A peça, da autoria da dramaturga alemã Thea Dorn, coloca frente a frente a realizadora Riefenstahl e a atriz Dietrich, ambas na reta final das suas vidas, num esforço da criadora de “O Triunfo da Vontade” para realizar um novo filme, que tenha a estrela de “O Anjo Azul” como protagonista.

“A escolha da peça partiu de uma vontade que eu tinha de encenar uma coisa com a Fernanda Lapa. Eu já tinha sido várias vezes encenado por ela e há uns tempos perguntei-lhe se ela não gostaria de ser encenada por mim. Ficou contente com isso e começou à procura de possibilidades de peças para fazermos”, explicou à Lusa o encenador, João Grosso, que realçou que devido às restrições orçamentais teria de ser um trabalho com poucos personagens.

O encenador disse que encararam a escolha de “Divas Prussianas, Loiras como Aço” como interessante por se tratar de “duas figuras muito conhecidas e que tiveram um grande estrelato no século XX, cada uma à sua maneira, e que acabaram, na sua velhice, no anonimato”, tendo sido “recuperadas depois da morte”.

No entanto, as duas personagens simbolizam também “as duas ideias estruturantes da história da Europa no século XX e que transbordam para o século XXI”, ou seja, por um lado, a democracia e a aceitação e, por outro, os valores do fascismo.

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Fernanda Lapa, que assinala em 2014 os 50 anos de carreira, reconheceu que a peça representou um “desafio” por tudo o que Riefenstahl, realizadora icónica do regime nazi, simbolizou: “A minha primeira reação a esta personagem é a de um ser repelente. E, portanto, tive muita dificuldade em ser simpática em cena, sorridente, porque eu via sempre aquela mulher [como] uma nazi”.

Por seu lado, Isabel Ruth, que interpreta Marlene Dietrich, disse ter descoberto que a atriz, que abandonou a Alemanha pelos EUA, era uma mulher “muito forte”, mas “muito dócil também”.

No palco, Isabel Ruth e Fernanda Lapa estão no quarto de Dietrich, entre vários blocos de cartão com rostos de atores conhecidos (“os meus homens”, diz Marlene Dietrich a dada altura), uma cama envolta em plástico e uma pintura como fundo.

É nesse espaço que as duas confrontam as suas ideias e que Riefenstahl procura dar início ao seu novo projeto, que só terá financiamento caso Dietrich aceite ser parte dele.

“Há duas maneiras de envelhecer, há o exterior, que nós tentamos preservar o máximo possível da beleza e da saúde, mas depois também há o envelhecer da sabedoria, da compreensão, do amor pelos outros, do respeito”, declarou Isabel Ruth.

A peça, uma coprodução entre a Escola de Mulheres – Oficina de Teatro e o Cineteatro Constantino Nery, prossegue depois para Lisboa, onde estará entre 11 e 19 de dezembro no São Luiz Teatro Municipal.