Paulo Cunha e Silva, que morreu a 11 de novembro de 2015, foi a personalidade escolhida pela Universidade do Porto como “Figura Eminente” de 2019, uma distinção feita pela instituição anualmente a personalidades eméritas. Ao longo do ano, a universidade propõe-se a celebrar a memória e o legado do antigo vereador da cultura da Câmara do Porto.

Paulo Cunha e Silva teve um percurso ligado à Universidade do Porto. Foi estudante e professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e da Faculdade de Desporto. A instituição justifica a homenagem dizendo que Paulo Cunha e Silva “afirmou-se como um crítico e um influenciador do pensamento de dimensão nacional” pelo papel que desempenhou na cultura e na defesa da criação artística, e pretende agora “dar futuro à obra” do médico, professor de anatomia e dinamizador cultural.

O ciclo da “Figura Eminente” da Universidade do Porto está divido em 16 momentos. O ano “Caosar” foi assim chamado como homenagem a Paulo Cunha Silva, porque segundo a instituição, o antigo vereador da cultura defendia que “o caos é a mais bela assinatura do mundo”.

O primeiro ponto deste ciclo foi inaugurado esta quarta-feira à tarde com a abertura ao público da exposição “À Volta do Ato Médico”, patente até 9 de maio na Reitoria da Universidade do Porto. A mostra recupera uma proposta original que o próprio Paulo Cunha e Silva apresentou à universidade em 2012, e tem como foco a atenção que o médico deve ao doente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A exposição consagra o percurso de Paulo Cunha e Silva tendo por base a sua formação como médico, mas enaltecendo o seu contributo no pensamento contemporâneo e “a marca indelével que deixou na cultura”, como assinalou o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira. Ao longo da mostra que se divide em três categorias “Intervir, Diagnosticar e Monitorizar” as peças relacionadas com o universo clínico, como uma radiografia de uns pulmões, uma cadeira antiga de obstetrícia, um moderno medidor de temperatura do corpo dos visitantes em tempo real, e várias figuras anatómicas, combinam com citações de Paulo Cunha e Silva.

“Um país forte é cheio de artistas fortes e de imagens fortes. A arte é um retrato hiperdenso do mundo. Solar. Sem arte, sem boa arte e bons artistas, o país fica menos luminoso. Menos claro.”

“Os médicos precisam de ser cientistas, mas não terão esse suplemento de olhar, criatividade e de diagnóstico se não forem também artistas.”

Numa mesa redonda que se seguiu à inauguração da exposição, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, afirmou que Paulo Cunha e Silva foi o vereador mais organizado com quem já trabalhou. Alguém que “odiava o improviso” e que era detentor de “uma genialidade organizada”. Recordando alguns momentos que passou com o vereador e amigo, Rui Moreira garantiu que só tomou a decisão de concorrer à Câmara do Porto, em 2013, depois de ter falado com Paulo Cunha e Silva e o ter convidado para com ele iniciar o percurso político. Agora, aberta “a caixa de comprimidos secreta” que Paulo Cunha e Silva deixou aberta, Rui Moreira disse que o que tem feito é “aumentar a dose de cultura” que administra na cidade, mantendo os projetos do antigo vereador ainda vivos.

Paulo Cunha e Silva optou por outros caminhos que não o exercício da medicina, segundo José Barros, porque percebeu que “não encontraria na medicina em meio hospitalar muito daquilo que era já o seu apelo na sociedade e na cidade”. O colega de faculdade do homenageado considera que o amigo poderia ter sido neurologista, tal como José Barros, até pela disciplina que a especialidade implica, mas Paulo Cunha e Silva terá percebido que “não ia ter tempo, nem disponibilidade, nem contactos” para fazer o que veio a fazer, “e depois porque também percebeu que ia ter uma trabalheira tremenda”, contou o diretor clínico do Hospital de Santo António.

O reitor da universidade do Porto, que foi diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, frisou que “os médicos são treinados para tomar decisões”, e que Paulo Cunha e Silva quando se deparava com um problema “observava o problema de vários ângulos e propunha uma terapêutica”, descrevendo a “Figura Eminente” como um pensador que não adiava decisões e que “não tinha problemas metidos na gaveta”.

As celebrações de Paulo Cunha e Silva como figura de destaque da Universidade do Porto vão passar ainda pela Casa Museu Abel Salazar, onde, de 15 de abril a  25 de maio, será recriada a primeira exposição que comissariou, em 1990, intitulada “As cores do corpo”.

Na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto estará patente a mostra “Pensamento. Performance. Conhecimento” a partir de 12 de junho.

Segundo a instituição de ensino superior, as comemorações culminam em novembro e em dezembro, com o lançamento de duas obras sobre o legado e a marca intelectual de Paulo Cunha e Silva: Caosar: Pensamento de Paulo Cunha e Silva, uma compilação de textos inéditos da tese de doutoramento do produtor cultural, além de um número especial da revista da Faculdade de Desporto com o título Paulo Cunha e Silva: entre a indisciplinaridade e a transdisciplinaridade.

A Universidade do Porto pretende ainda criar um “depósito de memórias” sobre Paulo Cunha e Silva, com o objetivo de lançar um site e uma exposição virtual. O processo de candidaturas para o efeito decorrerá de 15 de abril a 30 de junho.