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O dia em que o Tejo desapareceu
Faça scrollDos dois lados da fronteira, Conceição e Robert vivem do Tejo. Em setembro, o rio desapareceu-lhes da frente. Tudo por uma decisão política que poucos percebem. Os autarcas da região e os ambientalistas culpam as falhas no protocolo luso-espanhol sobre a gestão dos rios; o Governo diz-se de mãos atadas e não quer conflitos com Espanha. O que significa que o desastre do ano passado pode repetir-se.
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Portugal e Espanha partilham mais de uma dezena de rios e ribeiras; os dois países são responsáveis pela gestão destes rios.
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Os dois países já assinaram vários protocolos para a gestão dos rios. O mais recente, que está hoje em vigor, foi assinado em 1998 em Albufeira, cidade que lhe deu o nome.
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A Convenção de Albufeira determina, entre outros aspetos, a quantidade de água que tem de passar de Espanha para Portugal todos os anos em cada rio partilhado.
No caso do rio Tejo, Espanha está obrigada a deixar passar, no mínimo, 2.700 hectómetros cúbicos de água por ano.
A barragem de Cedillo é a última porta do Tejo internacional antes de o rio entrar em território português.
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Na albufeira criada pela barragem confluem dois rios: o Sever, a sul, e o Pônsul, a norte.
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Em setembro do ano passado, a barragem foi o palco de um desastre ambiental que revelou falhas na Convenção de Albufeira.
A raiz do problema: dos 2.700 hectómetros cúbicos que Espanha tem de enviar a Portugal, apenas 995 estão divididos pelos trimestres do ano.
Os restantes 1.705 podem ser enviados em qualquer momento.
Em julho, a dois meses do fim do ano hidrológico, Espanha ainda tinha de enviar cerca de 30% do caudal mínimo anual.
Para cumprir com o mínimo, teve de libertar grandes quantidades de água nas últimas semanas do ano hidrológico, esvaziando a barragem de Cedillo.
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Mas, desta vez, Espanha não compensou o esvaziamento de Cedillo com a libertação de mais água a partir da barragem de Alcántara...
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...que é necessária para abastecer a cidade de Cáceres. Por isso, o rio Pônsul ficou seco.
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Os efeitos dramáticos do vazamento começaram a sentir-se no fim de setembro, primeiro no rio Pônsul, que ficou reduzido a uma ribeira.
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A sul, a descida da albufeira levou também o rio Sever a baixar.
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Estes moinhos estavam submersos desde a construção da barragem, na década de 70. Em setembro de 2019, depois do esvaziamento da albufeira, voltaram a aparecer.
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A descida do nível do Tejo obrigou à suspensão da pesca e da navegação durante dois meses, afetando dezenas de empregos em Portugal e Espanha.
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Conceição Rosa, 63 anos, esteve dois meses e meio sem pescar e sem vender peixe aos restaurantes de Castelo Branco.
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Robert Ramallete, patrão do barco turístico do Tejo há oito anos, teve de cancelar viagens marcadas até ao final de 2019. Só prevê recuperar o ritmo do negócio em março deste ano.
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Dois meses depois, o nível das águas voltou a subir. Até meio de dezembro, Espanha regularizou a situação em Cedillo.
Mas o desastre deixou claro que o problema é maior. Muitos defendem que a Convenção de Albufeira precisa de ser revista para que o problema não se repita.
Conheça nestes artigos a origem do problema no rio Tejo, as histórias de quem foi afetado e as explicações do Governo:
Texto João Francisco Gomes
Vídeo Tiago Couto e Luís Vaz Fernandes
Edição Tiago Couto
Fotografia João Porfírio
Web design e desenvolvimento Alex Santos
Coordenação multimédia Catarina Santos
Coordenação editorial Sara Antunes de Oliveira