Momentos-chave
Histórico de atualizações
  • Termina audição de Carlos Costa, que mesmo a acabar recorda que veio ao parlamento 51 vezes

    Quase cinco horas e meia depois de ter arrancado, termina a audição de Carlos Costa. Fernando Negrão tem um momento diz que espera encontrar o ex-governador no futuro, de saúde, mas não em comissões de inquérito. “Por exemplo numa estação de serviço, como já aconteceu, ou noutro sítio qualquer”.

    Carlos Costa recorda que já conta com 51 presenças no parlamento e diz que compreende as argumentações mais aguerridas dos deputados.

    Fica aqui a cobertura ao minuto. Dentro em breve o Observador vai colocar neste liveblog um resumo da audição de hoje a Carlos Costa. Até já.

  • Carlos Costa sobre a decisão judicial quanto à KPMG. “Não é uma derrota, senão tinha de considerar todas as outras como vitórias”.

    Uma última pergunta de João Paulo Correia (PS), sobre o processo de contra-ordenação do Banco de Portugal movido contra a KPMG devido a falhas de prestação de informação no caso BES. Mas essa condenação foi revertida por duas instâncias judiciais. “Não acha que foi uma derrota para a sua governação?”

    “De forma nenhuma. De forma nenhuma”, diz Carlos Costa, que diz que o tribunal não pôs em causa os factos do processo, mas apenas a fundamentação jurídica de enquadramento. “Não é uma derrota, senão tinha de considerar todas as outras como vitórias”.

    “E o papel do governador do Banco de Portugal não é colecionar vitórias ou derrotas, é defender a aplicação do Estado de Direito”, conclui.

  • "Não estou a ver a Comissão Europeia a querer fazer a 'via sacra' que fez o Banco de Portugal" no caso BES

    Carlos Costa considera que os bancos de transição “serão uma figura cada vez menos frequente”. “Não estou a ver a Comissão Europeia a querer fazer a via sacra que fez o Banco de Portugal enquanto Autoridade de Resolução Nacional”, responde ao deputado Hugo Carneiro, do PSD.

    Se houver essa necessidade, o que vai acontecer, é a solução de “venda de ativos e passivos”, como aconteceu em Espanha. Mas isso implica que haja uma entidade compradora, com dimensão para acomodar essa compra.

    No caso português foi uma questão que não se punha. “Foi imaginada, chegou-se a pensar, mas na fase em que se pensava numa recapitalização privada e não na fase de resolução”, que criou uma grande incerteza quanto à qualidade do balanço.

  • "Ficássemos nós 'À Espera de Godot' em 4 de agosto e teríamos tido o maior sismo financeiro na economia portuguesa"

    Carlos Costa descontrai e diz que, “como é final do dia”, vai “usar uma imagem do Becket”. Antes da resolução do BES decidida pelo governo de Pedro Passos Coelho “estavam todos à espera de Godot”, diz. “E à espera de Godot não é a solução para a segunda-feira, 4 de agosto. Ficássemos nós ‘À Espera de Godot’ em 4 de agosto e teríamos tido o maior sismo financeiro na economia portuguesa”.

    “As pessoas não têm a noção da extensão das cicatrizes que teria [esta situação]”, complementa. E dá o exemplo do que se passou no sistema financeiro grego: “Não termos passado esse Rubicão, não ter perdido a confiança, é um ativo intangível muito importante para o sistema financeiro, para as empresas e para o público em geral”.

  • No cenário em que estava o BES, "a única bóia de salvação era criar um banco de transição"

    Carlos Costa enumera o cenário que tornava, no seu entender, inevitável a resolução do BES e a criação de um banco de transição. Ou seja, corta a linha de raciocínio anterior de Barroco de Melo (PS). “Quando se constata que o banco está a incumprir os rácios de solvência, que está em situação de incumprimento e que lhe vai ser retirada a licença bancária, que está em risco de corrida aos depósitos e que o BCE lhe vai retirar o estatuto de contratante, a única bóia de salvação é criar um banco de transição.

    “É este banco de transição que salva 1 milhão e 800 mil depositantes, salva a continuidade do financiamento e salva a continuidade dos pagamentos. Foi isso que nos fizemos”, atira.

    “É óbvio que comparando um banco de transição com um banco recapitalizado a situação é diferente, porque o banco recapitalizado não tinha o limite temporal”.

  • "Eu não tenho evidência que tenha sido feito um pedido formal de recapitalização pública do BES"

    Eduardo Barroco de Melo (PS) insiste com Carlos Costa sobre o porquê de o Governo de Passos Coelho ter “atirado o BES para uma resolução que desvalorizava o banco”, em detrimento de uma capitalização pública.

    “O mecanismo que está previsto na lei é que a recapitalização pública tem de solicitada pelo Conselho de Administração do Banco e pelos acionistas ao Governo. E eu não tenho evidência que tenha sido feito um pedido formal. Não tendo havido evidência de um pedido formal, também não há evidência de recusa”, diz simplesmente o ex-governador do Banco de Portugal.

    Caso tivesse havido um pedido de recapitalização pública, acrescenta Carlos Costa, “teria havido todas as consequências enumeradas por Maria Luís Albuquerque [ministra das Finanças na altura], nomeadamente no que diz respeito à diluição dos acionistas. E foi isso que, provavelmente, os levou a não fazer”. “Uma coisa era conservar o valor do banco e outra coisa perder o valor da participação”, sublinha em jeito de conclusão.

  • Governo de Centeno foi avisado sobre retransmissão de obrigações para o banco mau

    Respostas a Mariana Mortágua. Ex-governador diz que houve um diálogo prévio com o Governo sobre a retransmissão das obrigações do Novo Banco para o BES no final de 2015.
    Esta decisão tomada nos primeiros dias do Governo socialista — que ao mesmo estava a lidar com a queda do Banif — deixou o então ministro Mário Centeno furioso porque teve um impacto negativo nos custos de financiamento de Portugal, com grandes fundos a boicotar a dívida portuguesa. Não fica no entanto claro se Centeno teve alguma palavra a dizer sobre esta decisão que foi uma espécie de segunda resolução no final de 2015.
    Carlos Costa defende ainda em resposta à deputada do Bloco que é preciso refletir sobre o sistema sancionatório numa lógica binária. Precisa de uma lógica gradativa para apanhar infrações repetidas, “sem lançar a bomba atómica”.
    Sobre a colaboração com o Banco Nacional de Angola, o ex-governador admite depende muito de quem está à frente da instituição. O BNA tem alguma necessidade de capacitação técnica, mas não podemos olhar para a sua atuação apenas com base na supervisão do BESA, defende. Com o BFA não houve problemas de cooperação.

  • Comissão de Acompanhamento do Novo Banco “está entre a bigorna e o martelo”, diz Carlos Costa

    O ex-governador inicia uma extensa defesa do trabalho da Comissão de Acompanhamento do Novo Banco. “Temos de ter uma atitude de apoio à comissão de acompanhamento, sabendo que eles estão ali numa posição… entre a bigorna e o martelo. Numa situação muito difícil de acesso e análise de informação. Conheço a competência técnica de alguns, tenho por eles, pessoalmente, muita consideração e julgo que ficaram beliscados no seu prestígio pessoal devido uma tarefa muito exigente e difícil”.

    Ou seja, o antigo responsável salienta que a comissão “é uma peça charneira neste processo de controlo, mas que trabalha situação difícil”. “Em vez de qualquer crítica, merecem um estimulante encorajamento”, conclui.

    Sobre os eventuais conflitos de interesse dos auditores e agentes de verificação – que, recordou Hugo Carneiro, trabalham muitas vezes para os fiscalizadores e para os fiscalizados – Carlos Costa começa por dizer nestas entidades “existem chinese walls”.

    “Mas as chinese walls nem sempre funcionam…”, ressalva. E refere que o mercado dos auditores “é oligopolista”, ou seja dominado por menos de uma mão cheia de empresas. “Quando o número de intervenientes é limitado, no final do dia temos quase só um disponível para fazer a tarefa. O que lhe dá uma enorme vantagem para fixar o preço”, explica o ex-governador.

    “Mas não tenho nenhuma solução na manga. Enfim, todos percebem que é preciso evitar abusos de posição e respeitar as chinese walls”, diz apenas.

  • "Ótimo seria que Bruxelas tivesse autorizado o Fundo de Resolução a ter assento na administração do Novo Banco"

    Hugo Carneiro, do PSD, inicia as suas perguntas. “Considera que o sistema de controlo do acionista controlador ficou completamente acautelado? Isto porque a gestão pode influenciar as chamadas de capital…”, alerta o deputado social-democrata.

    Carlos Costa atira a questão para Bruxelas. “O ótimo – em termos de sistema de controlo – seria que a Comissão Europeia tivesse autorizado o Fundo de Resolução a ter assento no Conselho de Administração [do Novo Banco], porque, embora a comissão de acompanhamento esteja dentro, não tem a mesma autoridade sobre a recolha de informação do que alguém que está dentro do conselho de adminstração”, defende o ex-governador.

    Mas como a Comissão Europeia não autorizou, salienta Carlos Costa, o Fundo de Resolução está “dependente da recolha de informação por parte da comissão de acompanhamento”. “Como é obvio, a dificuldade da tarefa da comissão de acompanhamento é tanto maior quanto maior for a história do crédito, das histórias de cada um daqueles processos. É muito mais difícil de perceber do que aquilo que está nos números, não tenhamos dúvidas”.

  • Relatório Costa Pinto. "A maior falha foi não ter contraditório para permitir reflexão interna"

    Carlos Costa volta a atribuir as culpas do queda do banco ao buraco de 1,5 mil milhões de euros à operação Eurofin, “um problema gerado em outra galáxia e que aterra nas contas semestrais no dia 30 de julho”.
    Ainda sobre o relatório Costa Pinto, esclarece que se a avaliação Costa Pinto tivesse apresentado indícios, teria pedido uma auditoria.
    “A maior falha foi não ter tido um contraditório em termos canónicos e permitir uma grande reflexão interna. Estamos a ver apenas metade da lua”.

  • Bruxelas travou nome Novo BES. Foi preciso inventar marca Novo Banco em 10 minutos e pedir autorização ao BCP

    Carlos Costa detalha agora os momentos dramáticos e caricatos que acompanharam os últimos do dia do Banco Espírito Santo a caminho da resolução.
    O BCE comunica-lhe quinta-feira à noite que ia tirar o estatuto de contraparte ao BES no dia seguinte, o que obrigava a devolver 10 mil milhões de financiamento. Isto depois do banco ter entrado em incumprimento após os resultados semestrais.
    A resolução era a única solução que podia impedir o pior, defende. Foi necessário garantir que na segunda-feira tínhamos um banco de transição operacional. Nunca será feita justiça à equipa de 60 pessoas que trabalhou neste processo.
    Faltava poucos minutos para o prazo final dado pelo BCE quando a DG Comp (direção da concorrência europeia) pergunta qual o nome do banco de transição. Novo BES? Não pode ser, avisa. Foi preciso arranjar uma marca nova em 10 minutos. E foi aí que apareceu o Novo Banco. A marca tinha sido registada pelo BCP no passado e foi ainda preciso autorização. “Podia ser um berbicacho. Não podia ser o banco xis”.

  • Resolução foi decidida pelo Banco de Portugal? "É verdade. A batata quente chegou às minhas mãos", mas não havia alternativa

    Decisão de resolução do BES foi do Banco de Portugal? Sim, confirma Carlos Costa, mas dá uma longa explicação ao deputado socialista Barroco de Melo para concluir que não tinha alternativa.

    A lei prevê a capitalização privada, a capitalização privada e a resolução. A capitalização privada era melhor que a pública e a pública era melhor que a resolução. Para a primeira eram necessários investidores e para a outra era necessário um pedido formalizado. Se as duas coisas não funcionam, vai acontecer o que Passos Coelho disse: “a Batata quente passa para o BdP que tem a opção entre a liquidação, com efeitos devastadores e a resolução. “A opção para o Banco de Portugal só podia ser uma: resolução com banco de transição.

    “A batata quente chegou às minhas mãos, é verdade”.

  • “‘Burden sharing’ do final de 2015 não foi uma operação de recapitalização. Foi operação de atribuição de perdas

    Carlos Costa recorda ainda que o Novo Banco “conseguiu satisfazer exigências adicionais de capital na ordem dos 4 mil milhões, não através da geração orgânica de capital, mas numa lógica de disponibilização de ativos e de gestão do risco, de redução das perdas”.

    “Gostaria que não usasse a ideia de que o ‘burden sharing’ do final de 2015 foi uma operação de recapitalização. Não foi, foi de uma operação de atribuição de perdas. Porque a recapitalização não era possível. Era apenas a absorção de perdas que tinham ficado por atribuir aos credores, na sequência de chamada que está na lei”.

  • Se o banco tivesse entrado mais cedo no verde o Fundo de Resolução seria beneficiado, diz Carlos Costa

    Cecília Meireles insiste nas explicações acerca do Mecanismo de Capitalização Contingente. “Este mecanismo define-se por carência e não por diferença”, diz a deputada, salientando que “se houver muitas perdas num ano, mas se – no limite – houver ganhos nas mesmas operações no ano a seguir já o NB não é obrigado a devolver”. E acrescenta, tal como diz o Tribunal de Contas, o financiamento do Fundo de Resolução ao Novo Banco “tem correspondido ao défice de capital”.

    A pergunta é simples: “Como é que o Banco de Portugal esperava que o mecanismo fosse aplicado?”

    Carlos Costa diz que percebe agora a questão da assimetria. “Os rácios de capital refletem a atividade do banco e não apenas as perdas. Significa isto que – e aqui há um dilema do ponto e visto da contagem das perdas e do calendário de perdas – se o banco entrasse mais cedo no verde, significa geração endógena de capital. E essa iria beneficiar o Fundo de Resolução”. Só que isso não aconteceu.

    “Como a atividade recorrente do banco ainda não entrou em terreno positivo, esta atividade está a comprimir os rácios e automaticamente está a limitar o benefício do travão [que consta no mecanismo de capitalização]. Mas isto não significa que o travão não seja bom, apenas tem um uso limitado por força de a atividade recorrente ter demorado mais tempo a entrar no positivo”.

  • Carlos Costa falou em opções alternativas à venda? "Não era porque as considerasse exequíveis. Era um aviso à navegação"

    Carlos Costa responde às primeiras pergunta da segunda ronda, da deputada Cecília Meireles (CDS-PP). A deputada evoca uma entrevista do então governador em 2017, na qual este admite que havia outras opções à venda do banco nos termos em que foi feita. “Vender com lucro seria por, pelo menos, 4.901 euros milhões de euros. E foi vendido sem receber nada em troca, com o compromisso de meter lá mais 3.890 milhões de euros. Vai um mar de diferença, quase 10 mil milhões de diferença. Que alternativas havia à venda?”

    “Nessa altura havia quem defendesse opções diferentes”, diz Carlos Costa, salientando que as suas palavras – que diz não recordar exatamente – constituíam um “aviso à navegação”. “Não era porque considerasse que fosse exequível. Havia quem o considerasse. E o que eu estava a dizer era que quem o considerasse exequível teria de ter presente os objetivos a atingir”.

  • Tinha poder para remover Salgado? Banco de Portugal não usou quadro legal de 2014 porque o BES era um banco sistémico

    Duarte Alves volta ao relatório Costa Pinto para confrontar Carlos Costa com a conclusão de que o Banco de Portugal tinha instrumentos no RGIC (Regime geral de instituições de crédito) para afastar mais cedo Ricardo Salgado da presidência do BES.
    Carlos Costa discorda desta conclusão que, do seu ponto de vista, é contrariada no capítulo 8 do documento (feito por outro dos membros da comissão de avaliação”. “Não sei se o autor do capítulo 8 concorda. É uma questão de fundamentação e não de opinião”.
    Mas fundamenta também que não foi possível reunir provas que configurassem um caso de justiça. Se tivéssemos do um caso fraco, poderia ser pior. Carlos Costa defendeu ainda que o Banco de Portugal “andou no fio da navalha” e no “limite das normas” ao agir de forma a convencer Salgado a sair voluntariamente (esteve para ser em março de 2014, mas acabou por ficar até fazer o último aumento de capital).
    A aplicação desses artigos a um banco sistémico teria consequências sistémicas. No mercado, a reputação continuava intacta, apesar do BdP estar a forçar. “Imaginem o que seria em termos de dimensão financeira”
    Carlos Costa desvalorizou o impacto (no imediato) da incerteza da garantia soberana de Angola para a queda do BES. E até a exposição ao Grupo Espírito Santo, para o qual existia uma provisão. “O fator causal não foi o GES. Foram as operações que foram descobertas nas contas” do primeiro semestre de 2014. A fraude da Eurofin, que tirou mais de mil milhões de euros ao BES, e a carta de conforto dada à Petróleos da Venezuela.

  • Carlos Costa afasta conflito de interesses no "trânsito" entre PwC e o Banco de Portugal

    Duarte Alves do PCP questiona o antigo governador sobre o “tráfego” entre o Banco de Portugal e a PwC a propósito das mudanças de emprego de dois antigos diretores de supervisão que voltaram nas mesmas funções.
    Luís Costa Ferreira e Pedro Machado (que já foram ouvidos nesta comissão) foram para a PwC após a resolução do BES.
    Carlos Costa lembra que à data não existia impedimento nas normas internas do Banco de Portugal e assinala que os dois foram para funções de consultoria e não de auditoria (apesar da consultoria ser sobre supervisão).
    E destaca que as auditoras não estão debaixo da supervisão do BdP.
    Para ser um conflito de interesses tinha de ser ao contrário, indicou o ex-governador. Para Carlos Costa, a recontratação dos dois quadros “até foi um enriquecimento para o banco”. Recusa a ideia de que foi decisão sua recontratar Luís Costa Ferreira, (descrito por Duarte Alves como um homem da sua confiança). Diz que foi por proposta da então vice-governadora Elisa Ferreira. No caso de Pedro Machado até destaca as qualidades profissionais que o levaram a ser contratado pelo mecanismo europeu de resolução por” mérito próprio”.

  • Problema dos ativos tóxicos está "quase resolvido", diz Carlos Costa

    Questionado por Mariana Mortágua sobre qual é a sua opinião sobre o papel das autoridades europeias neste processo, em particular a autoridade da concorrência europeia, Carlos Costa diz que teve uma “troca de correspondência muito dura” com a Comissão Europeia e com a DGComp desde 2011

    “Orgulho-me disso, porque estavam a tratar os problemas de cada um dos bancos ignorando a sua componente sistémica, nomeadamente quando impunham como remédios a contração da atividade dos bancos”, diz Carlos Costa, lembrando que fez “várias vezes, longos e-mails sobre isso”.

    Depois, na segunda fase, nos casos específicos, o diálogo que existe sobre uma autorização sobre auxílio de Estado (protagonizado pelo Ministério das Finanças, com o apoio do BdP) houve, diz Carlos Costa, “uma atitude muito pró-ativa”. “Mas as agendas não eram coincidentes – a agenda a Comissão Europeia é uma agenda preocupada com a aceleração da limpeza dos balanços dos bancos independentemente das preocupações sistémicas, ao passo que o Banco de Portugal tem uma maior preocupação com a situação sistémica”.

    Em 2016, recorda Carlos Costa, houve um “grande consenso” em Portugal entre o primeiro-ministro, o Presidente da República e o governador do Banco de Portugal para avançar com a redução dos ativos improdutivos porque isso estava a penalizar a banca nacional em três planos:

    Primeiro, no plano prudencial, levava à exigência de rácios de capital maiores. Segundo, no mercado, isso estava a penalizar os múltiplos a que negociavam as ações dos bancos portugueses. Além disso, por via da penalização nos rácios de capital, isso também penalizava a concessão de crédito à economia.

    Para isso, era preciso capital e acionistas disponíveis para cobrir as perdas associadas e “infelizmente, tirando o caso da CGD e os bancos espanhóis”, houve uma “dificuldade” a esse nível.

    Entretanto, porém, Carlos Costa diz que a questão [dos ativos problemáticos] está “quase resolvida”.

  • Reestruturações de dívida a grandes devedores? São situações que se passam a "um nível muito micro”

    Mariana Mortágua pergunta a Carlos Costa sobre reestruturações de dívida que só adiaram o registo de perdas em casos de grandes devedores, como Luís Filipe Vieira e Bernardo Moniz da Maia – e essa prática decorreu até 2015, sublinha a deputada do BE.

    “Não lhe posso responder a isso porque não estava no Novo Banco, obviamente. A única coisa que posso dizer é que há regras muito precisas em termos de supervisão para evitar o chamado ‘evergreening’”, diz Carlos Costa.

    Mas qual foi a posição que o supervisor quanto a isso? Carlos Costa sublinha que isso foi em 2015 e desde novembro de 2014 que a supervisão era do Mecanismo Único de Supervisão, o SSM. “Haverá uma explicação mas não serei que a posso propiciar”, diz Carlos Costa.

    Se o banco tivesse tido que assumir 300, 400, 500 milhões de euros em perdas destes clientes, como é que tinha sido? Carlos Costa lembra que não tinha “responsabilidade direta sobre a supervisão” e estas situações “passam-se a um nível “muito micro”.

    Mas sabia destas práticas? “Uma coisa é saber delas, outra coisa é saber o tratamento que foi dado em termos prudenciais e o tratamento que foi dado em termos contabilísticos. Não posso responder porque se respondesse estaria a fazê-lo na base de uma presunção, que é a presunção das regras aplicadas – deixo essa questão para quem acompanhou diretamente o assunto”.

  • Carlos Costa confirma que foi Maria Luís que definiu valor do capital inicial pelo mínimo

    Mariana Mortágua, do BE, pergunta a Carlos Costa se foi o Banco de Portugal que criou a narrativa de que não haveria custos para os contribuintes e que o banco podia ser vendido com lucro.

    “Não encontra nenhuma declaração minha de que o banco poderia ser vendido com lucro, apenas ‘a um preço interessante’, mas isso não tem a ver senão com a obtenção do melhor preço nas circunstâncias”, responde Carlos Costa.

    Sobre a resolução, Carlos Costa não sabe dizer se foi o Banco de Portugal que fez a notificação preliminar à Comissão Europeia, alguns dias antes. “Se o fez foi na condição de mandatado, porque os contactos com a Comissão Europeia são sempre feitos pela Ministério das Finanças”, diz Carlos Costa, recusando – “claro que não” – que o Ministério das Finanças estaria alheado dessa comunicação.

    A deputada do BE alega, também, que há “declarações contraditórias” sobre o capital inicial e sobre a informação de que Maria Luís Albuquerque teria “limitado” o montante a 4.900 milhões de euros, quando o Banco de Portugal recomendara cerca de 500 milhões a mais.

    “O dr. Costa Ferreira e prof. Pedro Duarte Neves tinham mandato para tentar criar uma almofada de capital tão grande quanto possível – e fizeram o seu papel. De lá, vieram com uma resposta. Não era necessário rasgarmos as nossas vestes, depois veríamos o que podíamos fazer, mas 4,9 mil milhões foi o valor encontrado que satisfez as três preocupações [BdP, Ministério das Finanças e Comissão Europeia]”.

    Quem é que determinou que o montante ficasse no mínimo do intervalo possível? “Foi o Ministério das Finanças, mas se não tivesse sido o Ministério das Finanças tínhamos depois um problema com a Comissão Europeia”, responde Carlos Costa.

    Então, “o Ministério das Finanças fez o papel da Comissão Europeia”, acusa Mariana Mortágua, advogando que Maria Luís Albuquerque “prestou declarações falsas” à comissão de inquérito ao dizer que não tomou uma decisão política na definição do valor.

1 de 3