O dia já vai longo, mas nem por isso é seguro dizermos que temos mais respostas do que perguntas nesta fase. Fica aqui um apanhado daquilo que se sabe e de tudo o que ainda está por apurar no desastre do voo MS804 da EgyptAir, que voava entre Paris e o Cairo.

O que sabemos

• Morreram 66 pessoas. O voo da EgyptAir caiu às 1h30 de Lisboa ao largo da costa egípcia depois de partir de Paris com destino ao Cairo. Entre as vítimas, 56 eram passageiros e 10 faziam parte da tripulação. A maior parte das vítimas são cidadãos egípcios — um total de 30. Outros 15 são franceses. E também há uma vítima portuguesa a lamentar: trata-se de João Silva, um engenheiro civil de 62 anos que trabalhava para a Mota-Engil na África do Sul.
• Começou uma investigação. Embora ainda não sejam conhecidas as causas do desastre aéreo, as autoridades egípcias e francesas já começaram a investigar o sucedido. Em França, procura-se perceber o que é que se terá passado no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, de onde partiu o avião. No Egito, será necessário perceber o que terá causado a queda do avião. O Presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, ordenou que fossem destacados “todos os meios necessários para encontrar os destroços do avião”. As autoridades gaulesas enviaram três peritos para o Cairo no sentido de ajudarem os colegas egípcios na investigação. De igual forma, os EUA já fizeram saber que estão dispostos a cooperar. A Grécia também está a cooperar nas buscas pelos destroços.
• O avião deu “guinadas bruscas” antes de cair. Quem o disse foi Pannos Kamenos, ministro da Defesa da Grécia. Segundo o responsável grego, o avião fez uma curva de 90 graus para a esquerda ao mesmo tempo que caiu de uma altitude de 37 mil para 15 mil pés. Depois, girou 360 graus para a direita.

O que nos falta saber

• É atentado ou acidente? É talvez a pergunta mais pertinente. Mas ainda não há resposta conclusiva. Ainda assim, o ministro da Aviação Civil do Egito disse numa conferência de imprensa que “se analisarmos a situação, a possibilidade de ter sido um ataque terrorista é maior do que a possibilidade de ter sido um problema técnico”.
• Se foi um atentado, quem são os responsáveis? Até agora, nenhum grupo terrorista reivindicou a autoria do desastre aéreo que vitimou 66 pessoas. A tese de atentado está a ser considerada pelas autoridades, mas, como já foi dito, ainda não é certa. Seja como for, a reivindicação por parte de um grupo terrorista não é prova, por si só, de estarmos perante um atentado terrorista.
• Onde estão os destroços? Até agora não se sabe — mas houve alturas em que se pensou saber. Explicação: numa fase inicial, os media gregos começaram a avançar a informação de que tinham chegado destroços do avião que fazia o voo MS804 à ilha de Karpathos. Depois disso, seguiu-se uma onda de confirmações e contradições, muitas vezes por parte das mesmas entidades. Já no final deste dia, eis o ponto da situação: chegaram destroços à ilha de Karpathos, mas as autoridades gregas e egípcias declararam que estes não pertenciam ao avião desaparecido. O vice-presidente da EgyptAir começou por dizer que se tinham encontrado destroços, mas depois disse o seu contrário. O avião era azul e branco e os destroços que deram à costa tinham outra cor.

O vice-presidente da EgyptAir voltou atrás nas declarações que tinha feito há horas à CNN e agora sublinha que os destroços encontrados na ilha de Karpathos não são do voo MS804.

“Acceitamos a correção, porque aquilo que identificámos não é uma peça de um avião”, disse Ahmed Adel à CNN.

"We stand corrected on finding the wreckage because what we identified is not a part of our plane," says EgyptAir Vice Chairman Ahmed Adel

— Ram Ramgopal (@RamCNN) May 19, 2016

De acordo com a Reuters, o Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, ordenou a várias entidades e órgãos públicos do país, entre elas o Ministério da Aviação Civil e a marinha, que fizessem “todos os meios necessários para encontrar os destroços do avião”.

Esta declaração vem dar força à tese de que ainda não foram encontrados os destroços do voo MS804.

A candidata nas primárias do Partido Democrata dos EUA e ex-Secretária de Estado norte-americana disse esta tarde à CNN que o desastre aéreo “parece ser um ato de terrorismo”, falou nas “ameaças que nos são colocadas por grupos terroristas” e acha que “isto reforça a necessidade de uma liderança americana”.

Eis a citação completa: “Parece que é um ato de terrorismo. Exatamente como, é claro, ainda estamos para perceber. Mais uma vez isto demonstra de forma clara as ameaças que nos são colocadas por grupos terroristas. [Há] o Estado Islâmico, claro, mas também há outros grupos que têm de ser localizados e derrotados. E eu acho que isto reforça a necessidade de uma liderança americana: o tipo de liderança inteligente e estável que só a América pode providenciar”.

De acordo com o L’Express, o presidente do Comité Grego de Segurança Aérea, Athanassios Binos, disse que os destroços encontrados na ilha de Karpathos não são do voo MS804.

“Até agora, a análise dos destroços encontrados indica que não pertencem a um avião e, no nosso último contacto, o meu homólogo egípcio também me confirmou que ele não conseguiu provar que estes destroços sejam do voo da EgyptAir”, disse.

Enquanto isso, o vice-presidente da EgyptAir continua a falar com a jornalista Christiane Amanpour, da CNN. As declarações de Ahmed Abel apontam no sentido de a queda do avião não ter sido causada por uma falha técnica, indicando que o avião estava “bem e saudável”.

Segundo a jornalista colocou no Twitter, Ahmed Abel diz que “não houve sinais de instabilidade do voo MS804 antes de ele ter caído” , sendo que “todas as verificações de manutenção do avião foram feitas a tempo”.

EXCLUSIVE: #EgyptAir VP tells me “all maintenance checks on the plane had been done on time." Aircraft was technically "fine and healthy"

— Christiane Amanpour (@amanpour) May 19, 2016

EXCLUSIVE: #EgyptAir VP Ahmed Adel tells me there was no distress signal from #FlightMS804 before it crashed. More to come.

— Christiane Amanpour (@amanpour) May 19, 2016

A EgyptAir deixou um comunicado na sua página de Facebook, onde confirma que os destroços do avião foram encontrados perto da ilha grega de Karpathos. Eis o comunicado na íntegra:

“A EgyptAir informa que o Ministério da Aviação Civil do Egito acabou de receber uma notificação oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros que confirma a localização de destroços do avião desaparecido MS804 perto da ilha de Karpathos.

A EgyptAir expressa a sua profunda tristeza às famílias e amigos dos passageiros do voo MS804. Os familiares dos passageiros e a tripulação já foram informados e estendemos as nossas condolências aos afetados.

Entretanto, a equipa de investigação egípcia está em cooperação com os seus homólogos gregos e ainda estão à procura de outros destroços do avião desaparecido.”

Em declarações à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, o vice-presidente da EgyptAir, Ahmed Abel, confirmou o que já tem sido avançado nas últimas horas: “Encontrámos os destroços”. As declarações surgem não muito tempo depois de a conta de Twitter da companhia aérea ter dito que as notícias que apontavam nesse sentido estavam erradas.

Quanto às causas do desastre aéreo, Ahmed Abel não avançou mais informações: “Há tantas razões para um avião poder cair do céu e despenhar-se. Nesta altura não temos nenhuma explicação. Precisamos de investigar mais”.

Uma fonte das autoridades francesas disse ao The Telegraph que neste momento estão a ser analisadas as imagens de vigilância do aeroporto de Charles de Gaulle para se entender quem é que teve acesso ao avião que veio a despenhar-se no Mediterrâneo esta madrugada. A mesma fonte disse ainda que “não há confirmação de o avião ter sido atingido por um ataque terrorista, mas a investigação já está a decorrer”.

O jornalista Jonathan Blake, da BBC, colocou uma fotografia no Twitter que mostra dois militares franceses a fazer uma ronda no aeroporto de Charles de Gaulle, em Paris.

Soldiers on patrol at CDG airport in Paris after #egyptair #ms804 flight from here to Cairo crashed last night pic.twitter.com/rBB6gT4ltr

— Jonathan Blake (@blakeyblogs) May 19, 2016

Apesar de o voo MS804 ter partido daquele aeroporto, esta vigilância não se deve necessariamente ao desastre desta madrugada e às suspeitas de terrorismo que têm sido levantadas. Na verdade, desde os atentados de 13 de novembro França vive sob o estado de emergência, o que tem levado a que a segurança de locais públicos tenha sido reforçada com militares. Ainda hoje, o Senado francês votou favoravelmente a extensão do estado de emergência até dia 26 de julho. Assim sendo, vai alargar-se durante o Euro 2016, que terá lugar em França.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, confirmou numa declaração aos media que “os EUA estão a dar assistência nas buscas” pela avião desaparecido. Sobre as razões do acidente, o chefe da diplomacia de Washington D.C. preferiu dizer que não tem “mais conhecimento do que outros no que diz respeito a esses factos”.

A fechar a sua declaração curta, expressou as suas condolências, dando especial atenção ao Egito e ao passado recente de incidentes com aviões vividos naquele país: “Enviamos as nossas condolências para cada um dos países que perderam pessoas, em especial para o Egito, que tem feito várias esforços nos últimos meses para se afastar dos últimos eventos”.

A Egypt Air está a negar as notícias que apontava para que destroços do avião terem dado à costa — as informações, que começaram a surgir nos media gregos, davam conta de pedaços do avião terem chegado à ilha grega de Karpathos.

Eis o que a companhia aérea escreveu no Twitter: “Em relação à informação transmitida por vários canais de televisão sobre terem sido encontrados destroços da aeronave egípcia desaparecida, a EGYPTAIR contactou as autoridades responsáveis, que disseram que não confirmavam esta informação”.

With reference to the information aired by several TV channels about finding wreckage of the missing Egyptian aircraft /1

— EGYPTAIR (@EGYPTAIR) May 19, 2016

EGYPTAIR has contacted the concerned authorities which did not confirm this information. /2

— EGYPTAIR (@EGYPTAIR) May 19, 2016

O jornalista da Associated Press Raphael Satter deu conta do voo MS800, que é o primeiro a voar entre Paris e o Cairo desde a queda do MS804, na madrugada de quinta-feira. Segundo o mesmo jornalista, os passageiros deverão ser familiares das vítimas do desastre aéreo que matou 66 pessoas.

MS800 – 1st #EgyptAir flight from Paris since crash – is boarding. Passenger's families are thought to be aboard. pic.twitter.com/ClAJWO69zS

— Raphael Satter (@razhael) May 19, 2016

Entretanto, a Al Arabyia está a avançar que a liderança da investigação do desastre aéreo caberá às autoridades egípcias. Os EUA também já disseram que estão disponíveis para assistir o Cairo nesse processo. Em França, também já decorre uma investigação para apurar as causas da queda do voo da Egypt Air.

BREAKING: #Egypt will lead the inquiry in the investigation of the #EgyptAir plane crash with #Fance https://t.co/y8SL7m47qv

— Al Arabiya English (@AlArabiya_Eng) May 19, 2016

Donald Trump recorreu ao Twitter para comentar o desastre aéreo do voo MS804 da EgyptAir, ocorrido na madrugada de quinta-feira.

“Parece [que é] mais um ataque terrorista. O avião partiu de Paris. Quando é que nós vamos ser duros, inteligentes e vigilantes? Tanto ódio e malvadez!”, escreveu o presumível candidato do Partido Republicano nas eleições de 8 de novembro.

Looks like yet another terrorist attack. Airplane departed from Paris. When will we get tough, smart and vigilant? Great hate and sickness!

— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 19, 2016

Horas antes, o ministro egípcio da aviação civil, Sherif Fathy, reconheceu a hipótese de a queda do avião ter sido provocada por um ato terrorista: “Se analisarmos a situação, a possibilidade de ter sido um ataque terrorista é maior do que a possibilidade de ter sido um problema técnico”. Ainda assim, Fathy também fez questão de sublinhar que ainda era cedo para tirar conclusões.

O comandante de um barco partilhou a imagem daquilo que pode ser um destroço do voo MS804.

“Encontrei um colete salva vidas e destroços da uma cadeira do avião”, escreveu na publicação.

Ship captain involved in search for #MS804 posts pictures of possible debris https://t.co/aaK2c6zfy8 pic.twitter.com/MiVvVSfUcj

— Eliza Mackintosh (@elizamackintosh) May 19, 2016

A reunião de líderes europeus prevista para esta sexta-feira, que iria juntar o primeiro-ministro António Costa, com os primeiros-ministros Matteo Renzi (Itália), Alexis Tsipras (Grécia), Bohuslav Sobotka (Républica Checa) e Stefan Lofven (Suécia), foi cancelada. O presidente da república de França, François Hollande também estaria presente.

Na reunião seria discutida a crise dos refugiados e o Brexit.

Se for atentado, ainda ninguém o reivindicou. O que se sabe é que o Estado Islâmico tem uma agência de notícias a operar no seu território — Amaq — e que estabeleceu um protocolo exigente para os casos de reivindicações de atentados terroristas. Isto é o que conta o jornalista do The Telegraph em Beirute, Josie Ensor, que lembra ainda que o grupo jihadista demorou várias horas a reivindicar o atentado ao avião russo Metrojet, em outubro de 2015.