Era, talvez, o lado menos conhecido da vida de Nicolau Breyner. Um dos nomes maiores da televisão portuguesa conservava, também, um lado de intervenção política, cujo momento mais alto foram as eleições autárquicas de 1993. Nesse ano, entrava na corrida à Câmara Municipal de Serpa, pelo CDS-PP e quase surpreendia. Em terra de comunistas, acabaria por perder apenas por “1200 votos”, um resultado inesperado tendo em conta a cor política da autarquia e a fraca implantação do CDS naquela região.

Mais tarde, em 2013, seria candidato à Assembleia Municipal de Sintra do ‘SIM – Movimento Independentes por Sintra’, sob a sigla do Partido da Nova Democracia (PND). Um ano depois, em 2014, o “Senhor Contente” avançou para as eleições europeias como o rosto de uma coligação de pequenos partidos, mais uma vez com o apoio do PND. Apresentava-se com uma coligação “eurocrítica” e acabaria por conseguir 23.046 dos votos (0,70%), tendo ficado à frente de partidos como o PTP e o PPM.

Seria, no entanto, na corrida à Câmara de Serpa que mais deu nas vistas. Em 2010, em entrevista ao Público, Nicolau Breyner falava sobre essa experiência e de como queria fazer mais pela terra em que nasceu.

“Falhei por 1200 votos, o que foi muito bom. Era apoiado por um partido que ainda hoje não tem implantação nenhuma no Alentejo, o CDS/PP, e tinha contra mim um adversário fortíssimo, de quem sou amigo, o João Rocha, que nessa altura já tinha muitos anos de câmara, apoiado pelo Partido Comunista. Esteve quase a ser, mas não foi. A minha visão não me permite ser ministro, secretário de Estado ou deputado. Ser presidente da Câmara é diferente, é a única maneira de agir diretamente com as pessoas”, dizia na altura.

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Nessa mesma entrevista, o ator revelava, ainda, que tinha recusado um convite para secretário de Estado da Cultura. “Não quereria ser presidente da Câmara de uma terra que não fosse a minha. O que disse foi que podia fazer coisas por aquela terra. Não fiz e nunca mais tive ambições políticas. Há muitos anos foi-me oferecido um lugar que não aceitei, como não aceitaria agora. Fui sondado para secretário de Estado da Cultura”.

Recusou, porque não conseguia ficar “atrás de uma secretária” – dava “em doido”, garantiu. Na Câmara, ao menos, seria diferente. Ia conseguir ver as coisas com os próprios olhos, dizia Nicolau Breyner, antes explicar que não tinha “perfil” para cargos governamentais.

Não tenho perfil, digo tudo o que penso, seria uma desgraça total. Meteria vários Governos em sarilhos de certeza“.

O fenómeno mediático apoiado pelo então jornalista (e futuro líder do CDS), Paulo Portas, quase destronava os comunistas do poder. Apesar da derrota, os centristas acabariam por eleger dois vereadores nessas eleições, um resultado histórico.

As ligações ao CDS, no entanto, começaram bem antes. Em 1986, durante a corrida presidencial que pôs frente-a-frente Mário Soares e Freitas do Amaral, Nicolau Breyner, entre outros artistas, acabaria por participar no hino do líder centrista, “P’rá Frente Portugal”, como era aqui recordado. O “Eu Show Nico” participaria, ainda, no disco “O Povo Canta Freitas do Amaral”.

Mesmo depois das eleições europeias, a última participação política de Nicolau Breyner, o ator nunca deixou verdadeiramente de se empenhar na vida política. Meses depois das europeias, o ator acabaria por participar num encontro promovido por António Costa sobre cultura, ainda o ex-autarca lutava pela liderança do partido.

Ainda no domingo, o ator fez questão de visitar Marcelo Rebelo de Sousa, quando o novo Presidente da República visitou a Livraria Sá da Costa para a inauguração da exposição de pintura de Pedro Homem de Mello. Os dois terão trocado um forte abraço, segundo relatava o Diário de Notícias. Marcelo já falou sobre a morte de Nicolau Breyner. “Tive um grande desgosto não só por ser um grande artista, um grande coração e um grande amigo”.