O Teatro Meridional estreia, na próxima quarta-feira, 5 de maio, em Lisboa, a peça “Teoria da Relatividade”, de Rui Xerez de Sousa, escrita em confinamento e que pode ser entendida como “uma grande metáfora sobre a censura”.

“Quisemos lançar o desafio ao Rui Xerez de Sousa para que pensasse num texto que evocasse aquilo que estamos a passar de mais invisível, e que passa pela inquietação, pelo medo, por estas vias digitais”, explicou o encenador Miguel Seabra aos jornalistas, à margem de um ensaio de imprensa.

“Teoria da Relatividade” é a peça com a qual o Teatro Meridional retoma a atividade em sala, depois de três meses de paralisação dos espetáculos, durante o segundo período de confinamento.

Com interpretação de Lígia Roque, Alfredo Brito, Emanuel Arada e Miguel Nunes, a peça versa sobre uma escritora de livros para crianças que se vê acusada de ter escrito uma sátira ao primeiro-ministro, através da adaptação da história infantil “Pinóquio”.

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Na peça, dois homens, sob as ordens de um poder político controlador, vigilante e autoritário, pressionam a escritora, e chantageiam o marido dela, a abdicar da liberdade criativa e de pensamento e a assumir a culpa de crítica encapotada ao primeiro-ministro.

“Qual é o lugar da espontaneidade? O que é verdade, o que é mentira? Qual o lugar do outro na minha vida; as cedências que, por pressão, eu faço e deixo de fazer? Este espetáculo é uma grande metáfora sobre a censura”, resumiu Miguel Seabra.

Segundo o encenador, “Teoria da Relatividade” foi encomendado a Rui Xerez de Sousa e escrito no começo deste ano, encaixando no perfil do Teatro Meridional: “Urgência de dizer alguma coisa que responda a uma inquietação artística face ao panorama do estado do mundo”.

O trabalho de “Teoria da Relatividade” começou ainda em confinamento, com as primeiras leituras de texto com o elenco à distância, em reuniões por Zoom, e depois em palco com máscaras, desinfetantes, testes rápidos.

“Nós temos todos de conviver com uma realidade diferente. Estamos todos modificados”, disse Miguel Seabra, a propósito do último ano, durante o qual o Teatro Meridional ainda teve oportunidade de estrear outra peça já marcada pela pandemia, intitulada “Os Silvas, uma família confinada”, de Mário Botequilha.

No ensaio de imprensa, Miguel Seabra admitiu a “posição privilegiada” e a segurança na dinâmica da companhia, por ter tido apoio financeiro da Direção-Geral das Artes, e, num certo sentido, o encenador referiu-se ao privilégio de se estar a viver esta pandemia.

“É uma coisa muito intensa com muitos lados negativos. Mas, ao mesmo tempo, tem um potencial democrático, porque é transversal. (…) Obrigou a parar, o que proporciona a possibilidade de reflexão, profissional, pessoal. E nós programamos, programamos, antecipamos possibilidades de alternativas. E o caminho faz-se caminhando. Vamos ao sabor da onda e temos a vantagem da latinidade, que é a capacidade qualificada de improviso”, disse.

Segundo Miguel Seabra, a programação do Teatro Meridional está desenhada até ao final de 2022, mas com margem para adaptação ao contexto pandémico.

“Teoria da Relatividade” estreia-se a 5 de maio e ficará em cena até 6 de junho, com sessões às 20h00, durante a semana e, aos fins de semana e feriados, às 11h00.