Margarida Sousa Uva morreu esta quinta-feira vítima de doença oncológica, disse à Lusa fonte próxima da família. A mulher do ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, tinha 60 anos e lutava contra um cancro no útero desde 2014. Morreu em casa.

Margarida Sousa Uva foi diagnosticada com cancro do útero em 2014 e começou a recuperar da doença no ano seguinte. Quando o presidente da Comissão Europeia foi condecorado pelo presidente da República, em novembro de 2014, Margarida já estava doente, mas o assunto foi mantido dentro da esfera familiar. As suspeitas sobre o seu estado de saúde começaram a surgir quando Durão Barroso assistiu sozinho à cerimónia de canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II, em abril de 2014.

A mulher de Durão Barroso, atual chairman do banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, era vice-presidente da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas. Em entrevista à Flash Vidas, em maio de 2015 – quando acabou os tratamentos de quimioterapia -, Margarida Sousa Uva afirmou que tinha esperança, mas que tinha “acima de tudo uma enorme vontade de viver”.

Em 2002, quando Durão Barroso estava em campanha pelo PSD como candidato a primeiro-ministro, Margarida Sousa Uva lembrou o poeta Alexandre O’Neill para justificar porque é que se devia confiar no marido para liderar o país. Tratando-o por “Zé Manel” – no discurso que marcou o penúltimo dia da campanha das legislativas de 17 de março de 2002 -, Margarida afirmou que Durão Barroso era “um grande pai de família”, persistente, corajoso, inteligente e com sentido de Estado.

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“Eu acredito que o sonho só é verdadeiramente sonho quando é grande e é por essa tua imensa capacidade de sonhar e de sonhar com um Portugal próspero, mais justo e mais respeitado pelos nossos parceiros europeus, que eu também vou votar em ti no dia 17 de Março”, afirmou Margarida, antes de recorrer a um poema de Alexandre O’Neill para dizer que “o Zé Manel, se fosse peixe, era um cherne”.

Durão Barroso também respondeu com poesia: “Mulher, dizem que é feio pecar / mas só não pecam os santos / para mim, pecado / é fechar os olhos aos teus encantos”.

Margarida Sousa Uva e Durão Barroso casaram-se em Lisboa, a 28 de setembro de 1980, e têm três filhos – Luís Barroso, Guilherme Barroso e Francisco Barroso – e um neto de cinco anos. Conheceram-se na cantina da cidade universitária em Lisboa, em 1975, com 19 anos, na altura em que Barroso foi eleito presidente da Associação de Estudantes de Direito. Casaram-se cinco anos depois. Ela estudava na Faculdade de Letras e ele na de Direito. O primeiro filho, Luís, nasceu em 1983. Margarida era ainda prima dos jogadores de râguebi Gonçalo Uva (que jogava na equipa francesa Montpellier Hérault), Vasco Uva e João Uva.

Em 2002, a mulher de Durão Barroso conheceu Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro, a criança desaparecida em Lousada em 1998, e abraçou a causa. Foi a história de Filomena que levou Margarida de Sousa Uva à Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas. Em entrevista à VIP, Margarida Sousa Uva afirmou que sentia “muito profundamente o sofrimento dela, que está estampado no rosto. Não deixa ninguém indiferente”.

Entretanto, o primeiro-ministro António Costa já enviou as condolências a Durão Barroso pela morte da mulher, segundo avançou o gabinete de Costa à agência Lusa. Também o PSD enviou uma nota à comunicação social dizendo que “recebeu com grande consternação a notícia da morte da Dr.ª Margarida Sousa Uva. Ao seu marido e ex-presidente do partido, Dr. José Manuel Durão Barroso, aos seus filhos, bem como à restante família, o PSD apresenta as mais sentidas condolências”, lê-se.

A presidente da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas publicou um post na página da associação no Facebook afirmando que estão “todos de luto”. “A Margarida, como todos lhe chamávamos será sempre lembrado pelo seu bom humor, coração, humildade e amor às crianças”, escreveu Patrícia Cipriano.