O governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio Freitas, já falou ao telefone com o derrotado e diz que este é o “resultado da democracia”.

Em entrevista ao SPTV 2, da TV Globo, Tarcísio Freitas confirmou que falou com Bolsonaro, que estava “sereno, trabalhando no Palácio do Planalto normalmente”, ainda que “triste”.

“Não sei se ele vai falar hoje ou amanhã. Mas ele vai falar à nação. Ele é a grande liderança da direita que praticamente representa metade da população brasileira”, disse o governador.

“Obviamente [ele recebeu a derrota] com tristeza. A pessoa espera um resultado diferente, trabalha por isso. Então, acho que todos nós ficamos tristes com o resultado, mas é o resultado da democracia”, acrescentou, confirmando que é mais um dos apoiantes de Bolsonaro que, ao contrário do Presidente atual e candidato derrotado, reconhecem a derrota.

Enquanto Bolsonaro continua em silêncio, os seus apoiantes continuam a mostrar que estão revoltados com o resultado das eleições no Brasil, ou até mesmo a negá-lo.

A Folha conta que, em São Paulo, na zona sul, em frente ao Comando Militar de Sudeste, um grupo de apoiantes está a protestar e a pedir uma intervenção militar.

Ocupando uma das duas faixas da avenida Mário Kozel Filho, os manifestantes apostam em cânticos contra Lula e contra o comunismo, ou a favor de uma intervenção militar. Foi ainda celebrada a notícia, falsa, de que os camionistas pró-Bolsonaro teriam conseguido bloquear a Avenida Paulista.

Em vários momentos os manifestantes prometeram que “amanhã será maior”, presumivelmente numa referência a protestos ainda maiores.

Já são 140 as estradas bloqueadas por apoiantes de Jair Bolsonaro, em 18 estados diferentes, contabiliza a Folha de São Paulo. Ainda assim, a polícia continua a não intervir, garantindo que é essa a ordem que tem.

Segundo o jornal, há bloqueios em sítios como a principal via de São Paulo, que liga as regiões oeste, norte, central e leste da cidade; ou no Rio, nos acessos à ponte Rio-Niterói. Há ambulâncias e carros da polícia que não conseguem circular, havendo ainda registo de um caso de vandalismo e de algumas pessoas que se sentiram mal, presas em autocarros retidos pelos engarrafamentos.

Num vídeo a que a Folha teve acesso, agentes da polícia dizem aos manifestantes que só têm a ordem de permanecer no local e monitorizar os protestos: “A única coisa que eu tenho a dizer nesse momento é a única ordem que nós temos é estar aqui com vocês, só isso”, diz um deles. Outro, em Rio do Sul, é filmado a garantir que não multará ninguém.

Em comunicado, a polícia diz que sempre trabalhou com os objetivos de garantir uma “mobilidade eficiente”, a preservação da ordem pública e a segurança rodoviária.

O aviso está feito: a presidente do PT e diretora de campanha de Lula, Gleisi Hoffman, veio esta segunda-feira assegurar que a transição de governo acontecerá com ou sem a colaboração de Jair Bolsonaro, que continua em silêncio.

Apesar de Jair Bolsonaro ainda não ter feito qualquer declaração pública nem reconhecido a derrota, há mais um sinal nesse sentido, pelo menos na sua equipa. Isto porque o atual vice-presidente da República, Hamilton Mourão, enviou uma mensagem ao vice eleito de Lula, Geraldo Alckmin, em que reconhece a derrota.

Como escreve o Globo, trata-se do primeiro contacto entre os mais altos responsáveis políticos desde a eleição de ontem.

Segundo o jornal, nesta mensagem Mourão “coloca-se à disposição” para ajudar no processo de transição e garante que a residência oficial dos vice-presidentes, o Palácio Jaburu, estará de portas abertas para que Alckmin e a mulher conheçam o espaço.

O primeiro-ministro português considerou hoje que a eleição de Lula da Silva como Presidente do Brasil constitui uma “nova oportunidade” para uma reaproximação entre os dois países, mas rejeitou comentar o silêncio do chefe de Estado cessante, Jair Bolsonaro.

“Já tive oportunidade de falar com o Presidente eleito, Lula da Silva, de o felicitar pessoalmente. Todos nós temos muitas saudades do Brasil e esta é uma nova oportunidade para nos reaproximarmos neste ano em que assinalamos os 200 anos da independência do Brasil”, sustentou António Costa, à margem de uma visita ao recinto da Web Summit, que vai decorrer em Lisboa entre 1 e 4 de novembro.

O primeiro-ministro afirmou que o resultado das eleições presidenciais no Brasil “é uma vitória da democracia” e representa uma “esperança nova para o mundo”, uma vez que Lula da Silva, no primeiro discurso que fez depois de conhecidos os resultados, demonstrou que vai haver uma “grande contribuição do Brasil para o combate às alterações climáticas”.

Um assessor do ainda Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, revelou à CNN Brasil que o candidato presidencial do PL não fará nenhum discurso desde o Palácio da Alvorada esta segunda-feira. É expectável que as declarações de reação aos resultados da segunda volta das presidenciais seja feito a partir da morada oficial do Chefe de Estado brasileiro em exercício.

Segundo a referida estação televisiva, o aviso do assessor de Bolsonaro diz respeito a discursos desde o Palácio da Alvorada, mas não a possíveis posicionamentos nas redes sociais ou em outros meios.

Com uma grande manifestação a ser convocada, nas redes sociais, para diante do congresso nacional, continuam a ser tomadas precauções de segurança.

Segundo informação enviada ao Observador, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal fez uma “avaliação da equipa técnica de Segurança Pública” e decidiu restringir o acesso de carros à Praça dos Três Poderes.

“A medida se deu após identificação de possível ato marcado para o local feito por redes sociais”, explica a nota. Toda a zona da Esplanada dos Ministérios, onde se concentram os edifícios governativos, continua “monitorizada pela segurança pública, com suporte de câmeras e pelo serviço de inteligência, com apoio das forças de segurança”.

“As vias podem ser liberadas após nova avaliação”, lê-se na mesma nota. Entretanto, os jornais brasileiros dão nota de que nas redes se acumulam incentivos da parte de apoiantes de Bolsonaro aos camionistas que começaram hoje a bloquear estradas, em protesto.

Durante o dia, sucederam-se as partilhas de vários líderes mundiais que felicitam Lula pelo resultado. A alegria do Presidente argentino, Alberto Fernández, é visível num vídeo que o próprio partilhou e que mostra o momento em que ambos se encontram — sendo que Fernández viajou hoje para o Brasil para se encontrar presencialmente com Lula.

Todo mi amor, mi admiración y mi respeto, querido compañero. Tenemos un futuro que nos abraza y nos convoca.@LulaOficial pic.twitter.com/XEbKPI42O0

— Alberto Fernández (@alferdez) October 31, 2022

Encontro hoje com o amigo @alferdez. A nação Argentina é um país irmão e fico feliz de retomarmos a amizade. Vamos reforçar nossa cooperação para um futuro melhor para nossos povos????????????????

????: @ricardostuckert pic.twitter.com/2w5hVqzQma

— Lula (@LulaOficial) October 31, 2022

Na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde se concentram os edifícios do governo e do congresso brasileiro, tomam-se precauções de segurança.

“A Esplanada foi isolada preventivamente para evitar que caminhões invadam a região. A ideia é proteger os órgãos públicos e manter a ordem”, disse ao Observador a assessoria da Polícia Militar brasileira.

Portugal e o Brasil podem agora voltar às cimeiras bilaterais em 2023, graças à vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais brasileiras, congratulou-se hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho.

“Há algo muito promissor para o nosso país [na vitória de Lula da Silva]. Portugal não tem com o Brasil uma cimeira desde 2016. Anteriormente eram realizadas com regularidade, mas há seis anos que não temos”, referiu o ministro.

“Serão sete anos em 2023, quando finalmente fizermos uma cimeira com o Brasil”, declarou o chefe da diplomacia portuguesa, ouvido hoje no parlamento, no âmbito da apreciação, na especialidade, da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2023.

Já na sua intervenção inicial, o ministro tinha usado o momento para “saudar calorosamente e felicitar o Presidente-eleito Lula da Silva pela sua vitória”.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou esta tarde ao telefone com Lula da Silva, dando novamente os parabéns ao novo chefe de Estado brasileiro.

“Durante a chamada, o Presidente Biden reforçou o vigor das instituições democráticas brasileiras após eleições livres, justas e credíveis”, lê-se num comunicado da Casa Branca.

Os dois líderes discutiram ainda a “forte relação entre os Estados Unidos e o Brasil e comprometeram-se a continuar a trabalhar enquanto parceiros” em áreas como a mudança climática, a segurança alimentar e a promoção da democracia e inclusão.

Readout of President Joe Biden’s Call with President-Elect Luiz Inácio Lula da Silva of Brazil pic.twitter.com/f5tTYPOoSL

— Jon-Christopher Bua ???????? ???? (@JCBua) October 31, 2022

O filho de Jair Bolsonaro e o senador brasileiro, Flávio Bolsonaro, agradeceu na sua conta pessoal do Twitter “a cada um que ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu o seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida”.

Flávio Bolsonaro pede para se “erguer a cabeça”: “Não vamos desistir do nosso Brasil. Deus no comando”.

Obrigado a cada um que nos ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida! Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando!

— Flavio Bolsonaro #B22 (@FlavioBolsonaro) October 31, 2022

O jornalista da Globo, Lauro Jardim, está a avançar que, no seu discurso previsto para hoje (cujas horas não são conhecidas), Jair Bolsonaro não vai contestar os resultados eleitorais.

De acordo com o que apurou o jornalista da Globo junto a várias fontes ministeriais, Jair Bolsonaro vai deixar, no entanto, críticas à condução do processo eleitoral pelas instituições devidas.

Fora de questão para Jair Bolsonaro está uma possível congratulação pela vitória de Lula da Silva.

Cláudio Cajado, presidente em exercício dos Progressistas (PP) — partido que fez parte da coligação que apoiou Jair Bolsonaro —, anunciou que o ainda Presidente brasileiro fará um discurso na tarde desta segunda-feira.

Citado pela Reuters, Cláudio Cajado adiantou que “em princípio” Bolsonaro vai ler um texto, mas “o formato ainda não está definido”.

O líder do Chega, André Ventura, apelou hoje a Jair Bolsonaro, candidato derrotado das eleições presidenciais brasileiras, que aceite a vitória de Lula da Silva, considerando que “é importante saber ganhar mas é também importante saber perder”.

“Queria apelar para que o presidente Jair Bolsonaro reconheça os resultados eleitorais, para que o Brasil possa ser pacificado e para que se evitem atos de violência física e atos de violência contra a ordem constitucional”, afirmou, numa conferência de imprensa na sede nacional do Chega, em Lisboa.

André Ventura apontou que já enviou uma “mensagem pessoal” a Bolsonaro na qual agradeceu “o esforço e a luta que foi feita em prol do Brasil, na muralha que foi criada para evitar que a corrupção voltasse”.

“Só há um caminho, aceitar os resultados democráticos, lutar pela ordem constitucional e, eventualmente, voltar a lutar nas urnas para que justiça seja resposta”, defendeu.

A primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, foi a primeira a reagir no seio da família do ainda Presidente brasileiro.

Numa story do Instagram, Michelle Bolsonaro garantiu que ela e o “esposo” seguem “firmes, unidos, crendo em Deus e crendo no melhor para o Brasil”.

“Estaremos sempre juntos, amando-nos na alegria e na tristeza”, afirmou Michelle Bolsonaro, acrescentando: “Que Deus abençoe a nossa amada nação”.

Michelle Bolsonaro publicou ainda um salmo, onde se lê: “Louvai ao senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para connosco e a verdade do Senhor dura para sempre. Louvai ao Senhor”.