que ficaram conhecidas como as Green Lines (linhas verdes), que foram respeitadas até à Guerra dos Seis Dias, em 1967. No fundo, foram assinados acordos com os países árabes que lhe tinham declarado guerra: em fevereiro, Israel estabelece tréguas com o Egipto -- nesta altura, a Faixa de Gaza passa a pertencer ao Egipto --, em março foi assinado acordo com o Líbano, em abril com a Jordânia e em julho com a Síria. Além da Faixa de Gaza ficar sob o domínio do Egipto, Israel conseguiu alargar o seu território com estes acordos.

1956
Egipto nacionaliza o canal do Suez e Israel invade Faixa de Gaza
Crise do Suez abre nova guerra na região.LER MAIS

Com a nacionalização do canal do Suez, por decisão unilateral do Egipto, Israel declara guerra ao Egipto, com o apoio do governo francês e britânico. Uma vez que lhe tinha sido impedido o transporte marítimo por aquela via, Israel decidiu invadir a Península do Sinai e a Faixa de Gaza -- ainda sob o controlo do Egipto --, com a ajuda das tropas francesas e britânicas. A ONU entrou para pedir a retirada das tropas israelitas, que acabaram por sair no ano seguinte, mas o Egipto continuou a proibir a passagem de Israel pelo Canal do Suez.

1964
Surge a Organização para a Libertação da Palestina (OLP)
A Organização para a Liberação da Palestina (OLP) é criada durante um congresso em Jerusalém, por decisão da Liga Árabe. Nasce assim um braço de luta armada para libertar a Palestina.
1967
Guerra dos Seis Dias
Israel amplia o seu território e conquista o Sinai, a Faixa de Gaza, os montes Golã, Jerusalém Oriental e a Cisjordânia.LER MAIS

Quando, em 1957, as tropas israelitas abandonaram a Faixa de Gaza e a Península de Sinai, a ONU manteve as suas tropas ao longo da linha de cessar-fogo, para impedir a escalada do conflito. E o Egipto manteve também a proibição de Israel passar no Canal do Suez. Esta interdição durou, aliás, mais de dez anos. Mas os ataques de Israel não desapareceram: em abril de 1967, o exército israelita ataca as forças de resistência na Síria e os árabes começam a unir esforços nas fronteiras com Israel. É então nesta altura que o primeiro-ministro egípcio Gamal Abdel Nasser ordena a retirada das tropas das Nações Unidas e fecha o Estreito de Tiran -- entre o Egipto e as ilhas de Tiran e que permite o acesso ao Mar Vermelho. Israel e todos os navios com destino a Israel ficam proibidos de circular naquela zona e, a 5 de julho, começa aquela que ficou então conhecida como a Guerra dos Seis Dias. Israel considerava que aquela proibição era uma violação do Direito Internacional e que iria prejudicar a economia, por imposição de restrições de circulação.

Israel deu início a um ataque que terminaria seis dias depois, a 10 de junho, com a sua vitória e, durante estes dias, o exército israelita consegue ampliar largamente o seu território. A Península de Sinai e a Faixa de Gaza -- até aqui do Egipto -- passam para o domínio de Israel, as colinas de Golã deixam de estar sob o domínio da Síria e Jerusalém Oriental e a Cisjordânia deixam de pertencer à Jordânia. Além disso, Israel voltou a circular no Estreito de Tiran.

Durante esta guerra há ainda um ponto importante, que é Jerusalém. Durante este conflito, o acordo que tinha sido feito entre Israel e a Jordânia em 1949, e que previa a divisão de Jerusalém, terminou e a cidade ficou unicamente sob o domínio israelita.

O Conselho de Segurança da ONU apelou, tal como tem feito ao longo dos anos, ao fim do conflito, mas Israel só mostrou abertura para dar início a um acordo de cessar-fogo quando, por acidente, atacou um navio americano, num bombardeamento que resultou na morte de mais de 30 norte-americanos.

Morreram milhares de palestinianos e centenas de israelitas nesta guerra, em apenas seis dias. Apesar de aceitarem o acordo de cessar-fogo, a posição dos países árabes manteve-se: continuavam a não reconhecer Israel como um Estado.

Também neste ano, as Nações Unidas avançam com a assinatura da Resolução 242, para obrigar Israel a sair dos territórios ocupados e para resolver o problema que a Guerra dos Seis Dias tinha causado -- a crise de refugiados. A Resolução 242 nunca foi cumprida por Israel, que garantiu só o fazer quando os países árabes estivessem dispostos a reconhecer o Estado de Israel.

1973
Guerra de Yom Kippur
Egipto e Síria atacam Israel, que é apanhado de surpresa pelo ataque.LER MAIS

O ataque combinado aconteceu no feriado judaico do Yom Kippur e apanhou os israelitas de surpresa. Com os sírios a atravessar os montes Golã e os egípcios a avançarem até ao Sinai, Israel enfrenta um dos piores momentos desde que foi criado como Estado. O conflito militar acabaria por ser vencido por Israel, mas a custo, tendo morrido mais de 2.500 soldados. A guerra trouxe impactos profundos ao sistema político e sociedades israelitas, tendo contribuído para a queda da primeira-ministra Golda Meir e declínio do Partido Trabalhista. Em 1977, o Likud (centro-direita) venceria as primeiras eleições no país.

1978
Israel invade o Líbano
Sul do Líbano é invadido pelas tropas israelitas para criar uma espécie de zona-tampão, que serviria como barreira aos ataques dos palestinianos a Israel. ONU obrigada à retirada.
1979
Israel e Egipto assinam os Acordos de Camp David
O acordo de paz assinado entre Israel e o Egipto levou à retirada das tropas israelitas da Península do Sinai. Assinados nos Estados Unidos, os Acordos permitirem o autogoverno dos palestinianos que vivam em territórios ocupados por Israel.
1982
Israel volta a invadir o Líbano
Israel voltou a invadir o Líbano para acabar com a presença da Organização para a Libertação da Palestina. Desta vez, conseguiu manter ali as suas tropas durante 18 anos.
1987
Primeira intifada
Primeira onda de violência popular, com levantamento dos palestinianos. Conflito dura até 1993.LER MAIS

Intifada significa revolta. Em dezembro de 1987, jovens palestinianos, com o apoio da Fatah, o movimento nacional de libertação da Palestina da ala de Yasser Arafat, revoltaram-se contra as forças de ocupação israelitas. Um dia antes da revolta, um camião israelita embateu em duas carrinhas que transportavam trabalhadores palestinianos no campo de refugiados de Jabaliyah, a norte da Faixa de Gaza. Quatro desses trabalhadores morreram e este foi o ponto de partida para a revolta palestiniana naquela região. Nessa altura, o então primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin -- assassinado em 1995 -- deu ordens para atacar. Morreram mais de mil palestinianos naquela que ficou conhecida como a guerra das pedras. Este conflito só terminou em 1993, com a assinatura dos Acordos de Oslo.

1988
Aparecimento do Hamas
É formado o Hamas, por Ahmed Yasin, em Gaza, como consequência da primeira intifada.
1991
Princípio de um acordo com a Conferência de Madrid
Entre 30 de outubro e 3 de novembro de 1991, eram dados os primeiros passos para um entendimento entre israelitas e palestinianos, em Espanha.
1993
Acordos de Oslo
Assinado o Acordo de Paz entre Rabin e Arafat, promovido pelos Estados Unidos, que prevê a criação da Autoridade Nacional Palestiniana.LER MAIS
Yitzahk Rabin, primeiro-ministro israelita, Bill Clinton, presidente dos EUA, e Yasser Arafat, líder do movimento nacional de libertação da Palestina. Foto: J. David Ake/AFP via Getty Images

Este ano, no dia 14 de setembro, marcaram-se os 30 anos da assinatura dos Acordos de paz de Oslo, entre palestinianos e israelitas, precisamente em Oslo, na Noruega. Foram assinados em 1993, nos jardins da Casa Branca, e foi também neste dia que ficou definido que seria criada a Autoridade Nacional Palestiniana, que passaria, um ano depois, a controlar a maioria do território da Faixa de Gaza. Ramallah tornou-se o símbolo desta autoridade, que ainda hoje existe, mas que deveria ter funcionado apenas durante cinco anos, para garantir a criação de um governo autónomo.

Na assinatura do acordo esteve o líder da OLP, Yasser Arafat, Bill Clinton, então Presidente dos Estados Unidos, e do então Presidente de Israel, Yitzhak Rabin.

Estes acordos de paz permitiram também o regresso dos líderes da Organização para a Libertação da Palestina que estavam no exílio, incluindo Yasser Arafat, e que reconheceram o direito à paz em Israel.

Mas nem tudo continuou calmo. Também nesta altura, e com o acordo de Arafat em acabar com conflito entre Israel e Palestina, o Hamas deu início a uma série de ataques em Israel. Com o tempo, os palestinianos começaram, cada vez mais, a considerar os termos dos acordos injustos, já que tinham sido feitos sob a supervisão dos Estados Unidos, evidentes apoiantes de Israel. E o Hamas, cerca de 15 anos depois, dizia que “os acordos de Oslo foram foram um desastre para o povo palestiniano”.

1994
Criação da Autoridade Nacional Palestiniana
Tal como tinha ficado definido nos acordos de Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestiniana, que coincidiu com o regresso de Yasser Arafat a Gaza, depois de cerca de 27 anos no exílio. Ainda antes de ter sido criada esta polícia, em abril de 1994, as tropas israelitas começaram a retirar-se de Gaza e de Jericó.
1995
Segundo Acordo de Oslo
Dois anos depois da assinatura dos primeiros acordos, dá-se início a uma espécie de segunda volta de tentativa de entendimento. Permanecia, no entanto, a desconfiança entre as duas partes e, desta vez, o segundo acordo foi assinado em Taba, no Egipto. O foco era o de encontrar soluções para Gaza e Cisjordânia.
1996
Yasser Arafat eleito presidente da Autoridade Nacional Palestiniana
Depois do exílio, Yasser Arafat foi eleito presidente da entidade provisório de autogoverno, que tinha sido estabelecido dois anos antes.
1999
Israel sai do sul do Líbano
Ehud Barak, primeiro-ministro de Israel nesta altura, decidiu mandar retirar as tropas da zona sul do Líbano, numa lógica de tentativa de restabelecer a paz através da desocupação de territórios.
2000
Segunda intifada
Novo levantamento popular, que ficou conhecido como a Intifada de Al-Aqsa.LER MAIS

Aqui, na viragem do século, já tinham sido assinados acordos de tentativa de paz, já tinha sido criada a Autoridade Nacional Palestiniana, mas surge a segunda fase dos acordos de Camp David -- os primeiros tinha sido assinados em 1979 entre o Egipto e Israel -- e o caminho é interrompido. Dá-se então a segunda revolta, chamada de intifada de Al-Aqsa, novamente com os jovens palestinianos a atirar pedras às forças de Israel e também motivada pelas tensões entre os dois grupos israelitas -- o Hamas e a Fatah. Este conflito durou até 2005, ano em que as tropas israelitas deixaram a Faixa de Gaza.

2002
Muro na Cisjordânia
Israel, pela voz de Ariel Sharon, inicia a construção de um muro de betão de separação com a Cisjordânia.
2004
Morte de Yasser Arafat
A 11 de novembro, Yasser Arafat morre e é Mahmud Abbas quem assume a liderança da Autoridade Nacional da Palestina.
2005
Forças israelitas deixam a Faixa de Gaza
Depois de 38 anos de ocupação e mais de dez anos depois dos Acordos de Oslo, as forças de Israel deixam a Faixa de Gaza. Apesar da saída, as entradas e saídas dos palestinianos da Faixa de Gaza começaram a ser controladas e restringidas.
2006
Vitória do Hamas nas eleições
O grupo islamista conseguiu uma vitória nas eleições de 2006, intensificando as lutas internas entre este grupo e a Fatah -- o partido de Arafat que controla a Autoridade Palestiniana.
2007
Hamas controla Faixa de Gaza
Falhado um acordo de governação entre Hamas e Fatah na Faixa de Gaza, em junho o Hamas assume, unilateralmente, o controlo total de Gaza.
2008
Conflito Israel-Gaza
Hamas lança ataque a partir da Faixa de Gaza. Em resposta, Israel bombardeia território. Morreram 13 israelitas e mais de 1400 palestinianos. Negociação de acordos com Autoridade Palestiniana ficam suspensas.
2009
Cessar-fogo na Faixa de Gaza e Netanyahu ganha as eleições em Israel
Depois da intensificação dos ataques israelitas, logo em janeiro de 2009 é declarado um cessar-fogo. Em fevereiro, Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro israelita, ganhou as eleições.
2011
Palestina pede para entrar na ONU
A Palestina avançou com a proposta formal para entrar na Organização das Nações Unidas. Este pedido aconteceu mais de 60 anos depois de, em 1947, os palestinianos terem recusado a existência de dois Estados e terem, consequentemente, recusado fazer parte da ONU. Pedido é aceite no ano seguinte, com 138 votos a favor, nove contra -- incluindo os Estados Unidos e Israel -- e 41 abstenções.
2012
Israel mata chefe militar do Hamas
Ahmed al-Jabari, chefe militar do Hamas, foi morto por Israel. Este acontecimento desencadeou uma semana de confrontos, em que morreram mais de 150 palestinianos.
2014
Nova guerra em Gaza
Neste ano, há dois momentos fundamentais neste conflito: um em julho e outro em outubro. Em julho, uma operação militar levada a cabo por Israel na Faixa de Gaza matou mais de 1.400 palestinianos. Depois, em outubro, Israel decide fechar a Mesquita de Al-Aqsa, um dos locais mais sagrados para o islão.
2017
Estados Unidos reconhecem Jerusalém como capital de Israel
Pela mão de Donald Trump, os Estados Unidos decidiram reconhecer Jerusalém como capital de Israel, contrariando a linha norte-americana dos anos anteriores, que reconhecia Tel Aviv como capital. ONU aprovou uma resolução contra os Estados Unidos, que pede cumprimento dos Acordos de Oslo.
2020
Palestina acaba com acordos com Israel e Estados Unidos
Os Estados Unidos, durante a administração Trump, avançaram com uma proposta de acordo de paz -- com a luz verde de Israel, mas sem o consentimento da Palestina. Depois disso, Mahmoud Abbas foi bem claro: “Informamos Israel e os Estados Unidos que não haverá nenhuma relação com eles, incluindo no âmbito da segurança”.
2021
Conflito de 11 dias
Tensão volta a escalar para uma nova guerra em GazaLER MAIS

O início da crise foi a 6 de maio, com protestos de palestinianos em Jerusalém Oriental a propósito de uma decisão do Supremo Tribunal de Israel para expulsar seis famílias palestinianas do bairro de Sheikh Jarrah. No dia seguinte, houve confrontos entre jovens e polícia, que terminaram na invasão da mesquita de Al-Aqsa pela polícia israelita. Seguiram-se 11 dias de conflito, com rockets disparados de Gaza por parte do Hamas, que atingiram casas e uma escola. As forças armadas israelitas bombardearam Gaza em reataliação, destruindo centenas de casas. Morreram ao todo 200 palestinianos e 10 israelitas.

Fotografias:
Getty Images

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