A vida de Grace Kelly, musa de Hitchcock, é retratada no filme Grace de Mónaco que estreou esta terça-feira na 67º edição do Festival de Cannes. Sessenta anos depois de Kelly ter ganho o Óscar de Melhor Atriz, em 1954, a sua vida regressa ao foco dos holofotes, agora envolta em polémica.

A família real do Mónaco tem contestado fortemente a biografia, ainda antes de o filme ter aberto o festival. Para ela, a película não só está incorreta como nunca deveria ter sido realizada. Os familiares consideram o trailer uma farsa e argumentam que tanto realizadores como produtores não tiveram em conta as considerações feitas pelo palácio, explica a Aljazeera. Ao jornal Nice Matin, a princesa Stéphanie afirmou que nunca vai ver o filme.

Entre os factos que não coincidem com a realidade, destaca-se a ideia, promovida no filme, de que Alfred Hitchcock visitou Grace no Mónaco para lhe oferecer o papel de Marnie. O encontro nunca aconteceu. O filme mostra ainda Rainier (Tim Roth) como um marido que dá pouca atenção à sua mulher. O realizador Olivier Dahan, conhecido pelo filme La Vie en Rose, admitiu ter alterado um pouco a realidade, segundo a BBC. “Não sou um biógrafo ou um historiador”.

O Independent traz à tona da água mais duas questões. Nicole Kidman, de 46, protagoniza o papel principal num momento da história em que Grace Kelly tem 30 anos. Em foco está também a decisão dos produtores em retratar um período da vida de Kelly, no início dos anos 1960, dominado pela disputa entre o Mónaco e a França, a propósito de direitos constitucionais e territoriais.

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Mas não é apenas a família real que mostra desagrado. Grace de Mónaco, após a sua exibição, tem recebido críticas negativas dos média internacionais. É o caso de o The Guardian, que refere que a biografia real é “pior” que o filme Diana, de 2013, protagonizado por Naomi Watts.

A contribuir para a polémica geral está o desacato, na altura da edição, entre o realizador francês Olivier Dahan e a empresa Weinstein Co, que vai distribuir o filme na América do Norte. Dahan acusou a distribuidora de reedição e de querer tornar o filme mais comercial. O certo é que a data de lançamento do filme foi adiada mais do que uma vez.

Na conferência de imprensa desta quarta-feira, no festival, Nicole Kidman dirigiu-se à família real. Segundo a BBC, afirmou estar triste com a situação e garantiu que o filme não apresenta qualquer malícia para com a família, em particular Grace e Rainier. Admite que a performance foi feita com “amor”: “Se eles vissem o filme, perceberiam que há um grande afeto por ambos os pais”.

Grace Kelly, considerada um ícone de beleza e moda mundial, trabalhou em diversos filmes antes de se juntar à realeza. Com a película The Country Girl ganhou o único Óscar de Melhor Atriz, tendo sido posteriormente convidada, pela primeira vez, para o festival em Cannes. Foi aí que, em 1955, conheceu o então futuro marido, o príncipe Rainer III. Em menos de um ano surgiu o casamento e, mais tarde, três filhos (Caroline, Albert e Stephanie). O conto de fadas de Grace terminou com um acidente de carro que lhe roubou a vida, em 1982.

O filme Grace de Mónaco chega às telas nacionais a 22 de maio.