Estava no meio da MEO Arena (agora Altice) quando aos primeiros acordes de “I’m Ready” olhei para o ecrã gigante e durante dois segundos pensei genuinamente que estava no concerto errado. Na imagem aumentada vi um velho. A voz era a mesma, os solos de guitarra eram os mesmos, mas o cabelo estava agora impecavelmente puxado para o lado em linhas simétricas, como me lembro de ver o meu avô fazer com um pente azul pequenino; a cara estava invadida por rugas e os olhos engolidos por papos. Bryan Adams tinha uns 50 e tal anos na altura (agora tem 61), não era um velho, obviamente, mas foi isso que vi naquele instante. E chocou-me. Porque até ali, mesmo durante aquele espetáculo, tinha continuado a ver o puto de 20 anos e casaco de cabedal que cantava “(Everything I Do) I Do It For You” na banda sonora de “Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões”, de 1991. Como é que era possível aquilo ter acontecido?
Também parece que estão a ler o texto errado, não é? Calma, isto tem um propósito, estamos a chegar lá. Quando adoramos tanto alguém — cantor, ator, não interessa —, ficamos presos num momento de contemplação. O artista em causa pode fazer outras coisas igualmente boas depois daquilo mas, por algum motivo, é aquele momento preciso no tempo que o nosso cérebro escolhe guardar. Talvez porque corresponda a uma etapa da nossa vida fulcral por alguma razão. Crescemos, evoluímos, envelhecemos, mas os nossos ídolos não. Isto está a fazer sentido para alguém? Estou a desviar-me outra vez do assunto?
[o trailer da segunda temporada de “The Morning Show”:]
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