“Não são os arquitetos que fazem a arquitetura”, afirma André Tavares, curador da Trienal de Arquitetura de Lisboa. “A arquitetura é uma construção coletiva, é feita pelos clientes, os construtores, os municípios, o estado, os reguladores. Os arquitetos têm a responsabilidade de dar forma, literalmente, a todas estes interesses, estejamos a falar de construir a casota do cão ou uma estação de comboios.”

A quarta edição da Trienal arranca esta quarta-feira, 5, e André Tavares, que é também arquiteto, crítico e editor, entende que o evento continua fiel ao espírito original: aproximar as pessoas da arquitetura, para que estas “saibam exigir melhor arquitetura” e entendam que a disciplina “está presente na vida de todos e tem um papel fundamental na organização do nosso futuro”.

Sob o mote “A Forma da Forma” (título homónimo de uma exposição), a Trienal apresenta um programa extenso e nem sempre fácil de assimilar, ou não se prolongasse por mais de dois meses.

São cinco as principais propostas:

  • quatro grandes exposições,
  • quatro debates com entrada paga (ciclo “Talk, talk, talk”),
  • vários “eventos satélite” (conferências e instalações),
  • entrega de três prémios, incluindo o Prémio Carreira Trienal de Lisboa, a anunciar no sábado, 8,
  • propostas paralelas, escolhidas com base numa convocatória internacional.

As quatro exposições podem ser vistas no MAAT (novo museu de Lisboa, na Avenida de Brasília), no Centro Cultural de Belém, na Fundação Gulbenkian e no Palácio Sinel de Cordes (sede da Trienal, junto à Feira da Ladra).

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O Observador pediu a André Tavares que explicasse cada uma delas.

A Forma da Forma
junto ao MAAT — Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, Av. de Brasília
6 de outubro a 12 dezembro, entrada livre

O visitante vai ver formas e imagens de todo o mundo, nem sempre de arquitetura, na tentativa de se provar que “as construções que fazemos dialogam com outras formas do passado ou formas nem foram ainda construídas, apenas imaginadas”, explica André Tavares. Mariabruna Fabrizi e Fosco Lucarelli foram convidados a escolher imagens alojadas na plataforma online que criaram, socks-studio.com, e três arquitetos que nunca tinham trabalho em conjunto ficaram responsáveis pelo espaço expositivo junto ao MAAT (no Pátio do Carvão). São eles o português Nuno Brandão Costa, a dupla belga Kersten Geers e David Van Severen e o americano Johnston Marklee. Fizeram uma construção efémera e insólita.

Obra
Fundação Gulbenkian
7 de outubro a 11 de dezembro, entrada livre

A exposição pega em elementos recolhidos em estaleiros de obras e trata-os como se fossem pinturas. “É como pegar numa folha de papel que sobrou de um estaleiro e tratá-la como um Rembrandt”, resume o curador André Tavares. “Isto remete para o rigor que é necessário ter na construção, muito longe da imagem convencional do estaleiro como lugar sujo, confuso, desorganizado.” Dividida em sete módulos, a mostra fala da relação entre os edifícios acabados e o processo que até aí conduz, através de exemplos históricos, da década de 70 ou até do século XIX. “No fundo, pomos em destaque a dimensão social da arquitetura. As formas que os arquitetos desenham têm impacto na maneira como são construídas, desenhar uma forma não é inconsequente. Por outro lado, certas práticas construtivas influenciam também o desenho das formas”, explica o curador.

O Mundo nos Nossos Olhos
Garagem Sul do Centro Cultural de Belém
8 de outubro a 15 de janeiro de 2017, bilhetes a 4 euros

Não há cidades portuguesas representadas. “Aconteceu assim, verificámos a meio do projeto que não havia ligação a Portugal, mas depois pareceu-nos estranho escolher um ou dois exemplos só para preencher uma quota”, justifica o curador. Assim, a exposição, sobre a como se representam as cidades contemporâneas, exibe maquetas, desenhos e filmes, uns mais óbvios, outros a pedirem leituras demoradas, baseados em contributos de dezenas e dezenas de ateliers de todo o mundo.

Sines: Logística à Beira-Mar
Sede da Trienal de Lisboa, Campo de Santa Clara
11 de outubro a 10 de dezembro, entrada livre

Trabalhos de estudantes dos 14 cursos superiores de arquitetura e arquitetura paisagista em Portugal. “Trabalhos de grande qualidade”, classifica André Tavares. O desafio foi lançado há dois anos: que olhar tem a academia sobre Sines e as transformações profundas introduzidas com a construção do respetivo porto. “Não quisemos que as escolas respondessem a uma encomenda específica, mas mostrassem a prática pedagógica, as suas aproximações e estratégias perante uma questão destas.” Alguns dos selecionados serão distinguidos no próximo sábado nas várias categorias do Prémio Concurso Universidades, da Trienal.