Quando saiu, Pratica(mente) foi logo um sucesso, chegando a disco de ouro e vendendo mais de dez mil cópias. A passagem do tempo engrandeceu-o, tornando-o consensual como um dos grandes álbuns do hip hop português e da música nacional nos anos 2000. Desde aí, Sam the Kid dedicou-se a outros projetos coletivos: fundou e gravou discos com a banda de música maioritariamente instrumental Orelha Negra, encetou uma parceria com o rapper Mundo Segundo dos Dealema e concentrou-se na produção de instrumentais. Esta sexta-feira, revelou a sua primeira música a solo como rapper em mais de dez anos. “Sendo Assim” foi partilhada há minutos na plataforma digital de Sam the Kid, intitulada TV Chelas.

O produtor e rapper de Chelas, que gravou discos como Entre(tanto), Sobre(tudo) e o instrumental Beats Vol 1: Amor — além do já referido Pratica(mente) –, foi recentemente alvo de uma homenagem de Valete, que lhe dedicou um tema intitulado “Samuel Mira” (o nome de batismo do músico).

Na plataforma TV Chelas, onde partilhou a canção, Sam the Kid tem estado ativo: lançou um programa de longas entrevistas a referências históricas do hip hop português como Boss AC, Carlão (Pacman), Ace (do grupo Mind da Gap) e o radialista José Mariño, intitulado “Na Mira”, participa com Sir Scratch e João Moura (fundador da plataforma Rap Notícias) num podcast com convidados ligados ao hip hop chamado “3 Pancadas”, revelou vídeos de arquivo de encontros e momentos importantes do hip hop nacional (“Zappin”) e lançou temas inéditos de colaborações suas com outros músicos e rappers.

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Em abril deste ano, Sam The Kid deu uma longa entrevista ao Observador com Mundo Segundo, a propósito da estreia de dois documentários relativos à história do hip hop português e do hip hop do Porto. Aí o rapper de Chelas explicou um pouco a sua ideia acerca de uma frase que se ouve neste novo tema: “Nem tudo é para todos”.

Não há muitas pessoas com quem atualmente possa ter uma conversa profunda a nível de conhecimento de hip hop. Acredito que há muitas pessoas com quem não posso falar de certos grupos — e nem estou a falar de mencionar grupos do passado a adolescentes de agora, estou a falar de conversar com um miúdo que curte Lil Pump mas não sabe quem é o Black Milk. Por isso acho que ainda sinto a mesma excitação quando conheço uma pessoa que digo: OK, este é dos meus. Seja um fã ou um MC. (…) Não há muitas pessoas que sejam nerds da coisa…”

Falando sobre o seu percurso na música nacional, Sam the Kid referiu: “Parece que tenho um preconceito ou um complexo de inferioridade mas não sinto que faça parte da indústria musical portuguesa. Considero-me do hip hop tuga. É engraçado, em certos aspetos não gostamos de estar dentro de uma caixinha mas neste aspeto eu gosto, da mesma forma que visto a camisola de Chelas e não visto a camisola de Portugal. São caixinhas que me dão mais orgulho do que se eu vestir uma camisola generalista que às vezes não é pão nem é queijo. Não, sou hip hop e tenho todo o orgulho nisso”.

Sam The Kid e Mundo Segundo: “Quem diz que trap não é hip hop está a ser Rui Veloso”

Além do seu projeto com Mundo Segundo, que já resultou em vários singles, Sam the Kid está a gravar um disco com o rapper Beware Jack. O projeto chama-se Classe Crua e o rapper de Chelas tem aí um papel de produtor executivo, não apenas compondo os instrumentais mas orientando e trabalhando em parceria com Beware Jack nos versos que este rima.