Luxo. A herdade tem mais de 50 hectares, muito espaço verde, segurança e privacidade que atraem todos os que têm pelo menos um milhão de euros no bolso e muitas histórias para contar. Situada em Alcoitão, Cascais, a Quinta Patiño é hoje um dos mais luxuosos condomínios privados, onde vivem perto de 150 famílias milionárias. Mas nem sempre foi assim. Nas décadas de 60 e 70 a quinta pertencia inteiramente a Antenor Patiño, o magnata boliviano do ramo do estanho que se apaixonou pela zona do Estoril-Cascais e mandou construir a mansão que foi palco das mais badaladas festas de Hollywood na vizinhança de Lisboa. Por lá passaram o mais alto jet set nacional, mas também nomes como Gina Lollobrigida, Zsa Zsa Gabor, Ira de Furstenberg, Audrey Hepburn, Capucine, Gunther Sachs. Very Important People. Esta semana, noticia o Económico, foi por fim vendida a última moradia daquilo que restava do palácio original de Patiño.
Vendida por 12 milhões de euros, por mediação da Sotheby’s International Realty, a moradia de Beatriz de Rivera y Digeon, viúva de Patiño, passa agora para as mãos de um comprador de nacionalidade suíça que, de acordo com o Diário Económico, adquiriu a moradia para fins de habitação particular. São 1.800 metros quadrados de área de construção, inseridos num lote de 23 mil metros quadrados: 15 quartos, várias salas, biblioteca, terraços cobertos, uma extensa área de jardim e uma piscina. Construída na década de 80, trata-se de uma réplica mais pequena do palácio original projetado por Antenor Patiño em 1957, que tornaria célebre a Quinta Patiño.
Beatriz de Rivera y Digeon viveu naquela moradia até 2009, altura em que faleceu já com 99 anos. Anos depois a casa foi posta à venda mas, de acordo com o Económico, todos os interessados acabariam por se afastar devido ao preço do imóvel, tendo sido necessário fazer um trabalho exaustivo de adequação do preço ao valor de mercado. Agora o negócio foi finalmente fechado, pondo-se fim ao reinado da família Patiño na Quinta que tem o seu nome.
O Baile do Século e Salazar na sala de cirurgia
As histórias que circundam a Quinta Patiño são muitas e envolvem a alta sociedade, mas a mais célebre terá sido o dia, em 1968, em que o chamado rei do estanho (porque fez fortuna com minas de estanho e cobre) deu uma festa estrondosa na mansão em Alcoitão, precisamente na mesma altura em que António de Oliveira Salazar era operado de urgência no Hospital da Cruz Vermelha na sequência de uma queda da cadeira.
O Baile do Século levou a Cascais as mais altas celebridade e figuras do Estado Novo, da realeza, aristocracia europeia e da alta finança, assim como algumas das mais deslumbrantes atrizes de Hollywood. Desde Audrey Hepburn a Zsa Zsa Gabor, à estrela francesa Capucine ou à actriz mexicana Maria Félix, ao marido de Brigitte Bardot ou à mulher de Yul Breyner, passando pela antiga imperatriz Soraya, Henry Ford, alguns Palavicini, Rockfellers, Rothschilds ou Niarchos.
Antenor Patiño recebeu nessa noite, vestido com um smoking branco, um total de 1700 convidados. Enquanto isso, noutro lado da cidade de Lisboa, uma equipa de neurocirurgiões tentava tratar a hemorragia cerebral de que Salazar sofrera na sequência da queda, um mês antes. Entre os corredores do hospital e os enormes salões de baile de Cascais, esta dicotomia tornou aquele dia de setembro o dia em que o regime se dividiu algures entre a celebração e ostentação de um dos lados do poder e a falência e decadência do outro.
Antenor Patiño acabaria por morrer em 1982 e nessa altura a viúva Beatriz decidiu vender a restante quinta de 50 hectares ao Grupo Espírito Santo, ficando apenas com a moradia de 23 mil metros quadrados que agora foi vendida. O Grupo Espírito Santo acabaria por transformar a quinta do magnata boliviano no maior condomínio de luxo da zona de Lisboa, mantendo o mesmo nome: Quinta Patiño. Ainda hoje o condomínio aloja famílias ricas de portugueses, brasileiros, alemães, angolanos, sendo que a maior parte são empresários, gestores, ex-políticos, banqueiros ou advogados.
Em 2009, um artigo do Expresso sobre esta autêntica “aldeia de luxo” dava conta de que viviam na Quinta Patiño nomes como Diogo Vaz Guedes, da Gespura, Vasco Rocha Vieira, último governador de Macau, Manuel Dias Loureiro, ex-ministro da Administração Interna, Nuno Vasconcellos, líder da Ongoing, Stefano Saviotti, dono do grupo de hotelaria D. Pedro, Simão Sabrosa, ex-jogador do Benfica, José Maria Ricciardi, do BES, Simões de Almeida, do grupo hoteleiro Villa Galé, ou João Rendeiro, ex-BPP.