“Como é que se chama este gajo?” Na metade superior do longo relvado que fica de frente para o palco NOS, o principal do Primavera Sound do Porto, a pergunta ouviu-se no público. Curiosamente, foi feita por alguém que ia dançando ao som do hip hop de A$AP Rocky enquanto o rapper americano (de 29 anos) iniciava o seu começo fulgurante de concerto. Não seriam precisos muitos minutos para que a autora da questão rumasse a outras paragens, pouco convencida com o que ouvia. É por isso provável que não tenha visto A$AP Rocky mostrar nos ecrãs o sutiã de uma fã e convencer o público a fazer um mosh pit.

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Nascido no Harlem, em Nova Iorque, A$AP Rocky (que na verdade chama-se Rakim Mayers) começou por integrar o coletivo A$AP Mob, um conjunto de jovens artistas do bairro de Manhattan. O crescimento a solo começou em 2012, quando A$AP editou o primeiro álbum, Long. Live. ASAP. A notoriedade foi crescendo nos últimos anos, a dimensão dos palcos em que atua foi aumentando e assim se explica que, acabado de editar o seu terceiro álbum, Testing, tenha sido um dos cabeças de cartaz desta sétima edição do NOS Primavera Sound.

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Foi precisamente pelo álbum novo que A$AP Rocky iniciou o concerto. Vestindo umas calças largas amarelas e uma sweatshirt preta (que despiria mais à frente), surgiu em palco poucos minutos depois da hora esperada (0h45) e arrancou logo com um trio de canções novas, “Distorted Records” (que também abre o novo disco), o bem sucedido single “A$AP Forever” (onde canta que pôs “Nova Iorque no mapa”) e “Kids Turned Out Fine”, que acaba com A$AP Rocky a dizer que está tudo bem, vai “fazer uma linha e perder a cabeça”. A temática é-lhe cara: logo de seguida, ouvir-se-ia “LSD”, mais uma canção em que aborda sem pudor o consumo de droga.

Com um grupo alargado de indefetíveis junto ao palco, que não parou de saltar durante todo o concerto (além de lhe atirar roupa interior e oferecer um mosh pit), A$AP Rocky foi rimando, ocasionalmente à capella, mostrando os dentes metalizados às câmaras, pedindo repetidamente barulho ao público. Quem esteve presente no segundo dia do NOS Primavera Sound por sua causa (e não foram poucos) não saiu desiludido. Mas a A$AP Rocky, dono de uma voz perfeita para baladas e refrões soul e dono de um flow temível na difícil arte de rimar, faltou aquilo que também faltou por exemplo ao rapper Future quando o Super Bock Super Rock apostou nele: transversalidade.

A capacidade do rapper em apelar a diferentes públicos é reduzida, particularmente quando a sua música se ouve ao vivo e as criativas soluções sonoras que se ouvem nos seus álbuns (em especial o último, um trabalho de elevada qualidade dentro dos critérios deste género musical) deixam de ofuscar a sua pose e discurso (ainda?) pouco interessante. Para muitos, o concerto foi mais do que suficiente para fazer a festa e a agitação punk deu algum calor à noite. Ainda assim, como era um cabeça de cartaz, A$AP Rocky tem de levar um “insuficiente” como nota final.