Há dois caminhos para os treinadores quando chegam à Primeira Liga: sobreviver ou optar por tentar deixar a sua marca. Qualquer um deles é legítimo, pois depende das armas que cada um tem à sua disposição. E também da identidade que deseja semear. Miguel Leal parece optar pela segunda opção.

O treinador de 49 anos, natural de Marco de Canavezes, já tinha dado nas vistas pelo Penafiel na época passada. A promoção, depois do terceiro lugar, aliada à organização e dinâmica — e coragem, principalmente — da equipa de Leal contra os três grandes na Taça da Liga e Taça de Portugal não passaram despercebidas. O que ficou provado pela aposta do Moreirense aquando da subida de divisão. Era Miguel Leal quem queriam ao leme da equipa na Primeira Liga.

O FC Porto chegava a esta terceira jornada confiante, depois da boa vitória contra o Lille (2-0), que deu o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Ricardo Quaresma voltou ao onze, após três jogos longe da titularidade, mas sem a braçadeira — usou-a Jackson. O menino-sensação, Rúben Neves, ficou no banco (entraria aos 66′). O Moreirense deslocou-se ao Dragão com quatro pontos em seis possíveis: vitória na Choupana (1-0) e empate caseiro com o Sp. Braga (0-0).

Respeitando a cultura do seu treinador, os jogadores do FC Porto quiseram a bola só para si. Mas cedo se notou que Jackson estava muito isolado, enquanto os seus colegas se distraíam com o carrossel. Casimiro, Brahimi e Óliver têm toque de bola para dar e vender, mas a teia defensiva do meio-campo de Moreira de Cónegos — Filipe Melo, André Simões e Vítor Gomes — não estava para brincadeiras. Conclusão: o FC Porto foi obrigado a tentar mais bolas longas, em forma de variações de flanco, e a jogar pelas alas.

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O lance mais perigoso deste primeiro tempo aconteceu aos 22′. Como já vimos, o carrossel azul e branco acontecia longe da baliza de Marafona, até que Adrián decidiu abanar as coisas. Diagonal da esquerda para o centro e passe para Jackson à entrada da área; o colombiano tocou para trás para Quaresma, que descobriu na direita Danilo, qual seta. O brasileiro rematou com pouco ângulo, com muita força, mas Marafona estava no caminho da bola. Na ressaca, Quaresma ainda sacou um cruzamento para o segundo poste, mas a bola acabaria por ser cortada.

Nesta altura, os dragões contavam com 72% de posse de bola. O Moreirense, apesar da ousadia e organização defensiva, não causava muitos problemas a Fabiano, ainda que tentasse sempre sair em contra-ataque. Até ao intervalo, apenas Danilo tentaria a sorte, com um remate forte com a canhota: valeu Marafona. Descanso. José Ángel, que fez a sua estreia, mostrou-se algo nervoso e parecia um corpo estranho na equipa.

No início do segundo tempo a força (qualidade, classe) do FC Porto encolheu a equipa do Moreirense, que passou a defender mais atrás. Adrián e Jackson, com um remate à trave, foram os primeiros a lançar o mote, mas a bola teimava em não entrar. Lopetegui optou por dar outro encanto ao seu meio-campo, nem que seja pelo estado de graça: Rúben Neves entrou por Casimiro quando faltavam pouco mais de 20 minutos para o fim.

Mas quem tem Brahimi, tem quase tudo — que dizer daquele livre direto ao Lille? Este argelino é um caso sério: imprevisível, rápido e desconcertante com a bola. Quaresma tocou para o criativo já dentro da área, no lado direito; Brahimi ultrapassou um defesa e cruzou forte, rasteiro. Óliver estava ao segundo poste e encostou para a baliza deserta, 1-0. O espanhol cerrou os punhos bem alto, era ele o herói do momento.

Curioso que uma das suas paixões envolve falar e escrever sobre os heróis do futebol… Sim, este menino de 19 anos entrou para a Universidade Francisco de Vitoria (Madrid) em 2013, para estudar jornalismo. “Gostava de jornalismo e creio que ter uma saída para além do futebol é bom. Sei que vou gostar. Quando entrei no mundo do futebol dei-me conta que me atraía o trabalho de jornalista: dar informação”, disse à Marca, em outubro de 2013.

A natureza da partida mudou com este golo, naturalmente. Havia mais espaço agora. E os golos chegariam, pois claro. Aos 81′, Marafona assinou uma saída despropositada e, após choque com Óliver, permitiu o cruzamento de José Ángel, que encontraria a cabeça de Jackson, 2-0. Óliver ficou queixoso e saiu imediatamente. O diálogo entre o médico e o treinador do FC Porto não deixava boas indicações…

Três minutos depois, penálti para a equipa da casa. O árbitro assinalou falta de Marcelo Oliveira sobre Jackson. Quintero, que entrou para o lugar do jovem espanhol, assumiu mas permitiu a defesa a Marafona. Mas este dragão não queria ficar por aqui. Os cerca de 35 mil adeptos ainda teriam direito a festejar mais um golo: Jackson novamente, após assistência de Adrián.

Três-zero. Um resultado ingrato para o Moreirense pela primeira parte, mas justo para a equipa mais forte, que deu o murro na mesa na segunda parte. A lei do mais forte imperou, mas vale a pena continuar a dar um olho nesta equipa de Miguel Leal.