Ao entrar na exposição o chão está salpicado de tinta de várias cores. Pelas janelas entra a luz que revela um sítio arejado e com uma beleza subtil, escolhido pelo artista para mostrar os seus trabalhos. Os focos de luz estão lá para acentuar ainda mais a expressividade que cada uma das peças possui. O local, onde em tempos existiu um restaurante, está agora cheio de cores, histórias e expressões. O edifício, no centro de Lisboa que aguarda licença para obras, é, durante uma semana, uma galeria de arte. E a responsabilidade é de Mário Belém.

A nova exposição do artista tem um nome que deu trabalho a arranjar. Estava quase tudo orientado e o nome não saía. “Não sabia que nome dar à exposição, tive essa dificuldade”, confessa. A ideia surgiu-lhe no meio de algumas obras do pai, também ele artista. Uma ardósia com a frase: “Só há uma verdade: a saída é pelo espelho”. Olhou-a, identificou a caminhada que fez até agora naquela frase e pensou: “É este o tema da exposição”. Mas admite que é um título com vários sentidos. O artista explica um dos outros: “sair do espelho é a mesma coisa que ter a força para lutar pelos nossos objetivos.”

Com uma enorme paixão pelo país, o artista coloca em tudo o que faz algo que caracterize Portugal. Desde os provérbios às expressões usadas no dia a dia. Uma das peças presentes na exposição apresenta um homem de cara escondida. Vários dedos apontam para ele, como se fossem a própria consciência ou alguém que o acuse de algo. Há ainda várias setas na direção do homem. E a expressão “já te tenho dito que não é bonito”.

mario belem, exposição,

“Já te tenho dito que não é bonito”

“Não pescas nada” e “já fostes” são outras das expressões usadas nos trabalhos que apresenta. São quinze obras em que cada uma tem uma expressão associada, tanto quadros, como esculturas em madeira – que é a grande novidade desta exposição. “As ilustrações que já tinha feito, como as gravuras, demoram uma semana a serem produzidas. Já as esculturas em madeira demoram duas a três semanas”. Esta exposição representa um salto qualitativo, “porque tenho a plena noção que passei para outra dimensão”, conta Mário Belém.

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O jogo de cores, o jogo de expressões, a perda familiar. Está tudo incluído na arte que Mário Belém criou ao longo destes dois anos. Dois anos, desde a última exposição em 2013, que serviram para pensar e concretizar. “Tive necessidade de refletir sobre tudo isto”, diz.

mário belém,

Mário Belém

Para criar, o artista gosta “de pensar a escrever antes de começar a desenhar. A ideia fica definida e depois é mais fácil de executar”.

Começou a desenhar muito novo. Seis meses no curso de arquitetura que odiou, um curso de design gráfico, trabalhos para agências de publicidade e trabalhos de freelancer mal pagos. Passou do “desenhar no computador” para os desenhos de grandes dimensões e à mão. Reinventou-se no desenho e está agora a colher os frutos da grande luta que travou ao longo destes anos e continua a travar. “Estamos sempre aprender. Ainda agora tive que aprender a pintar como os miúdos na escola.”

O objetivo agora é conseguir que o trabalho seja reconhecido lá fora. “Sei que é um processo que leva o seu tempo mas há que lutar por isso”, reconhece. “Tudo tem de partir de nós”. É essa a ideia que o artista Mário Belém defende. E é por isso que opta por ter a exposição aberta ao público só uma semana. “Quem quiser arranja tempo para vir”, remata.

A exposição de Mário Belém está localizada na Rua Teixeira 39, no Bairro Alto, em Lisboa. Pode ser visitada até dia 18 de abril, entre 14h e as 20h30.