Quinta-feira, 8 de novembro. A chuva e o frio não demoveram dezenas de fãs da Moschino de fazerem fila à porta da H&M do Chiado, em Lisboa. A cena não é comparável à loucura de 2015, quando a cadeia sueca lançou uma coleção em colaboração com a Balmain. Ainda assim, o aparato foi o suficiente para fazer a diferença na rotina matinal da Rua do Carmo. As portas abriram às 10h, já a equipa da loja tinha distribuído garrafas de águas e bolachas, personalizadas com o logótipo da coleção. Esta é diferente — aos ingredientes Moschino, marca italiana fundada em 1983, e H&M, multinacional que, desde 2004, une esforços com um designer de moda de luxo para produzir peças de edição limitada a preços mais acessíveis, junta-se a personalidade de Jeremy Scott.

Aos 43 anos, o designer ocupa há cinco o lugar de diretor criativo da Moschino. Fez dela um produto pop sem precedentes na história da moda italiana. Nas últimas coleções, Scott não parou de reutilizar ícones, do logótipo da McDonalds e da personagem de animação SpongeBob, nem de reinventar referências, como fez com o perfume Fresh (cujo frasco replicava um limpa vidros) e com a biker bag. Quando convidado a desenhar para a H&M, não foi diferente. “Aconteceu o mesmo com a Moschino — antes de ter sido convidado para ser diretor criativo, nunca me tinha imaginado na marca. Agora, não imagino nenhuma outra pessoa a fazer o meu trabalho. É a coisa certa a acontecer no momento certo”, conta Jeremy Scott ao Observador.

Jeremy Scott fotografado com as gémeas japonesas Aya e Ami

Como não podia deixar de ser, Scott trouxe as suas referências para esta coleção. Disney, MTV, fatos de treino, logos e preservativos, brilhos, malas pequenas e brincos statement — tudo gravita em torno dos anos 90, década em que começou a sua carreira na moda e fundou a sua marca homónima. Esses tiveram tanto de fantástico como de penoso. Em 1996, mudou-se para Paris. Antes de começar a desenhar e a produzir as suas próprias peças, trabalhou com promotor de uma discoteca e chegou a dormir em estações de metro.

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Ainda assim, a atual coleção é uma verdadeira festa. Para o designer, conseguir pôr o seu trabalho ao alcance de quem, normalmente, não consegue comprar peças Moschino é a verdadeira essência da colaboração. “A minha primeira inspiração foram mesmo os fãs. Entusiasmou-me tanto criar uma coleção que alcança tantas pessoas, em tantos países, muitas delas que nunca tiveram possibilidade de comprar Moschino”, admite. Esta quinta-feira, a coleção chegou a dezenas de lojas no mundo inteiro, mas também à loja online da H&M, embora clientes do Reino Unido, Holanda, Bélgica e Espanha tenham reclamado nas redes sociais devido a um atraso de 20 minutos no lançamento da coleção online, previsto para as nove da manhã.

Moschino e H&M: veja as peças da coleção que é uma ode à diversidade (e aos anos 90)

Mas Moschino [tv] H&M vai muito além das 100 peças de roupa e acessórios que Jeremy Scott desenhou para mulheres, homens e cães. A própria campanha e o lookbook são uma ode à diversidade. Gigi Hadid e Stella Maxwell são as estrelas em destaque, mas partilham as atenções com Aquaria, vencedora da 10ª temporada do programa RuPaul’s Drag Race, com as gémeas japonesas Aya e Ami, influenciadoras com 170.000 seguidores no Instagram. Sakura Bready, assistente do próprio Jeremy Scott, também saltou dos bastidores para a frente da máquina fotográfica, tal como Pablo Olea, amigo do designer e diretor de comunicação e relações públicas da Moschino.

Jeremy Scott e Ann-Sofie Johansson

“Acredito que a moda deve ser democrática e isso significa que ela é para toda a gente. A diversidade tem sido o meu mundo desde o início, mesmo nas minhas primeiras coleções nos anos 90. Para mim, a moda sempre foi uma questão de expressão individual e de sermos quem quisermos. Sempre promovi a diversidade. Não é política, é um modo de vida. E é fantástico poder usar a moda para espalhar esta mensagem pelo mundo inteiro”, afirma Jeremy Scott. “Adoramos esta coleção por ela ser tão dirigida a este momento, um momento em que a moda tem a ver com expressividade, confiança, singularidade e diversão”, frisa Ann-Sofie Johansson, consultora criativa da H&M, ao Observador.

Quem começou o dia a partilhar um look com algumas das peças foi Madonna. A cantora mantém uma relação próxima com Jeremy Scott, os dois chegaram mesmo a ir juntos a duas edições da Met Gala, em 2015 e em 2016. Quando questionado sobre a sua peça favorita da coleção, Scott hesita. A resposta acaba por sair e é específica: “é o vestido de pele com fecho dourado, é glamoroso e destemido”. A coleção foi posta à venda esta quinta-feira de manhã e, apesar dos fãs que acorreram à loja do Chiado, ainda há peças disponíveis. Os preços vão dos 9,99€ aos 399€.