Frank-Jürgen Richter já foi um dos responsáveis pelo Fórum Económico Mundial e, nos últimos anos, tem promovido a conferência Horasis, que há três anos decorre em Cascais. Ao juntar líderes e governantes de mais de 80 países, já foi definido como “a Davos do Sul”, mas Richter apelida o evento de forma diferente: “É a Davos dos mercados emergentes”. Este ano o evento tem como tema os benefícios da globalização, mas com uma premissa que pode preocupar: “Vamos ter uma nova crise económica global, a começar no terceiro trimestre deste ano”.
Todos os indicadores apontam nessa direção. Há dois fatores: a tecnologia não é tão promissora e célere como era; e a guerra económica entre os EUA e a China está a fazer todas as empresas perderem dinheiro”, afirma Frank-Jürgen Richter.
Em 2018, em entrevista ao Observador, o organizador da conferência Horasis era mais otimista em relação ao panorama económico (e acertou em relação aos “crashes de bitcoins” que anunciava). Agora, em antecipação do evento, e “com o que se está a passar com o Brexit”, Richter deixa dicas sobre como preparar uma crise inevitável.
“Pode ser como foi em 2008, mas há uma hipótese que seja só uma recessão”, afirma. “É preciso perceber que uma crise vai acontecer e temos de olhar para o nosso sistema bancário, resolver os problemas agora e encontrar os ‘cancros’ nesse sistema”, continua. Fala de uma “crise global”, em que países como Portugal podem ir de arrasto e, apesar do cenário atual, “para o mercado imobiliário isto é preocupante”, finaliza.
Alguma questões políticas atuais já estão a influenciar o evento. Se, no ano passado, o ministro das Finanças do Reino Unido esteve em Cascais, este ano “nem foram feito convites ao governo britânico”. A incerteza do Brexit foi o mote, mas não é por isso que não se vai querer pôr “os ministros que vão estar presentes da Argentina, Dinamarca, Canadá ou Estónia” a falar de como “só as elites estão a ganhar com a globalização e a classe média está a encolher”, afirma.
Num ano em que a conferência de Davos, organizada pelo Fórum Económico Mundial, na Suíça, não contou com a presença de líderes mundiais como Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, Richter quer demarcar a Horasis em Portugal. “A cada ano esta conferência vai ficando maior, já temos centenas de oradores confirmados”, anuncia.
“Já assistimos a um pequeno ‘crash’ das bitcoins e vão acontecer mais este ano”
A ideia é ganhar também impacto no estrangeiro, mas há um medo ao organizar este tipo de conferências: os “protestos”, conta. “Cascais fica só a 40 minutos de Lisboa. Se se fizesse na Baixa de Lisboa, muito provavelmente tínhamos protestos ou pessoas a tentar mandar abaixo a segurança e em Cascais não temos isso, é muito seguro, não vai haver protestos”, assume. “Portugal é um dos poucos países na Europa sem um movimento forte nacionalista ou de extremismos”, diz.
“Desde o ano passado vimos os partidos populistas a crescer e na Polónia ou na Hungria estão a ficar mais conservadores em relação aos migrantes”, mas em Portugal, para o antigo responsável do Fórum Económico Mundial, o caso é diferente.
A conferência que organiza, e que quer continuar a mostrar que “a tecnologia é uma coisa boa para o mundo”, tem como objetivo falar destes temas e pôr líderes mundiais a pensar em “sistemas sociais” que minimizem o impacto que a disrupção tecnológica tem na sociedade. A inovação pode estar a desacelerar, mas há questões em palco, como o blockchain, as criptomoedas e a realidade virtual que, mesmo tendo menos tração, podem ajudar a sociedade.
O Horasis Global Meeting decorre em Cascais de 6 a 9 de abril de 2019, no Centro de conferências, no Hotel Palácio e no Casino do Estoril. Vai acolher mais de “800 visitantes, de mais de 80 nacionalidades”. Em 2018, mais de 600 empresários, governantes e especialistas de todo o mundo estiveram presentes.
Centenas de empresários e governantes reunidos em Cascais para discutir o futuro