Foi assinado esta segunda-feira o protocolo firmado entre a Câmara Municipal de Lisboa, a Direção Geral do Património e a Associação de Turismo de Lisboa que permitirá terminar a construção do Palácio Nacional da Ajuda, iniciada há 200 anos. Um projeto “histórico” parcialmente financiado pelas “taxas e taxinhas” turísticas que “fizeram mais do que muitos governantes nos últimos anos”, frisou Fernando Medina.

O projeto de conclusão das alas norte e poente, da autoria do arquiteto João Carlos Santos, custará 15 milhões de euros, dos quais 11 milhões serão investidos pela autarquia de Lisboa e pela Associação de Turismo de Lisboa e quatro milhões pelo Ministério da Cultura. As obras serão iniciadas no decorrer do próximo ano, em julho, e deverão ficar concluídas em dezembro de 2018.

A zona poente, com uma fachada de expressão contemporânea, irá albergar as Joias da Coroa e a coleção de ourivesaria da Casa Real portuguesa, que passarão a estar em exposição permanente no Palácio da Ajuda. Na apresentação, João Carlos Santos afirmou que é impossível falar do projeto de conclusão do edifício “sem falar da importância do acervo” e da “fantástica história deste palácio, que se mantém um dos mais notáveis deste país”. “As joias e pratas são de uma extraordinária importância no contexto nacional e internacional. São símbolos notáveis da história de Portugal”, frisou o arquiteto.

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De acordo com João Carlos Santos, a exposição irá incluir as 6.340 peças das Joias da Coroa, feitas entre os séculos XIV e XX e compostas por uma grande variedade de objetos, e 900 exemplares de ourivesaria, do final do século XVII ao final do século XIX. A nova zona do palácio terá quatro pisos, distribuídos da seguinte forma:

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  • Piso 0 — entrada e áreas técnicas e de apoio
  • Piso 1 — no lado sul, ficará localizada a bilheteira, as casas de banhos e os novos acessos; no lado norte, ficará o bengaleiro e a loja
  • Piso 2 — no lado sul, ficará a administração; no lado norte, será construída uma sala de conferências com capacidade para 120 pessoas e o respetivo átrio
  • Piso 3 — área de exposição das Joias da Coroa, imaginada como uma caixa forte
  • Piso 4 — área de exposição da Ourivesaria da Casa Real; neste piso, será ainda construída uma cafetaria com vista para a cidade e para o Rio Tejo.

O Ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, adiantou que se espera que a nova exposição do Palácio da Ajuda receba 200 mil pessoas por ano. Durante a apresentação do projeto, realizada no pátio do Palácio, com a fachada inacabada como pano de fundo, o ministro frisou que se deu “hoje início a uma das mais aguardadas etapas da história do Palácio Nacional da Ajuda”, explicando que a gestão da nova área será partilhada pelo ministério e Câmara Municipal e a Associação de Turismo de Lisboa.

Um projeto “histórico” que não seria possível sem as “taxas e taxinhas”

Admitindo ser incapaz de encontrar uma explicação plausível para o atraso na conclusão do Palácio da Ajuda — a não ser o de falta de “força de vontade e energia para concluir esta obra” –, Fernando Medina explicou que, dos 11 milhões de euros disponibilizados pela Câmara Municipal de Lisboa, seis milhões são provenientes da taxa turística, em vigor desde janeiro deste ano.

“Há cerca de um ano, tínhamos aqui um debate sobre a introdução da taxa de turismo, que muitos criticaram. Mas depois, a onde é que ela nos levou? As taxas e taxinhas vieram e foram elas que terminaram a obrazinha“, afirmou o presidente da Câmara, acrescentando que estas “fizeram mais do que muitos governantes nos últimos anos”.

Afirmando ser “simbólico” a utilização das “primeiras verbas das taxas turísticas” num projeto na área da cultura, o presidente da câmara frisou que foi graças a elas que se tornou possível concluir um projeto de importância histórica e cultural. “O património cultural é o nosso grande ativo. Não é um investimento para o turismo — é um investimento que o turismo da cidade permite que façamos“, acrescentou.

Cerimónia de Apresentação do Projeto de Exposição das Joias da Coroa

António Costa também esteve presente na cerimónia de apresentação do projeto (TIAGO PETINGA/LUSA)

Presente na cerimónia de apresentação, o primeiro-ministro António Costa frisou a importância do projeto que descreveu como “histórico”. Elogiando os resultados da taxa turística de Lisboa para o crescimento e sustentabilidade do turismo, “fundamental para a economia”, Costa afirmou que este permite valorizar o património e criar novas ofertas culturais.

“Este mecanismo da taxa turística e do fundo de desenvolvimento do turismo permite devolver ao setor a receita por si gerada, de forma a que, depois, possibilite a valorização do nosso património. Ao valorizar o nosso património, estamos também a criar nova atratividade e o desenvolvimento do próprio setor do turismo”, disse o primeiro-ministro. “O turismo em Portugal já não é praia e campo. O turismo representa já 15% das exportações nacionais, tendo aumentado na ordem dos 10% por cento este ano”, acrescentou.

A história do Palácio Nacional da Ajuda remonta ao século XVII. O local onde se encontra situado tornou-se no refúgio da família real depois do Terramoto de 1755. Conhecida pela “Real Barraca”, por ser feito de madeira, ardeu em 1794, dando lugar a um projeto barroco do arquiteto Manuel Caetano de Sousa, iniciado um ano depois, em novembro de 1795.

O Palácio sofreu novas alterações em 1802, seguindo uma estética neoclássica. Com as invasões francesas e a fuga da família real para o Brasil, as obras tiveram de ser interrompidas. Só 20 anos mais tarde, em 1826, é que o Palácio Nacional da Ajuda voltou a servir como residência real. Com a instauração da República, foi encerrado e o seu espólio protegido do saque.

Ao longo do século XX, foram vários os projetos que pretendiam terminar a construção do palácio, mas as obras nunca chegaram a andar para a frente. O edifício converteu-se em museu em 1968.