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O conflito israelo-palestiniano ano a ano
Guerras, intifadas e (poucos) acordos
O conflito entre árabes e judeus no Médio Oriente tem origens antigas. É uma história de confrontos militares, avanços e recuos diplomáticos — e uma solução nunca alcançada. Como chegámos até aqui?
Logo depois da Segunda Guerra Mundial, dez votos contra, 33 a favor e 13 abstenções transformaram Jerusalém numa cidade com estatuto de administração internacional e a Palestina, ainda sob o domínio britânico, fica assim partida em dois -- um Estado árabe e um Estado judaico. Esta divisão chamava-se o Plano de Partilha da Palestina. Foi aprovada através da Resolução 181 e dava já a Faixa de Gaza aos árabes. Tanto o Egipto, como a Síria, o Líbano, a Jordânia e o Iraque rejeitaram a proposta, não reconhecendo o Estado de Israel.
O mandato britânico terminou a 14 de maio de 1948 e, neste mesmo dia, é criado oficialmente o Estado de Israel. O Conselho do Povo Judeu reuniu-se em Tel Aviv para reconhecer a independência de Israel, decisão reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e só três dias depois pela então União Soviética. Os Estados árabes continuaram sem reconhecer a legitimidade do Estado de Israel e teve início a guerra árabe-israelita.
Foram estabelecidas aquelas que ficaram conhecidas como as Green Lines (linhas verdes), que foram respeitadas até à Guerra dos Seis Dias, em 1967. No fundo, foram assinados acordos com os países árabes que lhe tinham declarado guerra: em fevereiro, Israel estabelece tréguas com o Egipto -- nesta altura, a Faixa de Gaza passa a pertencer ao Egipto --, em março foi assinado acordo com o Líbano, em abril com a Jordânia e em julho com a Síria. Além da Faixa de Gaza ficar sob o domínio do Egipto, Israel conseguiu alargar o seu território com estes acordos.
Com a nacionalização do canal do Suez, por decisão unilateral do Egipto, Israel declara guerra ao Egipto, com o apoio do governo francês e britânico. Uma vez que lhe tinha sido impedido o transporte marítimo por aquela via, Israel decidiu invadir a Península do Sinai e a Faixa de Gaza -- ainda sob o controlo do Egipto --, com a ajuda das tropas francesas e britânicas. A ONU entrou para pedir a retirada das tropas israelitas, que acabaram por sair no ano seguinte, mas o Egipto continuou a proibir a passagem de Israel pelo Canal do Suez.
Quando, em 1957, as tropas israelitas abandonaram a Faixa de Gaza e a Península de Sinai, a ONU manteve as suas tropas ao longo da linha de cessar-fogo, para impedir a escalada do conflito. E o Egipto manteve também a proibição de Israel passar no Canal do Suez. Esta interdição durou, aliás, mais de dez anos. Mas os ataques de Israel não desapareceram: em abril de 1967, o exército israelita ataca as forças de resistência na Síria e os árabes começam a unir esforços nas fronteiras com Israel. É então nesta altura que o primeiro-ministro egípcio Gamal Abdel Nasser ordena a retirada das tropas das Nações Unidas e fecha o Estreito de Tiran -- entre o Egipto e as ilhas de Tiran e que permite o acesso ao Mar Vermelho. Israel e todos os navios com destino a Israel ficam proibidos de circular naquela zona e, a 5 de julho, começa aquela que ficou então conhecida como a Guerra dos Seis Dias. Israel considerava que aquela proibição era uma violação do Direito Internacional e que iria prejudicar a economia, por imposição de restrições de circulação.
Israel deu início a um ataque que terminaria seis dias depois, a 10 de junho, com a sua vitória e, durante estes dias, o exército israelita consegue ampliar largamente o seu território. A Península de Sinai e a Faixa de Gaza -- até aqui do Egipto -- passam para o domínio de Israel, as colinas de Golã deixam de estar sob o domínio da Síria e Jerusalém Oriental e a Cisjordânia deixam de pertencer à Jordânia. Além disso, Israel voltou a circular no Estreito de Tiran.
Durante esta guerra há ainda um ponto importante, que é Jerusalém. Durante este conflito, o acordo que tinha sido feito entre Israel e a Jordânia em 1949, e que previa a divisão de Jerusalém, terminou e a cidade ficou unicamente sob o domínio israelita.
O Conselho de Segurança da ONU apelou, tal como tem feito ao longo dos anos, ao fim do conflito, mas Israel só mostrou abertura para dar início a um acordo de cessar-fogo quando, por acidente, atacou um navio americano, num bombardeamento que resultou na morte de mais de 30 norte-americanos.
Morreram milhares de palestinianos e centenas de israelitas nesta guerra, em apenas seis dias. Apesar de aceitarem o acordo de cessar-fogo, a posição dos países árabes manteve-se: continuavam a não reconhecer Israel como um Estado.
Também neste ano, as Nações Unidas avançam com a assinatura da Resolução 242, para obrigar Israel a sair dos territórios ocupados e para resolver o problema que a Guerra dos Seis Dias tinha causado -- a crise de refugiados. A Resolução 242 nunca foi cumprida por Israel, que garantiu só o fazer quando os países árabes estivessem dispostos a reconhecer o Estado de Israel.
O ataque combinado aconteceu no feriado judaico do Yom Kippur e apanhou os israelitas de surpresa. Com os sírios a atravessar os montes Golã e os egípcios a avançarem até ao Sinai, Israel enfrenta um dos piores momentos desde que foi criado como Estado. O conflito militar acabaria por ser vencido por Israel, mas a custo, tendo morrido mais de 2.500 soldados. A guerra trouxe impactos profundos ao sistema político e sociedades israelitas, tendo contribuído para a queda da primeira-ministra Golda Meir e declínio do Partido Trabalhista. Em 1977, o Likud (centro-direita) venceria as primeiras eleições no país.
Intifada significa revolta. Em dezembro de 1987, jovens palestinianos, com o apoio da Fatah, o movimento nacional de libertação da Palestina da ala de Yasser Arafat, revoltaram-se contra as forças de ocupação israelitas. Um dia antes da revolta, um camião israelita embateu em duas carrinhas que transportavam trabalhadores palestinianos no campo de refugiados de Jabaliyah, a norte da Faixa de Gaza. Quatro desses trabalhadores morreram e este foi o ponto de partida para a revolta palestiniana naquela região. Nessa altura, o então primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin -- assassinado em 1995 -- deu ordens para atacar. Morreram mais de mil palestinianos naquela que ficou conhecida como a guerra das pedras. Este conflito só terminou em 1993, com a assinatura dos Acordos de Oslo.
Este ano, no dia 14 de setembro, marcaram-se os 30 anos da assinatura dos Acordos de paz de Oslo, entre palestinianos e israelitas, precisamente em Oslo, na Noruega. Foram assinados em 1993, nos jardins da Casa Branca, e foi também neste dia que ficou definido que seria criada a Autoridade Nacional Palestiniana, que passaria, um ano depois, a controlar a maioria do território da Faixa de Gaza. Ramallah tornou-se o símbolo desta autoridade, que ainda hoje existe, mas que deveria ter funcionado apenas durante cinco anos, para garantir a criação de um governo autónomo.
Na assinatura do acordo esteve o líder da OLP, Yasser Arafat, Bill Clinton, então Presidente dos Estados Unidos, e do então Presidente de Israel, Yitzhak Rabin.
Estes acordos de paz permitiram também o regresso dos líderes da Organização para a Libertação da Palestina que estavam no exílio, incluindo Yasser Arafat, e que reconheceram o direito à paz em Israel.
Mas nem tudo continuou calmo. Também nesta altura, e com o acordo de Arafat em acabar com conflito entre Israel e Palestina, o Hamas deu início a uma série de ataques em Israel. Com o tempo, os palestinianos começaram, cada vez mais, a considerar os termos dos acordos injustos, já que tinham sido feitos sob a supervisão dos Estados Unidos, evidentes apoiantes de Israel. E o Hamas, cerca de 15 anos depois, dizia que “os acordos de Oslo foram foram um desastre para o povo palestiniano”.
Aqui, na viragem do século, já tinham sido assinados acordos de tentativa de paz, já tinha sido criada a Autoridade Nacional Palestiniana, mas surge a segunda fase dos acordos de Camp David -- os primeiros tinha sido assinados em 1979 entre o Egipto e Israel -- e o caminho é interrompido. Dá-se então a segunda revolta, chamada de intifada de Al-Aqsa, novamente com os jovens palestinianos a atirar pedras às forças de Israel e também motivada pelas tensões entre os dois grupos israelitas -- o Hamas e a Fatah. Este conflito durou até 2005, ano em que as tropas israelitas deixaram a Faixa de Gaza.
O início da crise foi a 6 de maio, com protestos de palestinianos em Jerusalém Oriental a propósito de uma decisão do Supremo Tribunal de Israel para expulsar seis famílias palestinianas do bairro de Sheikh Jarrah. No dia seguinte, houve confrontos entre jovens e polícia, que terminaram na invasão da mesquita de Al-Aqsa pela polícia israelita. Seguiram-se 11 dias de conflito, com rockets disparados de Gaza por parte do Hamas, que atingiram casas e uma escola. As forças armadas israelitas bombardearam Gaza em reataliação, destruindo centenas de casas. Morreram ao todo 200 palestinianos e 10 israelitas.