A fisiologia do amor é complexa e pouco linear. É uma área com muitos cinzentos, nem tudo é branco ou preto e a química não chega para definir as diferenças entre desejo e paixão ou amor. Mas como nota a Fast Company, alguns neurocientistas defendem que a química ajuda a identificar as diferenças: o desejo sexual origina a libertação de dopamina e o amor a libertação de dopamina e oxitocina. Será? Vamos por partes.

A dopamina é um neurotransmissor associado à recompensa. Estímulos positivos (um prémio, uma boa notícia, um pedaço de chocolate ou uma droga) originam a libertação de dopamina, por isso (quimicamente) o sexo pode ser um vício. A oxitocina é uma hormona responsável, entre outras coisas, pelo orgasmo, pelo processo de reconhecimento social e comportamentos maternais. Exposto desta maneira parece simples mas o papel específico de uma e de outra, bem como as suas relações, ainda não são completamente entendidas pela ciência.

Claro que a química das emoções não é tudo. Para o provar foi feito um teste original no ano passado. O artista Brent Hoff e cientistas da universidade de Stanford desenharam uma experiência a que chamaram The Emotional Arcade. Os participantes foram desafiados a escolher uma emoção (felicidade, desejo, ira, medo) e a concentrar-se nela. Um sistema de eletroencefalografia (EEG) modificado ligou um capacete com sensores a uma máquina de encher balões. Quanto mais intensa a actividade cerebral, mais depressa o balão enchia e ganhava quem o fizesse rebentar primeiro.

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O concurso de emoções envolveu homens e mulheres de várias idades. Com esta experiência observou-se que, no que toca ao desejo, os homens começavam mais depressa mas as mulheres, mais regulares, eram as que primeiro faziam rebentar o balão. E também que a dificuldade dos homens em se concentrar no desejo era reduzida se estivessem a ser observados.

Num outro jogo a que o artista e os cientistas chamaram The Love Competition, foi pedido a sete homens e mulheres que se submetessem a um teste simples dentro de uma máquina de ressonância magnética: pediram-lhes que pensassem em algo que considerassem amor (uma pessoa, uma memória). Os cientistas procuraram na atividade do cérebro quais as áreas mais estimuladas, concluindo que quer a dopamina quer a oxitocina eram produzidas pelo estímulo do pensamento amoroso, mas não encontraram diferenças entre o amor paternal e o amor de cariz sexual. “Amar um pai ou um filho ativa os mesmos circuitos que o amor que se tem pelo namorado ou namorada”, afirma Brent Hoff. Para ele, isso não faz sentido.

Para reforçar a complexidade destes sistemas, Hoff contou que um dos participantes no estudo, absolutamente convencido dos seus sentimentos relativamente à namorada, ficou na dúvida perante os resultados em sentido contrário obtidos pelas medições, ou seja, baixos níveis de dopamina e oxitocina. Ou seja, a sugestão do resultado fez com que a emoção fosse posta em causa. E no teste anterior (o do balão), uma mulher pensou com firme certeza na raiva que tinha pelo ex-namorado, mas o balão não encheu. Será que o que achamos que sentimos é mesmo aquilo que sentimos?