Não havia diferenças entre eles, nem mesmo nas características físicas: hutus e tutsis pareciam iguais aos olhos de qualquer pessoa mais distante da segregação que os colonizadores belgas tinham sublinhado quando chegaram a Ruanda. Ser hutu ou tutsi dependia de pormenores que pareciam insignificantes: era o tamanho das narinas, por exemplo, que carimbava os cartões de identificação dos ruandeses em 1994, o ano em que morreram 800 mil tutsis às mãos dos hutus extremistas apoiados pelo governo. O genocídio de Ruanda foi o maior da História moderna. Vinte e dois anos depois, é sempre preciso recordá-lo.

O conflito era antigo. Os colonizadores belgas dividiram o povo ruandês e colocaram a administração do país nas mãos dos hutu, que eram a maioria. A independência veio em 1962, mas os hutus permaneceram no poder, discriminando a minoria tutsi. Alguns deles chegaram a exilar-se nos países vizinhos, mas começaram a receber treino militar para compor anos mais tarde a Frente Patriótica Ruandesa. Nos anos 90, a ONU já estava no país e coordenava um governo provisório que era composto por membros das duas etnias.

Mas não foi suficiente. Em abril de 1994, o presidente ruandês hutu, Juvénal Habyarimana, foi morto por rebeldes num atentado ao avião onde viajava. Os hutu acusaram os tutsi pelo crime e começaram a matança logo no dia seguinte: milhares de tutsi foram assassinados. E quem conseguia escapar procurava ajuda em campos de refugiados nas fronteiras com o Zaire (República Democrática do Congo) e no Uganda. Em 100 dias, 800 mil pessoas morreram. Numa das províncias ruandesas, dos 59 mil tutsi que lá viviam, 50 mil foram assassinados. As mulheres eram violadas, os filhos cruelmente mortos.

Em julho de 1994, os tutsi conseguiram derrotar o governo e o genocídio terminou. As tensões religiosas e étnicas prosseguem no país, mas a memória do genocídio permanece acesa, mesmo depois de muitos soldados hutu terem sido condenados pelos seus crimes.

Para assinalar os 22 anos do genocídio de Ruanda, que o filme Hotel Ruanda de 2004 levou ao cinema, o Observador mostra 22 imagens que o mundo não pode esquecer. Veja tudo na fotogaleria. (atenção, a crueza das imagens pode ferir os mais sensíveis)

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