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O dia em que o Tejo desapareceu

João Francisco Gomes 04 fev. 2020, 21:09
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Dos dois lados da fronteira, Conceição e Robert vivem do Tejo. Em setembro, o rio desapareceu-lhes da frente. Tudo por uma decisão política que poucos percebem. Os autarcas da região e os ambientalistas culpam as falhas no protocolo luso-espanhol sobre a gestão dos rios; o Governo diz-se de mãos atadas e não quer conflitos com Espanha. O que significa que o desastre do ano passado pode repetir-se.

Portugal e Espanha partilham mais de uma dezena de rios e ribeiras; os dois países são responsáveis pela gestão destes rios.

Os dois países já assinaram vários protocolos para a gestão dos rios. O mais recente, que está hoje em vigor, foi assinado em 1998 em Albufeira, cidade que lhe deu o nome.

A Convenção de Albufeira determina, entre outros aspetos, a quantidade de água que tem de passar de Espanha para Portugal todos os anos em cada rio partilhado.

No caso do rio Tejo, Espanha está obrigada a deixar passar, no mínimo, 2.700 hectómetros cúbicos de água por ano.

A barragem de Cedillo é a última porta do Tejo internacional antes de o rio entrar em território português.

Na albufeira criada pela barragem confluem dois rios: o Sever, a sul, e o Pônsul, a norte.

Em setembro do ano passado, a barragem foi o palco de um desastre ambiental que revelou falhas na Convenção de Albufeira.

A raiz do problema: dos 2.700 hectómetros cúbicos que Espanha tem de enviar a Portugal, apenas 995 estão divididos pelos trimestres do ano.

Os restantes 1.705 podem ser enviados em qualquer momento.

Em julho, a dois meses do fim do ano hidrológico, Espanha ainda tinha de enviar cerca de 30% do caudal mínimo anual.

Para cumprir com o mínimo, teve de libertar grandes quantidades de água nas últimas semanas do ano hidrológico, esvaziando a barragem de Cedillo.

Mas, desta vez, Espanha não compensou o esvaziamento de Cedillo com a libertação de mais água a partir da barragem de Alcántara...

...que é necessária para abastecer a cidade de Cáceres. Por isso, o rio Pônsul ficou seco.

Os efeitos dramáticos do vazamento começaram a sentir-se no fim de setembro, primeiro no rio Pônsul, que ficou reduzido a uma ribeira.

A sul, a descida da albufeira levou também o rio Sever a baixar.

Estes moinhos estavam submersos desde a construção da barragem, na década de 70. Em setembro de 2019, depois do esvaziamento da albufeira, voltaram a aparecer.

A descida do nível do Tejo obrigou à suspensão da pesca e da navegação durante dois meses, afetando dezenas de empregos em Portugal e Espanha.

Conceição Rosa, 63 anos, esteve dois meses e meio sem pescar e sem vender peixe aos restaurantes de Castelo Branco.

Robert Ramallete, patrão do barco turístico do Tejo há oito anos, teve de cancelar viagens marcadas até ao final de 2019. Só prevê recuperar o ritmo do negócio em março deste ano.

Dois meses depois, o nível das águas voltou a subir. Até meio de dezembro, Espanha regularizou a situação em Cedillo.

Mas o desastre deixou claro que o problema é maior. Muitos defendem que a Convenção de Albufeira precisa de ser revista para que o problema não se repita.

Conheça nestes artigos a origem do problema no rio Tejo, as histórias de quem foi afetado e as explicações do Governo:

Texto João Francisco Gomes

Vídeo Tiago Couto e Luís Vaz Fernandes

Edição Tiago Couto

Fotografia João Porfírio

Web design e desenvolvimento Alex Santos

Coordenação multimédia Catarina Santos

Coordenação editorial Sara Antunes de Oliveira

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