De pioneira da história da aviação no mundo árabe e africano a vítima das consequências da Primavera Árabe. A companhia aérea EgyptAir volta esta quinta-feira às manchetes dos jornais após o desaparecimento de um avião, enquanto atravessava o mar Mediterrâneo numa viagem esta madrugada entre o Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, e o Aeroporto Internacional do Cairo, no Egito. Havia 66 pessoas a bordo deste Airbus 320, uma delas um português de 62 anos. Se a morte destes 56 passageiros e dez tripulantes se confirmar, o número de vítimas que mancham a história da EgyptAir aumentará para 678.

Em 83 anos de vida — o primeiro voo da EgyptAir aconteceu em julho de 1933, menos de um ano depois de a empresa ter sido criada –, esta companhia aérea já assistiu a quinze acidentes de aviação. Apenas um deles vitimou menos de 20 pessoas, tendo o mais mortífero provocado a morte de 217 a 31 de outubro de 1999.

O desastre desta quinta-feira foi o terceiro incidente em apenas sete meses. A 29 de março deste ano, Seif Edin Mustafa sequestrou um avião que fazia a rota entre Alexandria e Cairo. Munido com um cinto de explosivos, que afinal era falso, Mustafa conseguiu desviar o avião para o Chipre, onde veio a aterrar e a libertar os passageiros ao fim de várias horas de negociações. Tinha duas exigências: conversar com a ex-mulher, residente no Chipre, e a libertação de presos políticos egípcios. Horas depois do incidente, começaram a surgir várias selfies nas redes sociais entre Mustafa e os passageiros do avião.

No final do ano passado, a EgyptAir teve problemas após um acidente a 31 de outubro com um avião da companhia aérea russa MetroJet. Nesse dia, um avião despenhou-se na península do Sinai quando uma bomba caseira produzida pelo Estado Islâmico rebentou a bordo. Morreram 224 pessoas. O acidente levou vários países a imporem restrições nas rotas no Egito por motivos de segurança. A Rússia foi mais longe e proibiu a companhia aérea EgyptAir de sobrevoar o seu espaço aéreo, depois de suspeitas de que um mecânico da empresa tinha um primo no Estado Islâmico. O turismo egípcio, uma das principais fontes de rendimentos para o país, tem estado mais sufocado desde essa altura.

Se em 2008 a EgyptAir deu um grande passo em frente ao entrar na Star Alliance — a maior rede da aviação comercial, formada também pela Lufthansa, United, Copa, Avianca e TAP –, passados três anos teve de aprender a atravessar as consequências da Primavera Árabe. Esta companhia aérea tem cerca de oitenta aviões, a maior parte do tipo Airbus ou Boeing, e com menos de dez anos. Mas desde 2011 que o tráfego normal dos aviões da empresa diminiu para metade. Cinco anos de agitação política no Egito obrigaram a companhia aérea a valorizar a empresa de outro modo: através da modernização da frota nos próximos anos. De acordo com o comunicado de Sherif Fathi, ministro da aviação egípcio, o número de aviões da EgyptAir deve chegar aos 105 já em 2021.

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