O quilograma é a única unidade de medida que ainda é baseada num objeto físico — um pedaço de metal guardado a sete chaves num laboratório de Paris, que define aquilo a que podemos chamar o verdadeiro e original quilograma —, mas a partir da próxima semana isto deverá mudar.
Os cientistas que se dedicam à metrologia, a ciência que estuda as unidades de medida, vão reunir-se em Versalhes a partir da próxima terça-feira e a grande decisão que vão tomar será o fim do quilograma enquanto unidade fixa num objeto físico, segundo explica o jornal britânico The Guardian.
Ao quilograma deverá, assim, acontecer o mesmo que aconteceu às outras unidades fundamentais (o metro, o segundo, a mole, o ampere, o Kelvin e o candela): basearem-se numa constante universal em vez de uma unidade física.
Por exemplo: em tempos, o metro foi definido como um décimo milionésimo da distância entre o equador e o pólo norte — ou seja, dividindo essa distância em 10 milhões de partes iguais, cada um dos segmentos media um metro.
Porém, em 1889, numa grande convenção de cientistas, ficou definido que o metro seria a distância percorrida pela luz, no vácuo, na fração de 1/299 792 458 de segundo. Com esta mudança, o metro deixou de depender de uma medida física e passou a estar baseado numa constante universal (a velocidade da luz), garantindo que o metro nunca muda. É isto que vai acontecer com o quilograma.
Segundo o jornal britânico, a votação na convenção deverá ser um pro forma, uma vez que na comunidade científica reina a ideia de que esta é a decisão correta. Isto porque desde o século XVIII que as várias unidades de medida foram fixadas em objetos físicos que serviriam como medida universal. O metro foi fixado numa barra de metal e o quilograma num peso. O problema é que estas medidas, físicas, também sofrem o desgaste do tempo — mesmo com as medidas de segurança mais apertadas que se possam imaginar.
Até hoje, o quilograma era a única medida a estar fixada num objeto físico. O peso de metal — um pequeno cilindro de metal brilhante — encontra-se dentro de três campânulas de vidro pressurizadas num laboratório da agência internacional de pesos e medidas em Sèvres, nos arredores de Paris. Cada país tem uma réplica do original, que viaja para Paris a cada 40 anos para ser comparada com o original.
O problema de manter o quilograma fixado num objeto físico é que, apesar de tudo, não é impossível que haja pequenas variações na massa daquele pedaço de metal. De cada vez que é tocado, limpo ou mexido há pequenas alterações de microgramas que, a longo prazo, podem fazer a diferença.
A partir da próxima semana, isso deixará de ser um problema. Quando o quilograma passar a ser baseado numa constante fundamental em vez de num objeto físico, deixará de haver alterações inadvertidas à definição do quilograma que é usado em todo o mundo.