“God is a Woman” ou “Deus é uma Mulher”. Quem o diz é Ariana Grande no novo single que conta já com mais de 24 milhões de visualizações no YouTube. Depois das mensagens ocultas na música “This is America”, de Childish Gambino, sobre o racismo e violência nos Estados Unidos, a cantora de 25 anos apresentou como que um “poema visual” quando lançou a música, a 13 de julho. Há vários símbolos e significados, mas a mensagem principal é, sem dúvida, o poder da natureza feminina, que é uma constante ao longo de todo o vídeo:

São quatro minutos e um segundo que querem refletir sobre o papel da mulher na sociedade e durante os quais a cantora protagoniza várias cenas. Ao mesmo tempo, explora tanto a sua sensualidade, como também a criatividade. O single da cantora americana antecipa aquele que será o seu quarto álbum, Sweetener, cujo lançamento está previsto já para agosto deste ano.

Energia feminina como centro de tudo

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Em pleno cosmos, é assim que Ariana Grande aparece logo no começo do vídeo. Ou melhor, no centro do cosmos. Com os seus movimentos de cintura, a cantora condiciona o ritmo, mostrando que ela e todas as mulheres conseguem dominar aquilo que as rodeia. À medida que a música corre, o plano afasta-se e podemos perceber que a cantora está a pisar, de forma firme, o planeta Terra. Ela domina aquilo que se passa à sua volta.

O começo é, logo à partida, a premissa para o que se segue: uma homenagem ao papel da mulher na sociedade. No fundo, “God is a Woman” é um retorno às forças universais femininas e enfatiza as mulheres como o único meio de subsistência, como mãe e amante do mundo.

Uma homenagem à anatomia feminina

Aqui vemos Ariana Grande a nadar naquilo que parece ser uma mistura de vários tons de tinta. Na verdade, a cantora está a “nadar” no meio de algo com a forma de uma vagina. A cantora, que celebra aqui a mulher, não deixou de fazer uma homenagem ao sexo, através de uma referência à obra “Flowers of Life II”, da pintora americana Georgia O’Keefe, conhecida pelo seu trabalho focado nos detalhes de flores. Se dúvidas havia sobre o verso que diz “deita-me e vamos rezar”, a flor de O’Keefe, que foi pintada como uma metáfora para a anatomia feminina, parece esclarecê-las. Sim, a cantora está mesmo a falar de sexo.

A criação de vida também é abordada na canção. Enquanto canta “Boy, if you confess, you might get blessed/ See if you deserve what comes next” (uma referência ao ato sexual), Ariana Grande caminha por entre flores e plantas e leva-nos a um resultado final: a uma gravidez (algo “abençoado”, tal como a letra nos diz).

Uma homenagem a Afrodite?

Há quem diga que esta imagem representa uma homenagem a Afrodite a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade, responsável por perpetuar a vida, o prazer e a alegria. Segundo a mitologia grega, Afrodite terá nascido dos órgãos genitais de Urano, que foram atirados ao mar. Da espuma, ergueu-se então a deusa do amor. A espuma está presente no vídeo, mas, ainda assim, não é claro sobre se será efetivamente uma referência a Afrodite.

Uma referência à violência verbal

Uma das imagens mais fortes surge quando se abre um livro e a jovem cantora aparece sentada à semelhança da estátua “O Pensador”, do francês Auguste Rodin, que retrata um homem em meditação, a lutar contra uma poderosa força interna, e que representa o pensamento e o intelecto. Ariana Grande permanece, assim, quase indiferente aos insultos de um grupo de “pequenos” homens, que lhe gritam palavras como “puta”, “falsa”, “cabra” e “burra” sem qualquer motivo.

Quando as palavras quase “tocam” Ariana, acabam por fazer ricochete. Resultado? Os insultos não a afetam porque ela é mais forte que eles, acima de tudo porque é mais inteligente, tal como “O Pensador”. Aqui há uma clara referência à violência verbal a que a mulher está submetida, qualquer que seja a situação: quando intervém, quando opina, quando atua. No fundo, mostra que por vezes as mulheres têm de fazer “ouvidos moucos”.

Um brinde à diferença

Em muitas comunidades, a mulher é ainda muitas vezes ensinada a ser subserviente e semelhante “às outras” mulheres que a rodeiam, quase como se fosse a única forma de se fazerem notar. Ariana Grande mostra-nos o contrário: que há que ser diferente. Porque é essa diferença que vai fazer com que as mulheres se destaquem efetivamente. O contraste entre ela e “as outras” é evidente, já que é a única que se encontra com uma roupa diferente, vistosa e virada de frente para quem observa.

As teorias sobre estas mensagens são muitas e há mesmo quem diga que esta imagem significa que quando “o mundo” virar as costas às mulheres, Ariana Grande estará lá, qualquer que seja a circunstância.

O poder e vigor da mulher

A mensagem de que a mulher tem dentro de si uma enorme força é subjacente a toda a canção e aparece mais uma vez recorrendo à mitologia grega. Quando Ariana Grande surge como parte integrante de Cérebro, — o monstruoso cão de três cabeças que, segundo a mitologia, guardava a entrada do mundo subterrâneo dos mortos, deixando que as almas que entrassem jamais saíssem –, é feito um paralelo com o poder das mulheres. A própria letra diz isso mesmo: “When you try to come for me, I keep on flourishing” (qualquer coisa como, “quando tentas atacar-me, continuo a florescer”).

E a mulher é tão poderosa que chega a ser capaz de criar “desastres naturais”. Aqui, a cantora aparece no topo do planeta Terra e através do toque consegue fazer com que haja alterações climáticas, quase como se conseguisse controlar o aparecimento de um furação, de um tsunami ou de uma tempestade ao recorrer apenas a uma das suas mãos.

Rómulo e Remo

De gatas e com um macacão de licra sem costas e de cor bege, Ariana Grande está acompanhada por três homens (outra vez em tamanho miniatura), numa cena em que quase parece estar a ser ordenhada, como se de um animal se tratasse. Aqui há novamente uma relação com a mitologia grega, mais precisamente com a lenda de Rómulo e Remo, que foram abandonados na margem do rio Tibre e encontrados por uma loba que os amamentou. Aqui, Ariana Grande representa a loba, mais uma vez enaltecendo as características da mulher, que lhe permitem desempenhar o papel de mães.

Uma homenagem a Madonna

Numa outra cena, a cantora aparece armada da cabeça aos pés e com aquilo que parece ser um martelo. Justiça é o significado deste momento. A partir daí, aparece um monólogo de Madonna — a quem a jovem cantora já fez uma homenagem ao utilizar um sutiã parecido ao sutiã em forma de cone utilizado pela diva da pop –, onde esta recita uma passagem das escrituras, mais precisamente Ezequiel 25:17 (a mesma que é utilizada em “Pulp Fiction”).

“E eu atacarei com grande vingança e raiva furiosa aqueles que tentem envenenar e destruir as minhas irmãs. E vais saber que o meu nome é Senhor, quando a minha vingança cair sobre ti.”

Quando a leitura termina, a cantora lança o martelo ao ar, que bate no teto do edifício acabando por parti-lo: é uma metáfora à famosa frase “todos temos telhados de vidro“. Enquanto canta entre duas gigantes pernas abertas, aparece uma luz brilhante, quase como se de uma luz criadora se tratasse, e pode observar-se a inscrição “Power” nas luvas que Ariana Grande tem vestidas.

“Deus é uma mulher”

A imagem final é talvez a mais icónica, naquela que é uma clara referência à obra “A criação de Adão”, de Miguel Ângelo, que, por sua vez é uma representação do episódio do Livro do Génesis em que Deus criou o primeiro homem: Adão. Na pintura original, Deus é representado por um homem barbudo que estica o seu dedo para Adão, de forma a poder dar-lhe vida, contudo, aqui o cenário é exatamente o oposto. No lugar de Deus, aparece Ariana Grande, que estica o seu dedo para uma Eva negra (e não Adão). Ao que parece, aqui, “God is a Woman” ou “Deus é uma mulher” — neste caso, Ariana Grande.