Já se passaram dois meses desde a última edição da Lisboacon. Num novo local, apinhado de visitantes e de jogos de tabuleiro para todos os gostos, acabámos por ter pouco tempo para visitar algumas das bancas de editoras e distribuidoras portuguesas que lá marcaram presença. Em passeios familiares, acabam por ser os filhos a ditarem muito do itinerário e o nosso acabaria por ficar quase exclusivamente dedicado à editora portuguesa outrora conhecida como MESAboardgames e que, agora, assina como MEBO Games.

Esta atenção dos mais pequenos não é por acaso: grande parte do catálogo da editora de Alcabideche é dedicado a um mercado familiar, com jogos para todas as idades, dos mais pequenos, que dão os primeiros passos nos jogos de tabuleiro, aos adultos mais experientes. Depois de experimentarmos uma mão cheia de novos títulos, acabaríamos por sair do evento com uma série de jogos comprados e que viriam a ser o grande entretenimento caseiro das férias de Verão.

Cobras e Escadas 3D

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Cobras e Escadas é um dos jogos de tabuleiro mais conhecidos e mais reinterpretados de sempre. Não há ninguém que não o tenha jogado pelo menos uma vez na vida. Originário da Índia, este jogo servia como uma parábola à vida, na qual os nossos sucessos e infortúnios não dependem das nossas ações, mas apenas da sorte. Contudo, não foi com esta visão de lição filosófica que a edição única do jogo clássico nos prendeu em muitas jogadas, mas sim com uma estrutura de cartão colorida e com vários pisos sobrepostos.

A versão tridimensional do jogo acaba por ser uma excelente porta de entrada para os mais pequenos e para o funcionamento de um jogo de tabuleiro. Sem quaisquer requisitos de leitura, Cobras e Escadas 3D é uma boa ferramenta para a introdução da contagem dos números dos dados e das respetivas casas que o nosso peão tem de andar, com um sistema divertido de rampas e escadas que transformam o tabuleiro numa pirâmide com diversos andares. Esta versão é a única que conhecemos na qual cair das últimas casas para as primeiras acaba por ser relativamente divertido, já que a nossa esfera desliza por uma rampa que atravessa o jogo todo.

Spaghetti

Criado por Michał Gołębiowski e ilustrado por Bartłomiej Kordowski, Spaghetti é um jogo que tem hoje um apelo semelhante àquele que o clássico Mikado teve connosco há alguns anos. Este é um jogo de destreza onde as crianças podem desenvolver a sua motricidade fina, já que o grande objetivo é conseguir “comer” a massa toda sem sujar a mesa.

O tabuleiro de Spaghetti é uma pequeno prato de cartão, no qual dispomos os esparguete (atacadores de várias cores) e as almôndegas (que são bolas de ping-pong castanhas). No seu modo mais simples (tem três maneiras diferentes), cada jogador tem de desentrelaçar e retirar os fios de esparguete sem derrubar nada para fora do prato, dentro de um tempo limite.

O setup de jogo de Spaghetti é muito rápido, assim como as suas partidas, tendo se tornado num ótimo exemplo de um jogo familiar para janelas curtas de jogo, com a adenda de que os mais pequenos vão treinando a destreza manual de uma forma divertida.

A Floresta Misteriosa

Desenvolvido originalmente sob o título The Mysterious Forest por Carlo A. Rossi, A Floresta Misteriosa é um jogo cooperativo de memória baseado na banda-desenhada The Wormworld Saga, de Daniel Lieske, cuja arte acompanha o jogo.

A Floresta Misteriosa é um excelente jogo de memória disfarçado de jogo de aventura, indicado para aventureiros de palmo e meio. Todos os jogadores cooperam para conduzir Jonas, o protagonista aventureiro, a conseguir recolher os itens necessários para percorrer todos os perigos da floresta. No início do jogo, são escolhidas de forma aleatória várias cartas que corresponderão à jornada de Jonas. No verso de cada uma, há uma indicação dos objetos necessários para ultrapassar os perigos da carta e todos os jogadores precisam de memorizar o conteúdo de todas as cartas antes da partida começar. A partir daí, todos colocam a sua memória a trabalhar em conjunto para encher a mala de viagem de Jonas com espadas, bússolas, amuletos, pensando sempre no número e tipo de objetos para resolver os pedidos de todas as cartas.

A grande mais-valia deste jogo é o treino de memória que possibilita. Vão ser muito frequentes as dúvidas, tais como: “Mas, afinal, quantas espadas é que precisamos?”. O curioso é que as dúvidas nos levam invariavelmente a perceber que as crianças têm muito melhor memória do que nós.

A Nossa Casa

A Nossa Casa (Dream Home no original), desenvolvida pelo designer polaco Klemens Kalicki, foi sem sombra de dúvida a nossa grande companhia dos serões neste Verão, e um dos nossos jogos familiares/casuais favoritos. O jogo é estrategicamente tão simples e divertido que acabámos por comprar logo a expansão (que ainda não existe em Português) chamada 156 Sunny Street, e que adiciona novas mecânicas e novas formas de o complexificarmos.

Apesar de ter uma idade recomendada para crianças com mais de 7 anos ,pela ligeira necessidade de leitura, sentimos que facilmente conseguimos jogar A Nossa Casa com crianças mais novas se estas já tiverem algum desembaraço com jogos de tabuleiro. O texto é mínimo e consegue ser facilmente explicado por um adulto, para além de que o grande centro do jogo é explanado através de cores e ícones nas cartas. Os quartos de dormir são cartas roxas, as casas-de-banho têm a cor azul clara e por aí fora. Se os vossos filhos sonham acordados pelos corredores dos IKEA, ou aspiram a serem arquitetos, designers de interiores ou mesmo empreiteiros, esta é a prenda perfeita.

Neste jogo competitivo a nossa tarefa é simples: cada jogador tem um cartão com um corte frontal de uma casa com 2 pisos e uma cave. Através da “construção” de divisões na casa vamos tentando criar bónus de “habitabilidade” e construção, para no fim, através das tabelas de pontuações, percebermos quem é o vencedor. A Nossa Casa é um jogo simples que é tão fácil de compreender, de montar, como de jogar e um dos melhores exemplos de jogos familiares mais “suaves” que podem facilmente entreter em partidas com os filhos à mistura ou em noite de jogos de tabuleiro com jogadores mais competitivos e aguerridos.

Viral

“Há algum médico na sala?”, perguntamos. “E um vírus mais ou menos mortífero, existe algum?” Estas são perguntas perfeitamente plausíveis, se estiverem prestes a abrir a caixa deste jogo português. Desenhado pelos designers António Sousa Lara e por Gil D’Orey, Viral é um jogo destinado a um público acima dos 10 anos, pela complexidade estratégica e temática, assim como a ligeira necessidade de leitura que o jogo tem.

Em Viral, cada jogador controla um vírus que tenta ludibriar o sistema imunitário humano, ao mesmo tempo que quer atingir uma grande dispersão sistémica. Visualmente divertido e com uma iconografia bastante explicativa do decorrer dos turnos e das várias etapas e fases de jogo, Viral é muito mais simples de se jogar do que aparenta à primeira vista. A “barra” de entrada, complexidade e compreensão das regras parece muito mais difícil do que acaba por se revelar e só a meio a primeira partida é que os jogadores vão compreender em pleno todas as possibilidades táticas que têm.

Com ideias curiosas de jogo, nomeadamente a forma de movimentação ser feita por corrente sanguínea entre órgãos, este é dos jogos que jogámos neste Verão aquele que não está destinado aos mais pequenos. Grande parte dos turnos passam por antecipar os órgãos onde os nossos concorrentes irão “atacar”, já que só pontuamos quando temos a maioria de presença em órgãos.

Este é um ótimo jogo para uma compreensão mais “leve” e humorística do funcionamento do sistema imunitário, para além de, numa forma lúdica, ser um bom ponto de partida estratégico para os mais novos, ambientando-os a jogos menos casuais.

Ricardo Correia, Rubber Chicken