São 450 metros quadrados num edifício de linhas modernas, em parte revestido a xisto, plantado no meio da planície. Foi aqui que um casal milionário holandês decidiu criar um museu de arte contemporânea.

É o Centro de Arte Quetzal, situado em Vila de Frades, concelho da Vidigueira, Baixo Alentejo, zona há muito conhecida pela terra fértil e pelo cultivo de uvas. A envolvente é a Quinta do Quetzal, que já hoje recebe visitantes para provas de vinhos.

O Centro vai ser inaugurado a 7 de setembro, com a presença de ministros e artistas contemporâneos. Tem por objetivo mostrar a coleção privada do casal Cees e Inge C. de Bruin-Heijn, natural da Holanda e responsável pelo projeto.

São ambos colecionadores e mecenas, destacando-se o trabalho de Inge como diretora da feira Art Basel, pólo de Basileia, e consultora na área de multimédia e performance do MoMA, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

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Discretos, Cees e Inge preferem não divulgar a extensão da coleção, que se julga ser composta por milhares de peças, incluindo vídeo, pintura, fotografia e escultura. Em 2010, encontravam-se entre as duzentas maiores colecionadores do mundo, segundo a revista ArtNews.

O valor das obras e os artistas incluídos também não são divulgados. Dizem os assessores do casal que não vale a pena procurar na internet porque essa informação é confidencial. Sabe-se que os portugueses Julião Sarmento e Francisco Tropa estão no acervo, pouco mais.

É por isso que na Vidigueira a coleção Bruin-Heijn será exibida em parcelas, nunca na íntegra. A exposição inaugural, que já pode ser vista por estes dias, inclui apenas três nomes: Robert Heinecken (1931-2006), Pat O’Neill (n. 1939), e Trisha Baga (n. 1985), todos com trabalhos de cinema, vídeo ou performance.

“Optámos por começar com obras audiovisuais, que talvez sejam mais adequadas para um grande público que não é conhecedor profundo de arte contemporânea”, explica a diretora do Centro, Joana Mexia de Almeida.

A inauguração tem lugar a 7 de setembro, uma quarta-feira. Autocarros com convidados saem do centro de Évora às três da tarde. Já em Vila de Frades, decorre uma vista livre ao Centro de Arte Quetzal, seguida de visita à adega e cerimónia de abertura do Centro, com discursos, e um jantar sentado até à meia-noite.

No dia anterior, jornalistas e especialistas da área do vinho são convidados a fazer visita semelhante, com prova de vinhos e jantar.

Os organizadores prometem para o dia 7 a presença das “mais importantes personalidades do mundo da arte contemporânea”, mas não divulgam quais, e informam que entre os convidados portugueses estarão o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes.

“A família tem casa de férias em Silves há 40 anos, tem uma ligação muito próxima com Portugal e são apaixonados pela nossa cultura e gastronomia. Por isso, em 2002, iniciaram a compra de terrenos na zona da Vidigueira para começarem um projeto vinícola que hoje tem 50 hectares”, explica Joana Mexia de Almeida. “Nos últimos anos decidiram fazer um novo investimento, que teria de ter elementos diferenciadores em relação aos outros produtores de vinho do Alentejo, que são mais de 250. Como são donos de uma coleção de arte, criaram este Centro. Fazem questão de que a arte esteja ao alcance de todos”, acrescenta aquela responsável.

Em rigor, o Espaço de Arte Quetzal já está a funcionar e aberto ao público – com entrada livre e horário de quarta a domingo, das 10h00 Às 20h00. A abertura suave iniciou-se em junho, ainda que a inauguração oficial só agora aconteça.

Cada exposição prolonga-se por seis a 12 meses, permitindo a renovação cíclica com novas propostas, estando o espaço equipado com paredes amovíveis, para criação e recriação de salas à medida das obras. O edifício é assinado pelo arquiteto alentejano Filipe Nogueira Alves.

A próxima mostra está marcada para fevereiro de 2017, mas ainda não são conhecidos detalhes, até porque os critérios de seleção – por temas, épocas, artistas ou linguagens – estão a ser definidos.

O número de visitantes esperados é incerto, pois o projeto é “totalmente experimental, nunca foi testado na região e não há indicadores possíveis”, segundo Joana Mexia de Almeida, a qual acrescenta que o público procurado pelo Centro são os portugueses mas sobretudo os turistas estrangeiros de um segmento designado “fly and drive”: os que viajam de avião, alugam carro à chegada e partem à descoberta sem programa definido.

A inauguração do Centro de Arte será acompanhada pela abertura oficial de uma loja com produtos da região, livros de arte e vinhos, e de um restaurante com carta assinada pelo chef Pedro Mendes, cujo menu fixo é feito com base em produtos da zona e de época. Funciona de quarta a domingo, para almoços e petiscos ao fim da tarde, a que acresce horário de jantar às sextas e sábados. O preço do menu é de 19 euros por pessoa.

Neste contexto, Cees e Inge de Bruin-Heijn querem ainda criar residências artísticas para portugueses e estrangeiros. O espaço para o efeito já foi comprado em Vila de Frades, mas a data de abertura só mais tarde se conhecerá.