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Edgar Silva, o PR que "não governa" mas que quer "outra política" para Portugal
Edgar Silva sabe, e disse-o várias vezes, que “o Presidente da República não governa”. Mas também sabe, e disse-o várias vezes, que é “tempo de virar a página” e de “mudar o rumo” de Portugal. E é por isso que se apresenta como um candidato a Presidente da República mais interventivo, que vai olhar pelos mais pobres, pelos trabalhadores, os desempregados e até pelo ambiente. Colocando os “valores de abril” na génese da sua candidatura, o madeirense que foi padre afirma que vai lutar por “um outro rumo e uma outra política capazes de responder aos problemas de Portugal”.
Lendo um longo discurso numa sala com lotação esgotada no hotel Altis, em Lisboa, o candidato presidencial apoiado pelo PCP deixou claro vai até ao fim – “desde a candidatura até ao voto” -, recusando admitir que possa saltar fora a meio da corrida em benefício de um outro candidato à esquerda. A esse propósito, Edgar Silva mostrou-se mesmo aberto aos apoios de todos os partidos (do Bloco de Esquerda, por exemplo, que ainda não tem candidato próprio) porque “todos os votos que possam fazer crescer esta candidatura são bem vindos”. Mais a mais, Edgar Silva mostrou-se convicto de que a sua candidatura irá “mobilizar muito eleitorado” e que, também por isso, não haverá vitórias à primeira volta.
Realçando várias vezes que o Presidente “não governa”, o discurso de cerca de 40 minutos do ex-padre madeirense foi mais parecido a um discurso para legislativas do que para presidenciais. Pondo-se sempre contra a “submissão” da troika e a governação do PSD/CDS dos últimos quatro anos, Edgar Silva enumerou as linhas mestras da sua candidatura, que passam, primeiro pela defesa da Constituição da República Portuguesa, mas também pelo aprofundar o regime democrático, a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, a defesa dos direitos sociais, a promoção do crescimento económico e do desenvolvimento, a luta contra a exclusão social e erradicação da pobreza. Ou ainda a garantia de que dará prioridade às crianças e ao combate ao crime da pobreza infantil, a atenção à diáspora portuguesa e a defesa da independência nacional.
Sabendo que o PR não governa, Edgar Silva garantiu que iria estar sempre ao lado dos mais pobres a “lutar contra a injustiça social” – “tanto no exercício de poderes de decisão, como no uso do diálogo e da palavra” – e ao lado dos trabalhadores a defender “a valorização e afirmação dos seus direitos, contra a precariedade e o desemprego”.
“O Presidente da República não governa, mas não renuncia à sua cidadania e, muito menos, aos deveres de defesa do interesse nacional. Está, por isso, obrigado, também nesta área, ao dever de incentivar boas práticas, promover a busca de novos caminhos, estimular iniciativas, projectos e políticas alternativas”, disse, concluindo que a Constituição dá ao Presidente “muitas formas” para determinar novas políticas, mudança de rumo e mesmo para “influenciar um rumo diferente de desenvolvimento, justiça e progresso social para Portugal”.
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Com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, na primeira fila, ao lado do líder parlamentar João Oliveira e do deputado e ex-candidato presidencial Francisco Lopes, Edgar Silva teve casa cheia na sala Europa do Hotel Altis, em Lisboa. No final, ouviu-se o hino de Portugal.
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“Todos os votos que possam fazer esta candidatura crescer são bem vindos”, disse, quando questionado sobre o facto de o Bloco de Esquerda ainda não ter aparecido com um candidato próprio e poder, eventualmente, vir a apoiar a candidatura do PCP.
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"Os católicos não têm um partido"
Sobre o facto de ser católico e de ter sido padre, o candidato presidencial afirma que “não renuncia” aos compromissos e valores do catolicismo. “Sou muito devedor a essa aprendizagem e a essa trajetória de vida assente nos valores da solidariedade e da proteção dos mais pobres”, diz, lembrando que o Estado é laico e sublinhando que a Constituição diz que o Estado “não distingue ninguém em função da religião”. A separação entre a Igreja e o Estado é por isso fundamental, diz.
“Os católicos não têm um partido, não há uma fronteira sobre até onde podem ir”, afirma, separando a sua candidatura da sua opção religiosa.
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“São muitos os constrangimentos que o quadro da UE impõe a Portugal, como PR nunca aceitarei que Portugal fique submisso a troikas estrangeiras, a interesses dos grandes bancos e interesses financeiros exteriores ao país. É dever do PR garantir a independência nacional e sobre isso não pode haver limitações – o povo português tem o direito de ser senhor da sua história”, diz, questionado sobre que postura teria face à Europa enquanto Presidente.
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“Esta é uma candidatura apoiada pelo PCP, não é do PCP”, diz.
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Edgar Silva quer um PR mais interventivo
Se o Presidente da República não governa, como disse, como pode o PR ficar mais próximo dos cidadãos? Edgar Silva responde dizendo que quer um Presidente mais interventivo e que “há muitas e muitas formas” de o fazer, no respeito pelo quadro constitucional.
“Um Presidente da República não pode ficar indiferente aos milhares de homens e mulheres que vivem à fome em Portugal. Um PR não pode ser alguém que está à distancia, enviando uma mensagem de quando em vez. No âmbito dos poderes que estão previstos na Constituição, há muitas e muitas formas de intervenção que lamentavelmente até hoje nenhum Presidente da República assumiu plenamente”, diz.
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“Um novo rumo é urgente e inadiável, e por tudo quanto representa esta candidatura [pelos valores de abril que representa] creio que será capaz de mobilizar milhares de portugueses para o voto para que o candidato da direita não tenha caminho facilitado”, diz, acrescentando que se houver muita participação eleitoral “certamente que não haverá vencedor à primeira volta”.
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Admitiria desistir da sua candidatura num cenário de segunda volta presidencial? Edgar Silva não rejeita cenários, deixando tudo nas mãos dos eleitores. “Está tudo por construir, tudo por fazer, os resultados eleitorais conquistam-se, ganham-se”, diz.
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Questionado pelos jornalistas sobre que decisão tomaria em relação ao impasse da formação de governo, caso fosse Presidente da República, Edgar Silva responde que dependeria tudo da “vontade do Parlamento”. “É no Parlamento que se formam as maiorias necessárias. Caber-me-ia respeitar aquela que fosse a vontade e a decisão dos deputados eleitos no Parlamento para garantir as condições de Governo”, diz.
“Ninguém é dono do voto dos portugueses”, diz ainda.
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Terminado o discurso de apresentação da candidatura, ouvem-se muitas palmas na sala do Hotel Altis, em Lisboa. “Abril vencerá”, grita-se em uníssono.
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No final de um discurso longo, Edgar Silva diz que desde a apresentação da candidatura até ao dia do voto, assume a sua “total disponibilidade” para exercer as “funções que o povo entender” atribuir-lhe na sequência das eleições.
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A defesa da independência nacional é outra das prioridades da sua candidatura presidencial. “É tempo de virar a página”, diz.
“Intensificou-se o ataque à democracia e à soberania nacional. Os Portugueses têm sido expropriados do seu poder soberano de decisão sobre as questões essenciais da vida do País. São cada vez mais as decisões transferidas para estruturas supranacionais em colisão com a Constituição da República. Sucessivos governos, do PS, do PSD e do CDS, têm assumido como legítima a intervenção estrangeira sobre o País, esvaziando e amputando o regime democrático e a soberania nacional”, afirmou.
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Uma das prioridades de Edgar Silva é o combate à pobreza e, em particular, à pobreza infantil, diz.
“As crianças são uma das principais vítimas da crise, ou seja, das políticas dos governos e da União Europeia para lançar dinheiro para os bancos e acumular lucros, atirando milhares de crianças na pobreza”, diz, enumerando algumas das principais causas para os elevados níveis de pobreza infantil: “a diminuição dos montantes e a abrangência das prestações sociais como o Abono de Família, a Acção Social Escolar, os Subsídios Sociais de Parentalidade, o Rendimento Social de Inserção e o Subsídio Social de Desemprego”.
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As 10 linhas orientadoras da candidatura
A candidatura de Edgar Silva tem 10 linhas de atuação:
1. Defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.
2. Defender e aprofundar o regime democrático.
3. Defender os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores.
4. Defender os direitos sociais.
5. Promover o crescimento económico e o desenvolvimento.
6. Lutar contra a exclusão social e pela erradicação da pobreza.
7. Garantir toda a prioridade às crianças e combater o crime da pobreza infantil.
8. Afirmar um Estado participado e descentralizado, no respeito pelo seu carácter unitário.
9. Atender à diáspora portuguesa.
10. Defender a independência nacional.
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“Esta candidatura exprime uma plataforma de esperança para unir os portugueses”
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Edgar Silva promete, se for eleito PR, “defender e fazer cumprir a Constituição da República”.
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“Esta candidatura está vinculada inabalavelmente ao projeto de Abril, inscrito na Constituição da República”, diz o madeirense.
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“O PR tem tarefas inalienáveis. O PR não pode deixar de defender a forte de mobilização do povo português na busca por outro rumo de desenvolvimento, de justiça e de progresso para Portugal”.
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Neste tempo “desvalorizam-se os trabalhos, desregulam-se os trabalhos, precarizam-se” os empregos. “Para muitos trabalhadores não basta que tenham emprego para se libertarem da pobreza”, lembra Edgar Silva. Por isso, como candidato defenderá “um outro rumo para Portugal que comporte a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a valorização dos direitos, que combata a precariedade e o desemprego”, e que promova o “aumento dos salários” e a “evolução do poder de compra”, decisivo “para reduzir as desigualdades”, afirma.