A rodagem de “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam, no Convento de Cristo, em Tomar, cumpriu “todas as condições estipuladas” e teve “sempre acompanhamento técnico” dos profissionais do monumento, garantiu esta segunda-feira a produtora Ukbar Filmes.

Em resposta a um pedido de esclarecimento, os produtores Pablo Iraola e Pandora da Cunha Telles reconheceram que se verificaram alguns danos na rodagem: seis telhas convencionais partidas e “quatro fragmentos pétreos de dimensões reduzidas”.

Os danos “foram devidamente contabilizados pela equipa de peritagem associada ao convento, que tão bem conhece o espaço e fez a sua avaliação antes e depois da rodagem”, afirmam os produtores associados desta produção internacional.

Sobre a recuperação dos danos, a Ukbar Filmes refere que “irão ser aplicadas as mesmas técnicas que se aplicam habitualmente para este tipo de construção e que o convento utiliza ano após ano para tratar a deterioração habitual do mesmo”.

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Em causa estão alegados estragos causados no Convento de Cristo, monumento nacional e Património Mundial da UNESCO, durante a rodagem do filme e denunciados numa reportagem da RTP emitida na sexta-feira.

Na reportagem, vários funcionários falam de telhas e pedras partidas, árvores cortadas e danos no edifício por ter sido ateada uma fogueira num claustro.

Desde o primeiro momento, tivemos consciência da responsabilidade de estar a utilizar um espaço histórico, que para além de monumento nacional é património mundial, e nunca nos passaria pela cabeça desvirtuar”, sustentam os produtores.

Segundo a Ukbar Filmes, o corte de árvores foi autorizado pelos serviços do convento, por não serem “espécimes autóctones” e que “deveriam ser substituídos”, e o fogo foi ateado com a supervisão do comandante do Corpo dos Bombeiros Municipais de Tomar e de elementos da Proteção Civil.

Este filme trouxe a Portugal capital genuíno e criou trabalho para técnicos, atores e empresas portuguesas. Veio demonstrar também que Portugal tem talento e capacidade para estar a par de países com muito mais avultados recursos económicos”, sublinharam os produtores.

Por causa da reportagem da RTP, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), que tutela o mosteiro, revelou à Lusa que vai abrir um inquérito para apurar a veracidade sobre alegados estragos e o Bloco de Esquerda requereu uma audição parlamentar do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, com caráter de urgência.

O ministro da Cultura poderá ser questionado sobre o assunto já na terça-feira, dia em que está marcada uma audição parlamentar para “discussão das políticas no âmbito da cultura” e sobre o ato de vandalismo ocorrido recentemente no parque arqueológico de Foz Côa.

“O homem que matou D. Quixote” é uma coprodução entre Portugal, Espanha, França, Bélgica e Inglaterra, com um orçamento total de 16 milhões de euros. O elenco incluiu Adam Driver, Jonathan Pryce, Stellan Skarsgard, Olga Kurylenko, Rossy de Palma e Joana Ribeiro, além de centenas de figurantes locais.

A rodagem do filme esteve recentemente envolta em polémica, com processos a decorrer em tribunal entre Terry Gilliam e o anterior produtor português do filme, Paulo Branco.