A primeira metade dos anos 90 foi a época dourada da adaptação a videojogos dos filmes e séries da Disney em exibição na altura. Os videojogos produzidos nesta altura pela mão da Capcom e da defunta Virgin Games não eram apenas meros companions das franquias em venda, e eram por si só alguns dos melhores videojogos lançados nos respetivos anos de lançamento.

O cinema de animação da Disney faz parte do crescimento de quase todas as gerações. Quem perdeu o contacto com o cinema de animação como “prenda” da idade adulta acaba invariavelmente por reconectar-se quando chegam os filhos, sobrinhos ou primos mais novos às suas vidas. Para todos estes Lightning McQueen (ou Faísca McQueen na versão portuguesa) é mais do que um carro de corrida com olhos e alma humana, é uma das maiores paixões das crianças ao mesmo tempo que é uma espécie de máquina de imprimir euros e dólares (e libras, vá) da casa do tio Disney.

A preparar o regresso ao cinema da franquia criada por John Lasseter, Cars 3: Driven to Win surgiu no mercado há algumas semanas como uma óbvia e clássica estratégia de aproveitar o furor e o mediatismo que os filmes da Disney-Pixar movimentam à sua volta.

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Cars 3: Driven to Win foi desenvolvido pelos Avalanche Studios, os mesmos que criaram o jogo Cars 2 (baseado obviamente no filme com o mesmo nome) e que foram “despedidos” pela Disney no ano passado, após o cancelamento da série de videojogos/toys-to-life Disney Infinity, sendo entretanto adquiridos pela gigante WB Games.

Apesar de ser um jogo (aparentemente) destinado para crianças, Cars 3: Driven to Win é um jogo de corridas extremamente difícil, até nos modos de dificuldade média. E não o é pelos controlos que muitas vezes deixam algo a desejar na precisão, mas porque a inteligência artificial e a eficácia dos restantes carros controlados pelo computador tornam-nos em verdadeiros desafios do asfalto.

À semelhança do seu grande competidor neste segmento de jogos de corridas familiares, o Mario Kart 8, Cars 3: Driven to Win vai mais longe do que a tentativa de mimetizar o enredo do filme (como aconteceu no primeiro jogo de adaptação do primeiro Cars), e despoja-se de quase todas as sequências vídeo e diálogo para se centrar quase exclusivamente na ação.

É aliás com esse jogo que muitos dos paralelismos podem ser feitos, acabando este por perder em comparação com a quase-perfeição do título da Nintendo. O que não invalida, ainda assim, que não seja uma ótima proposta para toda a família.

Para além dos modos de corrida clássicos e os de corrida-batalha semelhantes a Mario Kart e que já vinham de Cars 2, há aqui também modos de acrobacias em que temos de conseguir fazer o máximo de habilidades e as melhores pontuações que os nossos adversários, para além do drifting (tão popularizado por Fast & Furious). A condução em marcha-atrás que McQueen aprende no primeiro filme com o seu amigo Tow Mater é também aqui uma das possibilidade em cada corrida, e que nos permite ir enchendo a barra de Turbo.

Há muitos desafios para ultrapassar em todos os modos e é nesta progressão que vamos desbloqueando novos carros para jogar, a sua grande maioria personagens introduzidos no filme que estreia na próxima quinta, inéditos no universo de McQueen.

Uma novidade na série é a introdução de Master Events, ou seja, desafios que decorrem e que nos colocam em oposição a um personagem da série que ao serem derrotados (seja em corrida, corrida-batalha ou acrobacias) passam a fazer parte do elenco selecionável no nosso jogo.

O número de carros/personagens disponível acaba por ser o grande calcanhar de Aquiles deste Cars 3: Driven to Win. Qualquer pessoa que se veja na encruzilhada de oferecer personagens da franquia como prenda a uma criança sabe que existem literalmente centenas de personagens, cada um com a sua própria identidade e é claro, com existência física e colecionável materializada em carros de brincar feitos de metal. Tendo isto em conta e olhando para o gigantesco elenco disponível em Mario Kart 8 Deluxe, Cars 3: Driven to Win com os seus 22 personagens disponíveis empalidece por comparação, e faz-nos desejar que muitos dos personagens clássicos da série fossem reintroduzidos. Facto que não seria difícil se tivermos em conta que a própria Avalanche ainda deve dispor de todos os assets do seu jogo anterior.

Basta vermos os trailers do filme para sentir o salto técnico que foi dado entre os 3 filmes da série. Essa evolução gráfica é bem patente neste jogo, em especial na versão da PS4 onde o detalhe visual acaba por surpreender-nos. Especialmente quando muitos consideram ser “apenas” um jogo para crianças feito a partir de um filme.

Cars 3: Driven to Win é um ótimo jogo de corrida para toda a família, e está muitos furos acima de outras infelizes adaptações de filmes a videojogo que se limitam a sorver do seu mediatismo. É sem sombra de dúvida um daqueles jogos que são comprados para os mais novos que facilmente os mais velhos acabarão por jogar e divertir-se.

O seu nível de dificuldade vai deixar muitos pais e filhos colados ao sofá na tentativa conjunta de ultrapassar os desafios e desbloquear os 22 carros importados do filme e que transformam este jogo numa excelente companhia para antes e depois de uma ida ao cinema para conhecer a mais recente história de McQueen e do seu novo rival, Jackson Storm.

O filme Cars 3 estreou a 16 de junho nos EUA e chegará às salas de cinema portuguesas na próxima quinta-feira, dia 13 de julho.

Ricardo Correia, Rubber Chicken