Os alunos mais novos da turma e os que têm menos livros em casa estão entre os que têm mais probabilidades de chumbar, segundo um estudo do Banco de Portugal, que considera prejudicial para os estudantes a retenção escolar.
Estas são algumas das conclusões dos investigadores do Departamento de Estudos Económicos, do Banco de Portugal (BdP), Manuel Coutinho Pereira e Hugo Reis, que tentaram perceber as causas da reprovação no ensino básico e os impactos de os alunos ficarem retidos.
Usando os dados do Programa para a Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), da OCDE, os autores do estudo dizem que as características individuais e familiares têm mais influência no sucesso escolar dos alunos portugueses do que nos estudantes dos outros países europeus.
Pertencer a uma família monoparental e ser rapaz fazem aumentar as probabilidades de ficar retido no ensino básico, segundo o estudo “Retenção escolar no ensino básico em Portugal: determinantes e impacto no desempenho dos estudantes”.
“Em Portugal, os alunos com menos maturidade e com piores condições socioeconómicas têm uma maior probabilidade de repetir. Para além dos aspetos socioeconómicos, as características da escola e as diferenças ao nível regional e do país (por exemplo, fatores de caracter institucional) também ajudam a explicar o fenómeno”, lê-se no estudo.
Assim, no que toca à idade com que entram para o 1.º ano, o estudo sublinha que em Portugal a probabilidade de um aluno repetir o ano no 1.º ou no 2.º ciclo “diminui em cerca de 3,5 pontos percentuais com um aumento de um desvio-padrão na maturidade. A mesma probabilidade diminui numa magnitude semelhante se o aluno for do sexo feminino”.
Também a influência da família é mais forte em Portugal: ser filho de pais com níveis de educação mais elevados faz reduzir mais de 2 p.p. as hipóteses de chumbar de ano, enquanto os alunos de famílias monoparentais correm mais riscos de reprovar (mais 3.3 p.p.).
A probabilidade de um aluno ficar retido antes de chegar ao 7.º ano “diminui cerca de 4,5 pontos percentuais para os alunos que têm mais livros em casa”, enquanto o valor médio europeu é de 1.1 p.p.
Os especialistas lembram que Portugal surge em quarto lugar na tabela dos países europeus com a maior taxa de retenção no ensino básico (cerca de 30%) e recorda os estudos que explicam a lógica subjacente à reprovação: “A ideia é simplesmente dar-lhes uma oportunidade para obterem o nível de capital humano necessário para uma boa integração no ano seguinte”.
No entanto, sublinham os responsáveis pelo estudo, “a existência de alunos que repetem o ano implica custos, incluindo a despesa de fornecer um ano adicional de educação, bem como o custo para a sociedade em atrasar a entrada do aluno no mercado de trabalho”. Os autores consideram que existe margem de intervenção para substituir, pelo menos parcialmente, a retenção por “outros procedimentos de apoio aos alunos, os quais poderão revelar-se menos dispendiosos do ponto de vista da utilização de recursos”.
“Os efeitos de longo prazo da repetência no ISCED 1 (1.º e 2.º ciclo) no desempenho dos estudantes em Portugal são negativos, o que sugere que haverá vantagem em substituir, pelo menos parcialmente, esta prática por métodos alternativos de apoio aos alunos que revelem dificuldades na aprendizagem nas etapas iniciais da vida escolar”, lê-se nas conclusões do estudo divulgado no boletim de junho do BdP.
No entanto, os autores do estudo entendem que já os efeitos de curto-prazo da repetência no 3.º ciclo para Portugal “são positivos, embora de pequena dimensão”. “Assim, apesar da incerteza quanto aos efeitos de longo prazo, os nossos resultados não põem em causa a prática da repetência em níveis mais avançados do percurso escolar”.