A pianista Maria João Pires, de 73 anos, “vai deixar de realizar digressões e algumas atuações no próximo ano”, disse à Lusa Melanie Moult, da agência internacional Askonas Holt, que representa a artista.

Maria João Pires atua esta semana, na quarta e na quinta-feira, no Tonhalle Maag, em Zurique, na Suíça, com a Tonhalle-Orchester Zürich, dirigida pelo maestro Bernard Haitink, no último Concerto para piano e orquestra de Mozart, o Concerto n.º 27, em Si bemol maior, KV.595.

Na agenda da pianista, está igualmente previsto, para 13 de março do próximo ano, um encontro com o maestro britânico John Eliot Gardiner e a Orquestra Sinfónica de Londres, na Filarmónica de Paris, com quem interpretará o Concerto para piano e orquestra de Robert Schumann.

Ao longo de mais de seis décadas de carreira, Maria João Pires foi reconhecida, pela crítica internacional, como uma das principais intérpretes de Mozart e Schumann, tendo as suas gravações do compositor austríaco, nomeadamente a integral das Sonatas para piano, assim como as suas interpretações do compositor alemão, editadas por discográficas como a Denon, Erato e Deutsche Grammophon, chegado ao primeiro lugar de escolhas de publicações internacionais como a Diapason, Gramophone e Clássica, além dos chamados “Guias Penguin”.

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Esta não é a primeira vez que a pianista, natural de Lisboa, anuncia uma retirada das salas de concerto. Em 2010, numa entrevista ao jornal Evening Satndard, de Londres, declarou que “gostaria de se poder retirar”. “Já toquei muito. Toquei durante 60 anos, e acho que é demais”.

Nessa entrevista ao jornal britânico, Maria João Pires garantiu que mantinha “o mesmo entusiasmo pela música”, que continuava a gostar de tocar, embora sentisse uma mudança de atitude.

Eu não gosto de estar no palco – eu nunca gostei – mas uma coisa é não gostar, outra é não conseguir lidar com isso. Não estou a lidar bem com isso agora. Uma vez que comece a tocar, é o mesmo de antes, mas depois sinto-me muito mais cansada, porque é tão exigente – não física, mas psicologicamente”, afirmou.

Um ano mais tarde, numa entrevista ao diário espanhol El País, a pianista disse que se sentia cansada e que tinha acordado com a sua agência internacional, a Askonas Holt, deixar os palcos em 2014, quando completasse 70 anos. Todavia, tal não veio a acontecer. Maria João Pires voltou aos palcos e aos estúdios de gravação.

Em 2015, ganhou o Prémio Gramophone, pela gravação dos concertos n.º 3 e n.º 4, para piano e orquestra, de Beethoven, com a qual se estreou na discográfica Onyx, com a qual assinou em 2014, quando deixou a Deutsche Grammophon.

Maria João Pires nasceu em Lisboa, a 23 de julho de 1944. É a mais internacional e reputada das pianistas portuguesas, com um percurso artístico que remonta a finais dos anos 1940, quando se apresentou pela primeira vez em público, aos quatro anos.

Com a vitória no concurso internacional Beethoven (1970) e a conquista do prémio do Conselho Internacional da Música, da UNESCO (1970), o seu nome tornou-se recorrente, nos programas das principais salas de concerto a nível mundial, e nos catálogos das principais editoras de música clássica – a Denon, primeiro, seguindo-se a Erato e, depois a a Deutsche Grammophon, a partir de 1989, ano em que foi distinguida com o Prémio Pessoa (1989).

No seu percurso, destacam-se as interpretações de Schubert e Chopin, compositores que a levaram até às nomeações para os Grammy, além de Bach, Mozart, Schumann e Beethoven.

Destacam-se também as suas parcerias com o pianista turco Hüseyin Sermet, com o violoncelista Pavel Gomziakov, e com os maestros Claudio Abbado, Pierre Boulez, Frans Bruggen, John Eliot Gardiner, Michel Corboz, Armin Jordan, Claudio Scimone e Theodor Guschlbauer, entre outros.

Tocou com as mais importantes orquestras, da Filarmónica de Berlim à Filarmónica de Londres, e fundou o projeto artístico Associação Belgais, que fechou portas em 2009. Em 2010, obteve a nacionalidade brasileira.